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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Discografia Comentada: Trivium

18:25

Uma das melhores bandas do metal contemporâneo, o Trivium foi formado em 2000 na cidade de Orlando, na Flórida. Desde o início, o grupo tinha como objetivo produzir uma música que unisse elementos do metalcore, death melódico e thrash metal, a tríplice coroa que forma a identidade única do seu som. A formação inicial do quarteto contava com Brad Lewster (vocal), Matt Heafy (guitarra), Brent Young (baixo) e Travis Smith (bateria). Lewster, no entanto, deixou o grupo após alguns shows e seu posto foi assumido por Heafy, que acumulou também a função de guitarrista.

Talhada na estrada e forjada nos shows, a banda aprimorou a sua sonoridade e gravou em 2003 um EP auto-intitulado e contendo sete faixas. Este disco, lançado de forma independente, chegou aos ouvidos da gravadora alemã Lifeforce, que decidiu apostar no grupo e assinou com os americanos. O Trivium entrou então em estúdio e saiu de lá com Ember to Inferno, seu primeiro disco. 

Em 2004, já com um disco na bagagem, o Trivium adicionou um segundo guitarrista, Corey Beaulieu, e, logo depois, substituiu o baixista Brent Young por Paolo Gregoletto. Com o line-up estabilizado, a banda escalou a passos largos a hierarquia do heavy metal, lançando discos aclamados que colocaram seu nome em evidência em todo o planeta.


Com uma discografia sólida e consistente, o Trivium já lançou seis álbuns de estúdio - cinco deles pela gravadora Roadrunner -, além de diversos singles e clipes. Abaixo apresento todos os discos da banda, com comentários sobre cada um deles.


Ember to Inferno (2003)

O primeiro álbum do Trivium foi lançado pela Lifeforce em 14 de outubro de 2003. Com canções que alternam trechos mais agressivos com passagens onde a melodia é a protagonista, o embrião da sonoridade da banda está aqui. Uma das primeiras produções assinadas pelo hoje requisitado Jason Suecof (que nos anos seguintes seria o responsável por álbuns de nomes como Chimaira, DevilDriver, The Black Dahlia Murder, All That Remains e Job For a Cowboy, entre muitos outros), Ember to Inferno é, óbvia e claramente, inferior e menos maduro que os discos posteriores, mas possui as suas qualidades. Canções como “If I Could Collapse the Masses”, “Fugue (A Revelation)” e “Requiem” antecipam o caminho que a banda seguiria nos anos seguintes e apresentam frescor e energia. Bastante influenciado pelo Metallica dos primeiros anos, Ember to Inferno foi gravado quando os integrantes do Trivium eram bastante novos - Heafy tinha apenas 17 anos de idade e já impressionava pela sua performance - e reflete essa juventude em suas doze faixas. Trata-se de um trabalho sincero e interessante, que apresentou uma sonoridade singular e que seria aprimorada com afinco nos anos seguintes.


Ascendancy (2005)

Com o profético título de Ascendancy, o segundo álbum do Trivium foi o responsável por colocar os holofotes do cenário metálico sobre o quarteto norte-americano. Estreia do grupo pela Roadrunner, o disco chegou às lojas em 15 de março de 2005 e foi produzido por Matt Heafy e Jason Suecof e marcou a estreia da formação que levaria a banda ao topo: Heavy, Beaulieu, Gregoletto e Smith. A evolução em relação à estreia é atordoante, com composições que mostram o grupo a milhas de distância do disco de 2003. Aqui, a união de características de metal tradicional com a agressividade de estilos como o thrash e o death faz emergir uma música vigorosa e ao mesmo tempo acessível, e que cativou multidões em todo o planeta. Assinando todas as faixas, Matt Heafy consolidou em Ascendancy o domínio sobre o direcionamento criativo da banda, e mostrou estar no caminho certo. Outro fator digno de menção é a força da parceria de Matt com Corey Beaulieu, responsável não apenas pelas excelentes guitarras que ouvimos em todo o álbum, mas também pelo início de uma parceria que seria uma das forças matrizes do quarteto - Beaulieu é co-autor de seis das doze canções. Ao resenhar o álbum em 2007, escrevi que “o uso de elementos oitentistas, principalmente as influências de Iron Maiden e Metallica, fazem o Trivium se destacar dos outros nomes da chamada New Wave of American Metal. Os riffs de Matt Heafy e Corey Beaulieu equilibram-se entre o peso do thrash e a melodia da NWOBHM e, unidos à capacidade da banda em compor grandes refrãos, fazem com que a audição se transforme em uma experiência muito agradável a qualquer fã de heavy metal”. Entre as faixas, destaque para “Rain”, “Pull Harder on the Strings of Your Martyr”, “Drowned and Torn Asunder”, “Like Light to the Flies”, “The Deceived”, “Declaration” e “A Gunshot to the Head of Trepidation”. O alto nível geral faz até uma faixa mediana como “Dying in Your Arms”, gravada claramente com o objetivo de se tornar um hit, passar batida. Estima-se que Ascendancy já tenha vendido mais de 500 mil cópias desde o seu lançamento, e o disco se tornou um dos prediletos da legião de fãs do grupo. A imprensa também caiu de quatro pela banda, com a Kerrang! elegendo o trabalho o melhor de 2005 e a Metal Hammer colocando o álbum na sexta posição em lista de final de ano. Ascendancy foi lançado também em duas edições especiais, ambas disponibilizadas pela Roadrunner em 2006. A mais simples vem com três faixas bônus - “Blinding Tears Will Break the Skies”, “Washing Me Away in the Tides” e uma versão para “Master of Puppets”, do Metallica -, enquanto a dupla, que ganhou o adendo Special Edition ao título e uma capa diferente da original, traz um DVD bônus com clipes e o vídeo Live at the London Astoria. A tour do trabalho contou com shows no Ozzfest e no Download Festival, eventos que foram vitais para tornar o grupo mais conhecido. Um dos discos mais emblemáticos e importantes do metal dos anos 2000, Ascendancy é item obrigatório na coleção. 


The Crusade (2006)

Um ano e meio após Ascendancy e já carregando no peito o status de uma das melhores novas bandas do cenário metálico, o Trivium soltou The Crusade no dia 10 de outubro de 2006. Mais uma vez com Jason Suecof e co-produzido pela própria banda, o álbum traz treze faixas que mantém o mesmo nível do trabalho anterior, quando não soam superiores a ele. The Crusade foi o primeiro CD do Trivium a ser lançado no Brasil, e ao resenhá-lo na época do seu lançamento escrevi que “há um resgate da fase áurea do heavy metal, quando as bandas do estilo estavam entre as maiores do planeta. O Trivium dá um grande passo nesse novo álbum, transformando-se de uma promessa em uma das novas forças do metal”. Pessoalmente, gosto mais de The Crusade do que de Ascendancy, e isso passa pela percepção de que as canções deste terceiro disco são mais bem resolvidas. Tudo está no lugar certo, em faixas que trazem grandes riffs, linhas vocais cativantes, refrãos para cantar junto e melodias de guitarra que grudam de imediato na cabeça. Entre os destaques estão “Ignition”, “Detonation”, “Entrance of the Conflagration”, “Unrepentant”, “Becoming the Dragon”, “To the Rats” (uma das faixas mais velozes da carreira do grupo) e “Contempt Breeds Contamination”, além da sensacional faixa-título, uma obra-prima instrumental que desfila riffs em mais de oito minutos de uma overdose guitarrística. Ao lado das guitarras, o principal destaque do álbum é a bateria de Travis Smith, com viradas sensacionais, e também os vocais de Matt, que aqui inseriu o timbre limpo de sua voz ao lado dos já conhecidos guturais. O grupo experimenta novos caminhos em canções como “And Sadness Will Sear”, que troca a avalanche de melodia por riffs mais sincopados, e em “The Rising”, com guitarras que flertam abertamente com o festeiro hard californiano. The Crusade teve boa performance comercial, atingindo número expressivo de vendas nos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Alemanha, Irlanda e na Inglaterra, onde alcançou a sétima posição nas paradas. A imprensa elogiou bastante o álbum, que ganhou nota 9 na Metal Hammer e na Total Guitar e um 3,5 de 5 na Rolling Stone. Aliás, a Metal Hammer deu ao disco a nona posição em sua lista de melhores de 2005. A turnê levou o grupo a abrir shows do Iron Maiden e do Metallica, além de excursionar junto com Machine Head, Arch Enemy, DragonForce e Shadows Fall na turnê Black Crusade.


Shogun (2008)

Lançado em 30 de setembro de 2008, Shogun é o ápice da primeira fase da carreira do Trivium. Aqui, todos os elementos que formam a sonoridade particular da banda convergem de maneira perfeita em algumas das melhores composições do grupo. Produzido por Nick Raskulinecz (Foo Fighters, Stone Sour, Rush) e pela própria banda, Shogun traz onze faixas contundentes. Ao resenhá-lo em 2008, apontei que “as influências de sempre - o thrash da Bay Area e a NWOBHM - continuam presentes, mas, diferentemente dos álbuns anteriores, que forneceram munição para alguns críticos apontarem o grupo como mera reciclagem do que já havia sido feito anteriormente, aqui elas se unem de maneira sólida na construção de uma sonoridade avassaladora e contagiante, que tem tudo para agradar tanto fãs saudosistas do metal oitentista quanto as gerações mais jovens de headbangers”. Assim como havia feito em The Crusader, Heafy alterna vocais guturais e passagens onde canta com a sua voz limpa, criando contrastes interessantes. Os destaques estão em “Kirisute Gomen”, “Torn Between Scylla and Charybdis”, o banho de melodia de “Into the Mouth of Hell We March”, “Throes of Perdition”, “Like Callisto to a Star in Heaven” e a estupenda faixa-título, um heavy metal esplêndido que beira os doze minutos de duração. O álbum foi muito bem nas paradas, chegando ao número 1 no Reino Unido, 4 na Austrália e no Canadá, 6 no Japão e na posição 23 da Billboard, além de ser top 100 em 18 países. Na crítica especializada, 4 de 5 estrelas por Chad Bower no About.com, 4,5 de 5 no AllMusic e 4 de 5 no Metal Sucks, além da 11ª posição nos melhores do ano da Metal Hammer. A turnê durou até 2009, com o grupo rodando os Estados Unidos duas vezes, onde bandas como Chimaira, Darkest Hour, Black Tide e Rise to Remain abriram os seus shows, e tocando em festivais como o Mayhem. Ainda em 2008 o álbum ganhou uma edição especial dupla com capa diferente da original incluindo três faixas bônus - “Poison, the Knife or the Noose”, “Upon the Shores” e o cover da clássica “Iron Maiden”, de vocês sabem quem - além de um DVD bônus com o making of.


In Waves (2011)

Apesar do sempre crescente reconhecimento e sucesso, o Trivium enfrentou alguns problemas na turnê de Shogun, questões essas que levaram à saída do baterista e fundador Travis Smith em outubro de 2009. Nick Augusto, técnico de bateria de Smith, foi escolhido como substituto e deu sequência à tour. Além da mudança na formação, o grupo alterou também o seu produtor, escolhendo Colin Richardson (Behemoth, Carcass, DevilDriver) para produzir o seu quinto disco. Lançado em 2 de agosto de 2011, In Waves é o melhor álbum de toda a carreira do Trivium. Amenizando um pouco as melodias e apostando em riffs curtos e sincopados, o grupo gravou um disco que se tornou rapidamente uma das referêcias do metal moderno. A banda soa mais pesada e agressiva, características que tornaram a sua música ainda mais eficiente. Puxado pela faixa-título e primeiro single, In Waves dividiu a crítica, que rachou a opinião em relação ao álbum entre reviews positivos (4/5 no AllMusic, 4/5 na Kerrang!, 4/5 no Loudwire, 8/10 na Q Magazine) e outros nem tanto (2/5 no The Guardian, 4/10 no PopMatters, 3/5 na Revolver). A mesma divisão pode ser percebida entre os fãs, com uma parcela não aceitando de bom grado as mudanças na sonoridade. No entanto, a negativa reação inicial se mostrou exagerada, uma vez que o álbum renovou a música da banda e foi, com o tempo, apagando qualquer sinal de não aceitação. As faixas são muito fortes, com destaque para “In Waves”, “Inception of the End”, “Watch the World Burn”, “Black”, “Built to Fall” e “Forsake Not the Dream”. Ao analisar o trabalho em meu review, escrevi que “é difícil enquadrar o Trivium em um estilo específico, e o mais correto é dizer que a banda faz um metal atual e contemporâneo, pura e simplesmente”. O disco chegou à primeira posição na parada de Hard Rock da Billboard, foi número 6 no Japão, 8 na Alemanha e 13 no Billboard 200. Na lista de melhores do ano da Metal Hammer, alcançou a posição número 27. A turnê levou a banda para todo o mundo - inclusive o Brasil - e os shows contaram com a abertura de nomes como Ghost, Rise to Remain, Kyng e Veil of Maya, além de uma tour como co-headliner com o In Flames e participações nos festivais Metaltown, Download e Wacken Open Air. In Waves possui uma edição especial com cinco faixas extras - “Ensnare the Sun”, “Drowning in Slow Motion”, “A Grey So Dark”, “Shattering the Skies Above” e o cover de “Slave New World, do Sepultura - e um DVD bônus com documentário sobre a produção, clipes e performance ao vivo no estúdio.


Vengeance Falls (2013)

Lançado em 15 de outubro de 2013, o sexto e até agora mais recente álbum do Trivium teve produção de David Draiman, vocalista do Disturbed, e o seu toque foi sentido com clareza no resultado final, inclusive com alguns fãs e jornalistas afirmando que certas composições soavam demasiadamente semelhantes à banda de Draiman. Conclusão equivocada e apressada ao meu ver, já que Vengeance Falls trouxe o Trivium seguindo firme em sua evolução. Em relação a In Waves, há um retorno à sonoridade que consagrou a banda, com uma quantidade maior de elementos que remetem à discos com Ascendancy e The Crusade mesclados ao caminho mostrado no álbum de 2011. Mais uma vez e como sempre, há grandes composições repletas de refrãos que encaixam de imediato, como é o caso de “Brave This Storm”, “Vengeance Falls”, a ótima “Strife”, “At the End of This War”, “No Way to Heal”, “Through Blood and Dirt and Bone”, “No Hope for the Human Race” e “As I Am Exploding”. Recebido de braços abertos pela crítica, Vengeance Falls ganhou um 8 da Metal Hammer, 4 de 5 estrelas no The Guardian e nota 7 na Classic Rock Magazine. Comercialmente, o álbum alcançou a segunda posição no Japão, a oitava na Austrália e ficou com o décimo-quinto posto no Billboard 200. Em meu review, afirmei que “Vengeance Falls tem um ponto em comum e outro nem tanto com In Waves, último trabalho da banda. O ponto em comum é que, mais uma vez, o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Matt Heafy gravou um trabalho de qualidade superior, que beira a nota máxima. Já o aspecto que difere o novo álbum do anterior é justamente uma de suas maiores qualidades: a melodia. Enquanto o disco de 2011 havia um foco maior na agressividade, em Vengeance Falls a melodia retorna em pé de igualdade, com linhas vocais cativantes, solos que grudam no ouvido e refrãos feitos sob medida”. A turnê do álbum levou a banda através o mundo ao lado de grupos como DevilDriver, Sylosis e After the Burial. 


Além destes seis discos, o quarteto lançou também o já citado EP Trivium (2003) e inúmeros singles e clipes. Como curiosidade, vale mencionar que quatro dos seis álbuns da banda estão disponíveis também em vinil: The Crusade (2006), Shogun (2008), In Waves (2011) e Vengeance Falls (2013).


terça-feira, 16 de junho de 2015

Discografia Comentada: Baroness

18:14

Uma das grandes bandas surgidas no cenário metálico nos anos 2000, o Baroness produz uma música única e repleta de personalidade. Caminhando sobre a trilha do heavy metal na companhia de elementos do rock progressivo, alternativo, indie, sludge e psicodélicos, o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista John Baizley anda a passos largos para se tornar uma das grandes referências nos próximos anos.

Formado na cidade de Savannah, na Georgia, em 2003, o Baroness nasceu da banda punk Johnny Welfare and the Paychecks e contava em sua primeira encarnação com Baizley, Tim Loose (guitarra), Summer Welch (baixo) e Allen Blickle (bateria), line-up esse que sofreu alterações até se estabilizar por um longo período. 

Porém, durante a turnê de seu terceiro e até agora último disco, Yellow & Green (2012), o quarteto sofreu um sério acidente de ônibus no interior da Inglaterra no dia 15 de agosto de 2012. Havia dúvidas se a banda conseguiria seguir em frente devido à gravidade do ocorrido, e a resposta veio no primeiro semestre de 2013 com o anúncio de que o baixista Matt Maggioni e o baterista Allen Blickle haviam deixado o grupo devido ao acontecido. Para seus lugares a banda anunciou Nick Jost (baixo) e Sebastian Thomson (bateria). Atualmente o Baroness está em estúdio gravando o seu quarto álbum, que deve ser lançado este ano.

Além de músico, John Baizley desenvolve também um prolífico trabalho como ilustrador. Seu estilo característico, além de estampar as capas dos álbuns do Baroness, está em discos de bandas como Kvelertak, Black Tusk, Kylesa, Torche, Pig Destroyer, Skeletonwitch e Darkest Hour, e mostra que, além do talento como músico, Baizley também é um mestre nas artes plásticas.


Duas curiosidades antes de entrarmos na discografia da banda: todos os álbuns lançados pelo grupo até hoje foram batizados com títulos alusivos a cores: as primárias vermelho, azul e amarelo e a secundária verde (no caso do duplo Yellow & Green). E todos os discos foram lançados em CD e LP pela mesma gravadora, a Relapse, detentora do passe do quarteto.


Red Album (2007)

A estreia do Baroness foi lançada em 4 de setembro de 2007 e impressionou pela alta qualidade apresentada. Produzido por Phillip Cope (vocalista e guitarrista do Kylesa), Red Album traz onze faixas de um metal que alterna momentos pesados com outros mais atmosféricos e progressivos, tudo isso embalado com doses maciças de melodia e pitadas de melancolia em arranjos muito bem construídos. Contando com John Baizley, Brian Blickle (guitarra), Summer Welch e Allen Blickle, a banda mostra-se inspirada em composições fortes e maduras onde o principal destaque são as faiscantes guitarras de Baizley e Brian, que trocam harmonias e notas com entusiasmo e criatividade. Destaque para “Rays of Pinion”, “The Birthing”, “Isak”, “Wanderlust” e “O’Appalachia”. O disco foi bem aceito pela crítica, com a Metal Hammer colocando Red Album como o quarto melhor álbum de 2007 em sua lista de final de ano. Ótima estreia.


Blue Record (2009)

Lançado em 13 de outubro de 2009, Blue Record trouxe duas novidades: a troca de Brian Blickle por Peter Adams e a assinatura de John Congleton (Swans, Okkervil River, The Roots) na produção. O som está mais encorpado e pesado que na estreia, e também menos atmosférico. Há longos trechos instrumentais onde as guitarras se complementam em melodias gêmeas quase celestiais - aliás, uma das marcas registradas do Baroness. “Swollen and Halo”, “Ogeechee Hymnal”, “War, Wisdom and Rhyme”, “The Gnashing” e a fenomenal “A Horse Called Golgotha” são destaques óbvios em um tracklist sólido como uma rocha vulcânica de milhões de anos. A aclamação da crítica foi intensa em relação a Blue Record. O disco recebeu nota máxima da influente revista norte-americana Decibel, que o elegeu álbum do ano em 2009. A não menos importante Metal Hammer colocou Blue Record na décima posição em sua lista de final de ano, enquanto o LA Weekly cravou o trabalho na vigésima posição em sua lista com os maiores discos de metal já gravados. Comercialmente a recepção também foi ótima, e Blue Record alcançou a primeira posição no Heatseekers da Billboard, chart destinado a novos artistas. O álbum recebeu uma edição especial ainda em 2009, com um disco bônus trazendo a performance no Roadburn Festival daquele ano. Se a estreia já havia sido ótima, Blue Record conseguiu ir além.


Yellow & Green (2012)

O terceiro registro do Baroness é um álbum duplo e foi lançado em 17 de julho de 2012. O mais completo trabalho da banda, Yellow & Green é, fácil, um dos melhores discos de heavy metal gravados nos últimos dez ou vinte anos. Desenvolvendo ainda mais a sua sonoridade particular, o grupo deu ao mundo 18 músicas que trazem um metal adornado por características stoner, prog e alternativas. Instrumentalmente brilhante e com um trabalho exemplar de composição, Yellow & Green explora as diferentes facetas que formam a personalidade do Baroness, indo de faixas pesadas e agressivas como “Take My Bones Away”, passando por maravilhas progressivas como “Eula” e experimentações criativas como “Cocainium”. Com a melodia marcando forte presença por todo o álbum, encontramos destaque em outras faixas como “March to the Sea”, “Little Things”, “Foolsong”, “Collapse”, “Back Where I Belong” e nas etéreas “Twinkler” e “Stretchmaker”, esta última instrumental. Yellow & Green é um disco mais introspectivo que os dois primeiros, cuja audição possui o cada vez mais raro poder de transportar o ouvinte para outro lugar. Muito disso se dá através da estrutura das canções, a grande maioria com arranjos que vão se desenvolvendo em crescendos até chegarem aos seus clímax sonoros. Produzido novamente por John Congleton, o álbum foi gravado pelo trio John Baizley (que também assumiu o baixo), Peter Adams e Allen Blickle. A crítica recebeu o disco de braços abertos, com o trabalho recebendo uma nota 9 na Spin e no PopMatters e marcando presença em diversas listas de melhores do ano de 2012 - na da Metal Hammer, alcançou a 14ª posição. Yellow & Green é uma obra-prima, um disco incrível e que segue soando excelente a cada nova audição.


Além dos três discos de estúdio, o Baroness lançou quatro EPs: First (2004), Second (2005), A Grey Sigh in a Flower Husk (2007, split com o Unpersons) e o ao vivo Live at Maida Vale (2013). Os dois primeiros foram unidos em um só disco na reedição disponibilizada em 2008 e apropriadamente intitulada First & Second (2008). A discografia completa da banda tem ainda os singles A Horse Called Golgotha (2010) e Take My Bones Away (2012).

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Discografia Comentada: Ghost

12:00


Quando o Ghost surgiu, não havia muita informação sobre a banda. Aqueles seis músicos mascarados, originários da Suécia e vestindo figurinos sacros, eram misteriosos e seguiam a linha evolutiva de nomes como Alice Cooper e Kiss - visualmente, é claro. Aos poucos, mais informações e teorias foram surgindo, com tentativas de tentar identificar quem seriam os integrantes da banda, como uma busca pelo Santo Graal que poderia explicar o impacto instantâneo do grupo. 

Desde que surgiu, a banda ganhou capas nas principais revistas especializadas mundo afora, tocou em grandes festivais (incluindo uma passada pela edição 2013 do Rock in Rio), recebeu elogios de grandes nomes e, como não poderia deixar de ser, ganhou haters na mesma proporção. Mas o principal fato é que, durante todo esse tempo, o Ghost gravou ótimos discos. Com sete anos de carreira, o sexteto já lançou dois álbuns e um EP, com cada título explorando aspectos distintos de sua personalidade. 

Abaixo, está uma análise detalhada de cada um dos álbuns da banda, uma preparação para o novo trabalho do grupo, Meliora, que chegará às lojas em 21 de agosto. Um convite para quem quer explorar toda a beleza e a magia da música única desta talentosa e misteriosa banda sueca.



O Ghost surgiu na Suécia em 2008, gravou uma demo em 2010 e lançou o seu primeiro álbum, Opus Eponymous, em 18 de outubro de 2010. O disco saiu primeiro na Europa e só chegou ao mercado norte-americano em janeiro de 2011. Desde então, o nome e a reputação do grupo vêm crescendo entre os aficcionados por heavy metal. Ninguém conhece (ainda) a identidade dos músicos, já que eles só aparecem em público embaixo de pesada maquiagem e figurinos que variam entre monges para os instrumentistas e o mais alto posto da Igreja Católica para o vocalista, o que dá ao cantor um ar de papa satânico. Em uma linha evolutiva do estilo, o Ghost seria uma espécie de filho bastardo de Alice Cooper com o Kiss. 

Mas o impacto visual não seria suficiente caso a música também não fizesse a sua parte, e ela impressionou deste o início. O primeiro ponto que salta aos ouvidos é que o álbum de estreia dos suecos parece ter sido gravado no final dos anos 1970, soando próximo de alguns dos principais nomes daquela década e sem um pingo da evolução pela qual passou o metal nos últimos trinta anos. As principais influências são bandas clássicas como Black Sabbath, Judas Priest, Pentagram, Blue Oyster Cult e Coven, além de algumas pitadas do rock psicodélico do final da década de 1960. O resultado é uma música relativamente simples, sem arranjos complicados ou passagens exageradamente técnicas, e que retoma algumas características marcantes do metal setentista, como a melodia e a acessibilidade – sim, a acessibilidade, no sentido em que as composições cativam o ouvinte de primeira, grudando na cabeça e tornando a audição do trabalho um ato de prazer contínuo.

O som é orgânico, vivo, pulsante. O peso não está somente nas guitarras, mas sobretudo na atmosfera das composições. O vocalista Papa Emeritus não grita, não distorce a sua voz, apenas canta de forma limpa, explorando falsetes que remetem a Eric Bloom (do Blue Öyster Cult) e King Diamond. Os guitarristas despejam riffs e solos na melhor escola do metal clássico, enquanto o tecladista é o principal responsável por dar um clima único às faixas, fazendo as composições, todas com letras que exploram temas sobre ocultismo e satanismo, soarem com um clima religioso instigante.

Com apenas nove faixas e 35 minutos, Opus Eponymous é um disco inesperado, que entrega uma surpresa agradável a cada composição. Na contramão das generosas doses de agressividade e rapidez que assolam o metal contemporâneo, trouxe uma sonoridade rica em climas, o que torna a sua audição próxima a uma experiência sensorial. Os maiores destaque são “Con Clavi Con Dio”, a excelente “Ritual”, a ótima “Elizabeth” - dedicada à Condessa Elizabeth Bathory -, “Stand by Him”, “Prime Mover” e a admirável instrumental “Genesis”, que encerra o álbum de maneira perfeita.


O heavy metal sempre foi teatral. Causa mais impacto uma melodia tétrica, um arranjo sombrio, do que uma sonoridade extremamente agressiva e violenta. Essa lição foi ensinada lá na gênese do estilo, quando o Black Sabbath lançou o seu disco de estreia na sexta-feira, 13 de fevereiro de 1970. No entanto, apesar de óbvio, este ensinamento foi se perdendo com o tempo. Com guitarras cada vez mais pesadas, vocais cada vez mais guturais (e muitas vezes inaudíveis) e andamentos que beiram a velocidade da luz, o metal aproxima-se, muitas vezes, de uma caricatura de si mesmo.

Esse olhar para o passado, essa retomada a algo óbvio e sempre eficaz, talvez seja o grande mérito do Ghost. O disco de estreia do grupo chamou a atenção por apresentar um sopro de renovação na música pesada ao buscar nas raízes do estilo a sua inspiração. E o resultado foi além do esperado, com os mascarados liderados pelo vocalista Papa Emeritus sendo aclamados pela crítica, pelos fãs e pelos próprios artistas, com ícones como James Hetfield e Phil Anselmo desfilando com camisetas da banda e dando declarações exaltando a sua música.

Porém, independentemente disso, o que vem em primeiro lugar é a música, e ela seguiu soando única. Infestissumam (“hostil" em latim), lançado em 10 de abril de 2013, é o segundo álbum da banda e foi produzido por Nick Raskulinecz (Foo Fighters, Rush, Stone Sour, Trivium). Além disso, marcou a estreia do grupo pela Loma Vista, braço da Universal, que pagou US$ 750 mil pelo passe do sexteto. Mais sombrio e teatral que Opus Eponymous, trouxe o Ghost explorando uma gama maior de influências e encontrando a sua personalidade.

Em primeiro lugar, é preciso fugir das definições simplistas que permeiam o grupo. Não há nada de Mercyful Fate aqui, por exemplo, assim como não havia no disco de estreia - a não ser que você considere que o grupo tem influência dos dinamarqueses pelo simples fato de o timbre de voz de Papa Emeritus ser agudo como o de King Diamond. Uma das bases da música do Ghost é o Blue Öyster Cult, e em Infestissumam essa característica permanece, porém adornada com outros elementos muito bem encaixados, que vão do psicodelismo ao hard rock, passando pelo AOR e até mesmo pelo pop.

Em relação à estreia, o aspecto melódico foi explorado com mais profundidade, expandindo a característica teatral das composições. E o contraste entre melodias agradáveis e letras repletas de menções a temas ocultos e sombrios continua sendo o toque de mestre, com a banda construindo embalagens atraentes para um discurso que soa repugnante para a maioria. Outro ponto que merece destaque é a amplitude de influências explorada pela banda. Um certo tempero glam pode ser sentido em “Jigolo Har Megiddo”, enquanto em “Idolatrine” a sonoridade se aproxima do AOR, tornando a letra ainda mais eficaz.

Três canções formam a espinha dorsal de Infestissumam e se destacam das demais. A impressionante “Ghuleh / Zombie Queen” é a prova definitiva do imenso talento dos mascarados, partindo de uma balada atmosférica para um andamento que remete à surf music, tudo embalado por coros muito bem construídos. Ela soa como se o Goldfrapp encontrasse o Cramps - e acredite, o resultado é espetacular. Na sequência, “Year Zero” inscreve-se fácil entre as melhores músicas da carreira do grupo, iniciando com um coro macabro que transporta o ouvinte para algum ritual perdido no tempo. Com um arranjo inteligente e andamento moderado, tem batidas que nos levam à disco music e um teclado muito bem executado. E, por último, há “Monstrance Clock”, faixa que encerra o disco de maneira magnífica com uma narrativa dramática e um coro antológico. No meio disso tudo, surpresas como a valsa “Secular Haze” e “Body and Blood”, que soa como um cântico milenar retrabalhado para o nosso tempo.

Fascinante e às vezes estranho, Infestissumam mostrou o Ghost como uma clara visão do que aspira produzir, tanto musical quanto artisticamente. A banda apurou a sua identidade, que já era única, e a tornou ainda mais singular.  Um casamento profano entre metal, pop e hard rock, que prova prova que o Ghost está longe de ser obra do acaso.


Sete meses após lançar o seu segundo álbum, a banda sueca retornou com material (quase) inédito. E, apesar do curto espaço de tempo entre um lançamento e outro, este EP não tem nada de prematuro. Produzido por Dave Grohl - que, segundo os próprios músicos suecos, andou fazendo alguns shows com a banda escondido atrás das máscaras do grupo -, If You Have Ghost é um EP de cinco faixas. Quatro delas são versões para canções de outros artistas: a que também batiza o disco é uma composição de Roky Ericsson, “I’m a Marionette” é do ABBA, “Crucified” é do Army of Lovers e “Waiting for the Night” é do Depeche Mode. Completando o tracklist, uma versão ao vivo da valsa satânica “Secular Haze”, presente em Infestissumam. “I’m a Marionette” e “Waiting for the Night” já haviam sido lançadas em uma versão especial do último disco, e a versão para a canção do ABBA foi também o lado B do single “Secular Haze”.

Há de se elogiar a escolha nada óbvia dos covers. E também dos artistas originais que os gravaram, que nada tem a ver com o metal, gênero onde o Ghost está inserido. Com grande personalidade, a banda desconstrói os arranjos originais e imprime uma nova cara para as composições, colocando a sua personalidade nas versões. Isso faz com que os quatro covers soem como canções do próprio Ghost, algo que é difícil de ser alcançado quando se trabalha com a obra criada por outros artistas.

Chama a atenção também o distanciamento que as quatro canções de estúdio apresentam do metal, dando um passo além ao que havia sido apresentado em Infestissumam. O Ghost não soa como um grupo de metal em If You Have Ghost, mas sim como uma banda de rock embebida em doses generosas de psicodelismo e melancolia, características intensificadas, respectivamente, pela parte instrumental e pelas belíssimas linhas vocais de faixas como “If You Have Ghost” e “Crucified”. Se esse é o caminho que o Ghost pretende seguir nos próximos trabalhos, a prévia que eles apresentam neste EP é pra lá de promissora, deixando, desde já, uma expectativa elevada para o seu terceiro disco.

Vale mencionar que Grohl, além de assinar a produção, também tocou bateria em “I’m a Marionette”, mostrando que a sua associação com o Ghost é muito mais profunda do que se supunha no início. E essa relação entre os dois artistas é muito vantajosa para o Ghost, fazendo com que um novo público passe a olhar e a se interessar pela banda.


Eu sei, e você também sabe, que o hype em torno de Papa Emeritus e sua turma é gigantesco. Porém, Tobias Forge - o nome verdadeiro do vocalista que está atrás da máscara do Papa - e seus companheiros dão provas, a cada lançamento, que por maiores que sejam os elogios e a atenção recebidas pela banda, eles são justificados. Opus Eponymous é um ótimo álbum de metal com grande influência de Blue Öyster Cult. Infestissumam mostrou os músicos indo além e inserindo outros elementos na construção de uma sonoridade que deu um passo adiante em relação ao primeiro disco. E em If You Have Ghost essa característica se acentuou, revelando, de uma forma promissora, o caminho que a música do Ghost aparentemente seguirá.

O hype é grande, mas toda a falação em torno do Ghost é justificada: essa é a conclusão ao final da audição de seus três excelentes discos. Que venha logo o dia 21 de agosto, data em que Meliora, novo álbum da banda, chegará às lojas. Enquanto isso, uma passada novamente pelos seus três discos e também pelo primeiro single do novo álbum, “Cirice”, faz a gente ir entrando no clima sombrio e apaixonante proposto pela banda.

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