quarta-feira, 3 de junho de 2015

Hot Girls Wanted (2015)


O egocentrismo digital, a cultura do selfie e o mundo ao redor do umbigo são algumas das principais características do mundo atual. Mais do que ser, é preciso parecer ser. Mais do que aproveitar um lugar, é preciso mostrar que esteve lá. Todos esses aspectos levaram a uma espécie de humanização às avessas, e refletem em diversos meios. A publicidade mais e mais mostra marcas que querem se aproximar de seus consumidores retratando situações de suas vidas. O cinema, as séries de TV, exploram a estética dos filmes feitos pelos próprios espectadores como recurso para conquistá-los. O YouTube está repleto de canais produzidos por pessoas como eu e você, e que não ficam devendo praticamente nada ao que chega das grandes emissoras - criativamente, muitos estão milhas à frente.

E é claro que todo esse universo construído em torno do individualismo chegaria à principal paixão proibida do ser humano: a pornografia. Os sites especializados no tema estão repletos de vídeos “caseiros” que mostram o cotidiano de jovens retratados de forma “espontânea”, buscando no dia a dia dessas pessoas uma suposta autenticidade para intensificar o prazer de assistir outras pessoas fazendo sexo. É justamente esse cenário que o documentário Hot Girls Wanted retrata. Lançado no início do ano no Sundance Film Festival, o fime dirigido pela dupla Jill Bauer e Ronna Gradus acompanha a vida de jovens desconhecidas que decidem se aventurar pela pornografia, em vídeos classificados como pro amateur, com toda uma produção profissional trabalhando para alcançar cenas com a estética amadora e de acordo com a cultura selfie.

O documentário apresenta uma série de jovens norte-americanas, e conta a história de cada uma delas. Há a garota que quer sair do interior em busca de grana em uma cidade maior. Há a menina que está curtindo tudo e adora a liberdade que conseguiu. Há a loirinha bonitinha que só transa quando está filmando, e acha estranho fazer o mesmo quando não está na frente das câmeras. São diversas situações peculiares, algumas estranhas, e que mostram o quão complexas são as questões sexuais para cada indivíduo. Um dos aspectos que mais chama a atenção em Hot Girls Wanted é a vida extremamente curta destas garotas no cenário da pornografia. O tempo médio de uma jovem atriz neste universo varia de 4 a 6 meses, período em que filmam entre três e cinco vídeos por semana, recebendo entre 800 e 1.000 dólares por cena. O valor vai subindo conforme a disposição em interpretar temas mais pesados e controversos.

Bauer e Gradus mantém a mão leve durante quase toda a duração do filme, mas derrapam no sentimentalismo exagerado ao mostrar a família das jovens e a dúvida que cada uma delas tem em seguir ou não no mercado. Neste trecho do filme, o uso de trilhas sentimentais e closes nos rostos de mães, pais e filhas acaba passando um pouco do ponto, comprometendo o resultado final do filme. Uma abordagem menos previsível seria mais satisfatória.

Apesar disso, Hot Girls Wanted vale a pena. O documentário retrata com precisão os anseios e sonhos de uma geração de garotas dispostas a tudo para se tornarem conhecidas e famosas, acumulando mais e mais seguidores em suas redes sociais. Uma corrida fútil alimentada pelo próprio ego, e que é um dos principais combustíveis da indústria da pornografia.

O filme está disponível na Netflix.

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