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sexta-feira, 24 de julho de 2015

A trilha mais rock and roll da história do cinema

16:46

Um filme absolutamente rock and roll só poderia ter uma trilha sonora imperdível. É o caso de Easy Rider, clássico do cinema dirigido pelo ator Dennis Hopper e que chegou aos cinemas em 14 de julho de 1969. A história dos dois motoqueiros que cruzam os Estados Unidos vivendo histórias surreais e encontrando pessoas mais singulares ainda tem uma das soundtracks mais famosas do rock.

A história por trás disso tudo é deliciosa. O editor Donn Cambern, que também era um grande colecionador de discos, quando estava montando o filme pesquisava músicas em sua própria coleção para ilustrar as cenas da película. Muitas das escolhas iniciais de Cambern acabaram sendo usadas na versão final do filme, gerando um custo de licenciamento superior a 1 milhão de dólares - mais do que o triplo do orçamento total do próprio filme, que custou apenas US$ 360 mil.

Quem também teve um papel importante nesse aspecto foi o trio Crosby, Stills e Nash. Hopper era amigo pessoal de David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash e apresentou o corte inicial da película para os músicos, que ficaram encantados com o que viram - e ouviram -, e garantiram ao diretor que ele não conseguiria fazer algo melhor do que já estava ali. A opinião dos três fez com que Dennis Hopper tivesse ainda mais certeza de que estava no caminho certo, tanto no aspecto cinematográfico quanto em relação à trilha.

Bob Dylan, já naquela época um dos maiores e mais respeitados músicos e compositores do rock, foi convidado para participar, mas não se empolgou muito com a ideia. Para não deixar os produtores na mão, Dylan permitiu que uma de suas canções, “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)”, fosse utilizada na obra, porém em uma nova gravação de Roger McGuinn, dos Byrds. Além disso, escreveu o primeiro verso de uma letra até então inédita e deu aos produtores com a seguinte recomendação: “Entreguem isso a Roger, ele saberá o que fazer”. O rascunho de Dylan acabou se transformando em “Ballad of Easy Rider” pelas mãos de McGuinn, uma das canções mais emblemáticas daquele final da década de 1960.


O LP com a trilha do filme chegou às lojas em agosto de 1969 pela Dunhill, selo da Reprise Records, subsidiária da Warner. Com apenas dez faixas, sendo cinco de cada lado, o disco é o retrato literal de uma época. Todas as canções aparecem no álbum na mesma ordem em que surgem na tela, tornando a experiência de ouvir a bolacha ainda mais forte e próxima do filme de Dennis Hopper.

O Steppenwolf dá o pontapé inicial com duas composições que se tornariam eternas. “The Pusher” é um blues nada convencional, cuja letra classifica como traficantes de drogas apenas aqueles que vendem maconha e como “empurradores”- o “pusher” do título - aqueles que comercializam heroína, “um monstro que não se importa se o usuário vai viver ou morrer”. A sequência se dá com o hino “Born to Be Wild”, que a partir da sua inclusão em Easy Rider se transformou em um dos maiores clássicos do rock, com literalmente milhares de versões gravadas ao longo das décadas. Uma das músicas mais famosas da história, “Born to Be Wild” virou sinônimo de liberdade e passou a ser associada com a cultura do motociclismo, relação essa que só se intensificou no decorrer dos anos. Além disso, ajudou a popularizar o termo heavy metal através de uma das frases da letra, que continha a expressão “heavy metal thunder”.

O play segue com a curiosa versão de Smith para “The Weight”, faixa originalmente gravada pela The Band e que, por motivos contratuais, não pôde ser incluída no disco. No entanto, é a gravação original da própria The Band que aparece no filme. Por essa razão, a releitura de Smith é propositalmente bastante similar à original. “Wasn’t Born to Follow”, composição lançada pelo The Byrds em The Notorious Byrd Brothers (1968), comparece em seguida, assim como a hilária “If You Want to Be a Bird”, do The Holy Modal Rounders, que fecha o lado A do vinil.

Virando o disco temos o Fraternity of Man com a ótima “Don’t Bogart Me”, um country sensacional típico de um boteco de beira de estrada norte-americano. A psicodélica “If 6 Was 9”, faixa de Axis: Bold as Love, é a contribuição de Jimi Hendrix para a trilha, e acentua o clima multi-colorido e entorpecido. Essa sensação, é claro, fica ainda mais clara com “Kyrie Elelson (Mass in F Minor)”, do Electric Prunes, cujo destaque são os celestiais vocais.

O álbum se encerra com uma dose dupla de Roger McGuinn: as excelentes “It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)” e “Ballad of Easy Rider”, acústicas e paridas a partir da mente privilegiada de Bob Dylan. Um fechamento perfeito para uma das jornadas sonoras mais fortes do cinema.

Duas faixas que aparecem em Easy Rider acabaram ficando de fora da trilha por questões contratuais. São elas “Let’s Turkey Trot”, da cantora norte-americana Little Eva, e “Flash, Bam, Pow”, do Electric Flag.



O LP se tornou um item cobiçado pelos colecionadores, não tanto pela sua raridade - afinal, devido ao sucesso alcançado o disco foi relançado diversas vezes ao longo dos anos e sempre foi relativamente fácil de ser encontrado nas lojas -, mas sim pela qualidade de suas faixas e pelo significado histórico que a trilha possui. 

Em 2004, a Warner colocou no mercado uma deluxe edition dupla, com um segundo CD intitulado Something in the Air 1967 to 1969 trazendo 19 faixas que retratam o período mas não estão, necessariamente, no filme, incluindo a versão original de “The Weight”, da The Band, e músicas de grupos como Jefferson Airplane, The Who, Procol Harum, Blue Cheer e outros. Essa edição ainda está em catálogo.

Seja pelo aspecto histórico ou pela qualidade de suas faixas, a trilha de Easy Rider é um disco fundamental em qualquer coleção de rock. Suas faixas mais conhecidas se transformaram em hinos, e as composições menos famosas são verdadeiras pérolas que retraram com precisão o espírito de uma época.  

Se você ainda não tem, já passou da hora de adquirir uma cópia.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Faroeste Cabloco, um grande filme

17:07

“Faroeste Caboclo” sempre foi uma canção cinematográfica. A saga de João de Santo Cristo, criada por Renato Russo e alçada ao posto de um dos maiores clássicos da Legião Urbana, é uma das letras mais emblemáticas do rock brasileiro. Nada mais natural, portanto, que a história fosse transportada, efetivamente, para a tela dos cinemas.

Dirigido por René Sampaio, Faroeste Caboclo, o filme, tem roteiro de Victor Atherino e Marcos Bernstein e um enredo que se baseia na letra da música, mas não é a transposição literal da história imaginada por Renato. Esse é apenas o primeiro dos muitos acertos. Evitando o recurso fácil e tentador de citar frases completas da extensa letra nos diálogos, Sampaio torna o filme autêntico, verossímil e nada gratuito. Um exemplo claro acontece logo no início, quando João, interpretado com primor por Fabrício Boliveira, chega à Brasília no período natalino e, ao ver as luzes decorativas, é apenas enquadrado pela câmera enquanto a sua mente imagina as possibilidades que ele encontrará na capital federal - nada de o personagem abrir a boca e declamar um “saindo da rodoviária fiquei bestificado com as luzes de Natal, meu Deus que cidade linda, no ano novo eu começo a trabalhar”.

Sampaio imprime um clima de faroeste em todo o longa, usando com frequência paisagens áridas e poeirentas para ambientar a trajetória de Santo Cristo. Isso, aliado à fotografia inspirada de Gustavo Hadba, coloca o filme em um patamar elevado. Há ângulos inusitados e enquadramentos muito bem feitos, que se utilizam de recursos como o contraste exacerbado entre luz e sombra para contar a história com muito mais dramaticidade e um inegável requinte visual.

Outro ponto positivo de Faroeste Caboclo é o elenco. Além de Boliveira (João de Santo Cristo) temos Ísis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias), César Troncoso (Pablo) e Antônio Calloni (como o detetive Marco Aurélio) em atuações que vão de competentes (no caso de Valverde) há inspiradas (Abib, Pablo e Calloni). Como nota negativa apenas a participação praticamente nula do falecido Marcos Paulo como o Senador Ney, pai de Maria Lúcia, personagem totalmente dispensável.

Como já dito, o filme é baseada na canção, mas não é literal à ela. O roteiro parte da letra de Renato Russo e leva o espectador para outro lugar, fiel à trama, mas muito mais autêntico e doloroso. Essa escolha torna a trajetória de Santo Cristo ainda mais cruel, tornando quase impossível a não identificação com o personagem. O filme não economiza ao mostrar cenas fortes e até mesmo brutas, e essa escolha só intensifica o clima de realidade que transborda da tela.

Em comparação ao outro filme envolvendo a Legião Urbana lançado recentemente, Somos Tão Jovens, Faroeste Caboclo ganha de goleada. Enquanto Somos Tão Jovens peca pela produção precária, mas ganha na homenagem sincera que faz aos primeiros anos da carreira de Renato Russo, a obra de René Sampaio é cinema de verdade. A cena do esperado duelo entre Santo Cristo e Jeremias, ápice do filme, bebe direto na fonte do diretor italiano Sergio Leone, variando planos fechados nos olhos dos protagonistas com cortes secos para outros pontos da tela, fazendo com que, mesmo inconscientemente, a associação com o grandes clássicos do faroeste seja imediata.

Faroeste Caboclo é um grande filme, que faz juz à história criada por Renato Russo e a torna ainda mais forte e atual. Além disso, revela um diretor cheio de talento, que mostra talento e potencial para brilhar muito em seus próximos projetos.

Compre já a pipoca e o refrigerante, porque vale muito a pena.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Divertida Mente (2015)

15:48

A pequenina Boo invade o mundo dos sonhos e revela toda a doçura, medos e alegria dos monstros que amedrontam os pesadelos infantis. E assim a gente assistiu Monstros S/A, a obra-prima lançada pela Pixar em 2001. 

Carl conhece Ellie, e juntos vivem uma linda história de amor. A sequência embaixo da árvore, onde revelam seus sentimentos e vêem a vida passar, culminando com seguidas tentativas fracassadas de ter filhos, é uma das mais sentimentais do cinema. Tá tudo lá, em Up - Altas Aventuras.

Estes eram os meus dois filmes preferidos da Pixar até hoje. Também gostei muito de Procurando Nemo, Os Incríveis, Carros, Ratatouille e o magnífico Toy Story 3 e sua fábula sobre o fim da infância, mas tanto Monstros S/A quando Up estão acima destes outros, pra mim.

Mas eles acabam de ganhar companhia. Divertida Mente (Inside Out, no título original) é facilmente um dos melhores trabalhos de toda a história da Pixar. Um filme belíssimo, que retrata com sensibilidade e feeling o mar de emoções que é a vida de uma menina pré-adolescente de 11 anos, Riley Anderson, filha única, que acaba de se mudar com sua família para uma nova cidade, uma nova escola, com novos amigos.

A ideia por trás de Divertida Mente é simples e sensacional. No roteiro, a mente humana é controlada por cinco emoções: alegria, tristeza, medo, raiva e nojo. São elas as responsáveis por guiar cada um de nós pelas experiências que a vida nos revela, reagindo de acordo com cada situação e gerando as memórias marcantes que irão moldar a personalidade de cada indivíduo. A turma é liderada por Alegria, sempre cheia de energia e uma líder nata. Mas, então, acontece algo que leva Alegria e Tristeza para fora da central de controle que faz com que Riley reaja ao mundo, e ela passa a ser guida apenas pelo Medo, pela Raiva e pelo Nojo. Enquanto isso, Alegria e Tristeza partem em uma jornada pelos confins da mente da menina, encontrando o Trem do Pensamento, a Produção de Sonhos, a Ilha da Imaginação, o Subconsciente e tudo mais.

O que temos em Divertida Mente é um roteiro profundo e inteligente, que usa o aspecto lúdico para retratar um assunto pra lá de complexo e complicado: a depressão. No caso, a depressão pré-adolescente, quando, em pleno processo de formação de sua personalidade, Riley é retirada de seu mundo e vai com os pais para uma nova cidade, com gente estranha por todos os lados. Ela se sente sozinha, desamparada, e não tem mais a Alegria para lhe dar esperança, e sim apenas as decisões tomada pelo trio Raiva, Medo e Nojo.

É um filme belíssimo, com diálogos inspirados e uma conclusão que transborda feeling, onde entendemos a importância e o papel de cada uma das cinco emoções básicas que controlam a nossa personalidade.

Divertida Mente é um dos melhores filmes da Pixar, com certeza, e é também a sua obra mais sensível e tocante.

Carl e Boo ganharam uma nova campanhia. Tenha 11, 20, 30 ou 40 anos, você vai gostar de Riley.


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