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terça-feira, 21 de julho de 2015

A épica batalha pela alma, e pelos lucros, dos Beatles

18:56

Existem inúmeros livros sobre os Beatles. Centenas, milhares de obras já analisaram a carreira da banda e de seus integrantes, partindo dos mais variados pontos e chegando às mais diversas conclusões. No entanto, nenhum é como A Batalha Pela Alma dos Beatles (Your Never Give Me Your Money: The Beatles After the Breakup, no título original), escrito pelo jornalista inglês Peter Doggett. O autor conta, através de uma pesquisa extensa e com grande riqueza de detalhes, a colossal disputa jurídica iniciada após o anúncio do fim do grupo e que envolveu John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr e praticamente qualquer pessoa que tenha cruzado o caminho do quarteto.

Baseado em inúmeras entrevistas com os quatro e com dezenas de pessoas que tiveram relacionamento com a banda e seus músicos (assistentes, familiares, roadies, jornalistas, amigos, ...), A Batalha Pela Alma dos Beatles é um livro notável ao lançar inúmeros focos de luz sobre os bastidores de um conflito épico e quase desconhecido do público em geral.

Traçando perfis profundos de Lennon, McCartney, Harrison e Starr, além de Yoko Ono, Linda McCartney, Brian Epstein (primeiro empresário), Allen Klein (substituto de Epstein e segundo empresário do grupo), Lee e John Eastman (respectivamente sogro e cunhado de Paul, e também responsáveis por seus negócios) e os funcionários mais próximos da banda, Doggett revela como os Beatles foram se dissolvendo lentamente desde a morte de Epstein em 1967, passando por longos confrontos jurídicos durante toda a década de 1970 e 1980, processo esse que resultou em rusgas e diferenças profundas e praticamente intransponíveis entre John, Paul, George e Ringo, além de uma contenda aparentemente infinita entre os clãs Lennon e McCartney.



A leitura proporciona um mergulho profundo na mecânica interna dos Beatles, esmiuçando não só como funcionava a banda legalmente, mas também como eram as relações entre seus integrantes. A forma como a Apple, empresa criada pelo quarteto e que tinha como objetivo ser o início de uma nova forma de fazer negócios, se metamorfoseou ao longo das décadas é impressionante, indo de ícone da contracultura à gigante do capitalismo.

Salta aos olhos a inocência que envolveu os negócios dos Beatles ao longo de sua carreira. A época era outra, mas a forma quase amadora com que a banda conduziu suas finanças e assinou contratos que depois se transformaram em enormes dores de cabeça, impressiona. A chegada do controverso Allen Klein ao universo Beatle, substituindo o falecido Brian Epstein, apenas realçou ainda mais os problemas administrativos do grupo. Notório por sua fama de mau caráter, Klein obteve o apoio quase incondicional de John, George e Ringo, e, simultaneamente, a antipatia imediata de Paul, razão pela qual as disputas entre os músicos acabaram indo parar nos tribunais.

Outro ponto que merece destaque e surpreende o leitor é o quão próximo o quarteto esteve de se reunir em diversas ocasiões até a morte de Lennon, em 8 de dezembro de 1980. Encontros não divulgados, intenções mútuas de aproximação, parcerias não finalizadas: o que não faltaram foram contatos pessoais e criativos entre os quatro músicos durante toda a década de 1970, principalmente entre Paul e John, deixando a banda a um passo de concretizar o sonho de milhões de fãs em todo o planeta.

Extremamente bem escrito e riquíssimo em informações, A Batalha Pela Alma dos Beatles é um livro sensacional. Não apenas uma obra indicada para fãs dos Beatles, mas, sobretudo, uma aula esclarecedora sobre como funciona a máquina administrativa e financeira por trás de uma grande banda, movida a milhares de contratos e zilhões de advogados. 

O sonho acabou em 1970, mas aqui ele mostra a sua verdadeira face, nem sempre agradável, porém sempre surpreendente. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

John Lennon, U2 e Larry Norman: a trilogia “God"

18:39

“God” é uma das canções mais emblemáticas de John Lennon. Presente em Plastic Ono Band (1970), primeiro álbum solo após ele deixar os Beatles, marcou época por sua letra, onde o compositor lista uma enormidade de pessoas, crenças e sentimentos em que não acredita.

É preciso contextualizar o momento pelo qual John estava passando quando gravou o álbum e a canção. Após sair dos Beatles, conheceu o trabalho do psicólogo norte-americano Arthur Janov através de uma cópia do livro The Primal Scream, enviado pelo próprio Janov para o casal Ono Lennon. Yoko e John leram a obra e ficaram interessados no trabalho de Janov, que viajou a Londres para encontrar pessoalmente a dupla e apresentá-los a sua abordagem. John e Yoko ficaram fascinados pelo método, e decidiram ir para Los Angeles para realizar um tratamento na clínica de Janov.

A terapia do grito primal desenvolvida por Arthur Janov prega que o indivíduo deve expressar e colocar para fora todos os sentimentos que o atormentam, para assim conseguir se livrar deles e alcançar, consequentemente, a cura. Levando ao pé da letra os ensinamentos de Janov, John Lennon começou a escrever canções que seguiam essa linha de pensamento, e o resultado foi apresentado ao mundo em Plastic Ono Band. Lançado em 11 de dezembro de 1970, o disco traz algumas das canções mais famosas e pessoais de Lennon, incluindo “Mother" (onde fala da relação com Julia, sua mãe), “Isolation”, “Working Class Hero” e “God”. 

Esta última causou enorme discussão e controvérsia quando foi lançada, pois continha uma letra abertamente anti-religião e um longo discurso onde John gritava ao mundo a lista de personalidades, crenças e sentimentos nos quais não acreditava, fechando com a famosa frase “the dream is over”, adotada como lema pelos milhões de Beatlemaníacos de todo o planeta após o fim da banda inglesa.

O verso inicial de “God" tem John Lennon afirmando que “Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor”, frase que é repetida pelo artista para reafirmar o seu ponto de vista. Após essa introdução, o Beatle declama a sua famosa lista de “don't believes”, citando, em sequência, a magia, I-Ching, a bílbia, o tarô, Hitler, Jesus, John Kennedy, Buda, Mantra, Gita, a ioga, reis, Elvis Presley, Bob Dylan e, finalmente, os Beatles. Para então afirmar, de maneira clara e eloquente, que só acredita em si mesmo e em Yoko. A parte final é um dos mais belos momentos do Lennon letrista, onde John canta que “essa é a realidade, o sonho acabou, o que posso dizer?”, completando que “antes eu era um apanhador de sonhos, mas agora renasci, antes eu era a morsa (em alusão à canção “I Am the Walrus”), mas agora sou apenas John”, fechando com um pedido: “Então, caros amigos, você precisam continuar, o sonho acabou”.

O impacto de “God" foi enorme na cultura pop. A frase “I don’t believe in Beatles, I just believe in me” está em um dos diálogos do filme Curtindo a Vida Adoidado. David Bowie cita a canção em “Afraid”, faixa do disco Heathen (2002), afirmando que “I believe in Beatles”. Há diversas referências em peças de teatro, canções, filmes, livros, artigos de revistas e o que mais se possa imaginar. 


No entanto, duas das consequências mais interessantes de “God" estão na forma de canções que são uma espécie de resposta para a música de John. A mais conhecida é “God Part II”, gravada pelo U2 no álbum duplo Rattle and Hum (1988). Seguindo a mesma estrutura lírica de Lennon, mas com outra melodia, Bono homenageia Lennon cantando na letra as suas crenças e revela aquilo em que não acredita. Fica clara a visão religiosa de Bono, natural de um país com uma tradição religiosa tão forte e presente quanto a Irlanda, com o cantor do U2 iniciando a canção afirmando que não crê no demônio e em seu livro, que não acredita em excessos, nos ricos, no corredor da morte, na cocaína e em uma série de outras coisas, e que acredita somente no amor. A letra de “God Part II” contém também uma alusão direta a “Instant Karma”, outra canção de John Lennon, usada em um verso que critica o escritor norte-americano Albert Goldman e sua blasfêmia, referindo-se ao livro As Vidas de John Lennon, obra que causou muita polêmica e discussão ao revelar ao mundo os supostos problemas pessoais, os vícios e a personalidade extremamente difícil de Lennon.


Porém, o ataque mais direto ao clássico de John está em “God Part III”, faixa composta e gravada pelo norte-americano Larry Norman, um dos pioneiros do rock cristão. A música está em Stranded in Babylon, disco lançado por Norman em 1991. Seguindo uma melodia semelhante à canção original, Norman dispara contra John e os Beatles sem dó nem piedade. A letra já começa com um sonoro “I don’t believe in Beatles, I don’t believe in rock”, para depois polemizar com a frase “você pode facilmente abater o número 1 com uma bala”, uma clara referência ao assassinato de Lennon, em 8 de dezembro de 1980. As críticas à trajetória de John seguem, com Norman afirmando que “não acredita na revolução ou em palavras vazias sobre a paz”, referindo-se ao clássico “Revolution”, dos Beatles, e à “Imagine”, “Give Peace a Chance” e a cruzada de John e Yoko pela paz em todo o mundo no início da década de 1970, quando o casal concedeu diversas entrevistas em uma cama de hotel. O ápice da canção é uma antítese à letra de Lennon, com Norman cantando repetidamente o verso “I believe in God”. 

Controvérsias e discussões à parte, o fato é que a genialidade de John Lennon tem um dos seus pontos mais brilhantes em “God”. O mesmo pode-se dizer do U2, que em sua homenagem ao Beatle concebeu uma das suas mais fortes - e, de maneira controversa, menos conhecidas - canções. Em relação a Larry Norman, o que temos é uma típica letra pregando a sua crença, algo predominante na maioria de suas canções. 

Na pequena playlist abaixo, você pode ouvir as três faixas e também a versão de "God” gravada pela banda norte-americana Jack’s Mannequin com a participação do lendário Mick Fleetwood (do Fleetwood Mac) para o álbum tributo Instant Karma: The Amnesty International Campaign to Save Darfur.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Roger Waters relembra importância dos Beatles na história do Pink Floyd

09:33

Em entrevista à revista inglesa Prog, Roger Waters relembrou as lições que aprendeu com os Beatles e o choque que teve ao ouvir pela primeira vez o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. O disco dos Beatles foi gravado literalmente ao lado do Pink Floyd, já que ambas as bandas estavam ao mesmo tempo no mesmo estúdio, o Abbey Road. Enquanto o Fab Four desbravava o mundo do Sargento Pimenta, o Pink Floyd registrava a sua estreia, Piper At the Gates of Dawn.

Waters recorda a experiência: “Ouvi o disco pela primeira vez no carro, já que uma rádio executou Sgt. Peppers na íntegra. Fiquei totalmente atordoado. Lennon, McCartney e Harrison me ensinaram que eu poderia escrever sobre a minha vida, o que eu sentia”. Essa lição foi aplicado anos mais tarde, durante a composição de The Dark Side of the Moon. “A banda estava rachada. E foi justamente ao buscar o que realmente queríamos dizer, sem se preocupar com o que nos diziam para gravar e cantar, que recuperamos o nosso foco. Os Beatles nos ensinaram isso”.

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