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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Papai é Pop, livro do Marcos Piangers

17:29

Marcos Piangers é um jornalista e radialista muito popular em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Ele faz parte da equipe do programa Pretinho Básico, a maior audiência da Atlântida, rede de rádios do grupo RBS destinada ao público jovem. Na verdade, o Piangers é, disparado, o melhor e mais engraçado dos comunicadores do programa.

Tudo isso fez com que a RBS abrisse mais espaço para o rapaz, dando uma coluna semanal para o Marcos no jornal Zero Hora, onde ele fala da experiência de ser pai. E é justamente a reunião dessas crônicas do dia a dia e das aventuras da paternidade que compõe o primeiro livro do jornalista.

O Papai é Pop acaba de chegar às livrarias, e é uma delícia. Dono de um texto leve e divertido, Marcos Piangers conta em cada uma das páginas do livro as experiências que viveu e segue vivendo ao lado de suas duas filhas - Anita, de 8 anos, e Aurora, de 2. Pra quem já teve a alegria de ter um filho, é impossível não se identificar com os relatos de Piangers - até porque, mudando apenas o nome dos personagens, são situações bastante similares às que experimentamos ao lado de nossos próprios filhos.

Com 112 páginas impressas em papel de alta gramatura, capa dura e uma direção de arte que transpõe para o papel a leveza e o alto astral dos textos, O Papai é Pop é uma leitura fácil e divertidíssima, que garante sorrisos e reflexões de maneira simultânea. É um retrato interessante dessa geração da qual eu e o Piangers fazemos parte, esses pais de 40 e poucos anos que são muito diferentes dos nossos pais. Garotos adultos que consomem cultura pop em excesso, que dividem com seus filhos o gosto por séries, HQs, cinema e música de uma maneira impensável em um passado não tão distante. Ao relatar em suas crônicas as aventuras, e também os medos e anseios dessa geração, Piangers consegue proporcionar uma identificação instantânea e imediata com o leitor, sensação que é intensificada pelo bom humor onipresente.

O Papai é Pop é um livro delicioso e indicado para pais, mães, filhos e todo mundo que deseja saber mais sobre esse animal tão fascinante: nós, os seres humanos. Aproveite que o Dia dos Pais está chegando e dê de presente pro seu, ou pra você mesmo.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Toda a história do heavy metal, contada em um livro obrigatório

14:56

Desconheço gênero musical mais apaixonante que o heavy metal. A força de suas guitarras conquista novos fãs todos os dias, ao mesmo tempo em que renova os votos de velhos parceiros a todo momento. Suas letras, seja quando contam histórias fantásticas repletas de seres mitológicos ou quando mergulham no lado mais escuro do ser humano, são relatos intensos e hipnotizantes. Sua mítica, suas lendas, seus ícones e sua tradição foram construídos através do apoio e da participação ativa dos fãs, personagens de importância fundamental em sua história.

O jornalista Ian Christe, nascido em 1970 na Suíça, entende tudo isso. Fanático por metal, Christe construiu uma sólida carreira na mídia especializada, tendo seus textos publicados em revistas como Kerrang!, Spin, Guitar World e outras, além de matérias em publicações como Wired e Chicago Reader. Como todo fã de metal, Christe se aventurou também pela música com a banda Dark Noerd the Beholder, que aparece na trilha do filme Gummo, lançado em 1997, e em alguns outros projetos.

Profundo conhecedor do gênero, pesquisador e colecionador do estilo, Ian Christe lançou em 2003 o livro Sound of the Beast: The Complete Headbanging History of Heavy Metal, que ganhou também uma muito bem-vinda edição brasileira. Já traduzida para onze línguas, aqui em nosso país a obra ganhou o título de Heavy Metal: A História Completa – e faz jus a essa expressão.

As 480 páginas passam a limpo a trajetória da música pesada, desde o seu início até os dias atuais. Christe aponta - de maneira correta, por sinal – o lançamento do primeiro álbum do Black Sabbath, em 13 de fevereiro de 1970, como o marco zero do estilo, e seu texto parte desse ponto. É nítida a paixão do escritor pelo heavy metal, e isso transparece claramente em suas palavras, dando um ar épico, mágico e fantasioso à cada página.

Organizado em vinte capítulos (mais prólogo e epílogo), Heavy Metal: A História Completa é uma obra extremamente didática, que explica detalhadamente o surgimento do metal e de seus inúmeros subgêneros, e em como cada fato de sua história influenciou os músicos e os fãs, em um ciclo infinito que leva a novos caminhos sonoros e cria, consequentemente, novas linguagens musicais.


A parte dedicada aos primeiros anos do heavy metal é particularmente elucidativa, citando nominalmente os artistas que definiram as bases do estilo e que, muitas vezes, acabam sendo ignorados por ouvintes mais novos. Ir atrás de bandas como Flower Travellin' Band, Blue Oyster Cult, Captain Beyond, Bang e outras – além das obrigatórias Deep Purple e Led Zeppelin – leva ao conhecimento de ótimos discos muitas vezes relegados a um plano secundário, e torna o entendimento da evolução do gênero muito mais fácil e eficaz para o ouvinte.

A clareza do texto de Christe deixa óbvia a compreensão do quanto as bandas da New Wave of British Heavy Metal, ao afastarem-se das influências de blues tão evidentes nos pioneiros do metal (como o próprio Black Sabbath) e substituí-las pelas harmonias e melodias de grupos como Wishbone Ash e Thin Lizzy, deram ao gênero uma de suas características mais marcantes: o duelo faiscante de guitarras inventivas e inspiradas, traduzido em linhas melódicas volumosas e grudentas.

O embate entre as bandas glam de Los Angeles e a cena thrash da Bay Area é outro momento de destaque. Ian Christe reconhece a devida importância histórica de grupos como Quiet Riot, Mötley Crüe, Dokken, Ratt e outros, responsáveis não apenas por levar o som pesado para as massas ao alcançarem  vendas gigantescas e tornarem-se figuras habituais nas paradas da Billboard, mas também por viabilizarem o formato da MTV, já que a emissora cresceu e se consolidou com uma programação baseada, em sua grande maioria, em vídeos desses grupos.

Do outro lado da história, o enorme sucesso das bandas glam alimentou uma forte reação na vizinha San Francisco, onde grupos influenciados por Venom, Motörhead e pela NWOBHM iniciaram o desenvolvimento de um som mais agressivo aliado a uma imagem que era a antítese do visual glam – ao invés de roupas colantes e multicoloridas, as bandas da Bay Area vestiam-se com o trio básico tênis-jeans-camiseta. Liderados pelo Metallica, esses nomes fizeram nascer um dos mais sólidos, influentes e duradouros estilos do metal, o thrash.

O livro também prova que a queda de popularidade das bandas glam no início da década de 1990, ao contrário do conceito que é vendido de maneira equivocada por grande parte da mídia especializada brasileira, não foi causada pelo surgimento do grunge, mas sim pelos excessos - tanto estéticos quanto comportamentais – das próprias bandas, que acabaram esgotando e estagnando a cena. Esse fator, aliado à sólida reputação conquistada pelo Metallica e a posterior renovação e explosão comercial do Black Album, colocou a pá de cal que enterrou a turma de Los Angeles e maioria dos nomes clássicos do heavy metal. Qualquer movimento que viesse depois seria adotado pela mídia - calhou de ser o grunge, mas poderia ser qualquer outro.

A polêmica cena black metal norueguesa do início dos anos 1990 rende um dos melhores capítulos da obra. Christe contextualiza a relação dos noruegueses com a religião, e explica como o Cristianismo foi imposto de forma arbitrária no país há mais de mil anos atrás, gerando um descontentamento histórico e onipresente em toda a população. As bandas de black metal norueguesas, que foram responsáveis por discos fantásticos que influenciaram profundamente o estilo, também foram personagens de ações polêmicas como a queima de igrejas históricas, ataques a homossexuais e diversas iniciativas controversas que alcançaram o seu auge em agosto de 1993 com o assassinato de Euronymous, líder e guitarrista do Mayhem, por seu amigo e ex-colega de banda, Varg Vikernes. Todos esses acontecimentos são contados com clareza por Christe, em um dos capítulos mais esclarecedores de Heavy Metal: A História Completa.


Dois aspectos do texto da obra merecem uma crítica. O primeiro é o foco exageradamente centrado no Metallica em detrimento a outras bandas fundamentais do som pesado. É claro que o grupo de James Hetfield tem importância seminal no gênero, mas em alguns trechos o destaque é tanto que temos a impressão de estar lendo uma biografia da banda. Questionei este fato em uma entrevista que fiz com Christe em 2010, e ele argumentou afirmando que "como o livro aborda centenas de bandas eu precisava de um personagem central para usar como ponto de referência, e o Metallica foi isso. Pelo tempo que a banda possui de carreira, eles estiveram envolvidos na evolução do metal de maneira mais interessante que o Iron Maiden e o Judas Priest. Nos últimos dez anos o Metallica não contribuiu muito para o avanço do estilo, mas talvez eles leiam o livro e concluam que seu trabalho já foi feito! Em todo o caso, a influência do Metallica afetou toda a cena, do reconhecimento do Diamond Head ao fato de o Carcass ter assinado com uma grande gravadora, então a banda simplesmente não parava de aparecer em cada entrevista que eu fiz para o livro”. 

O outro é o fato de Christe ignorar totalmente alguns subgêneros e nomes importantes na história do som pesado. Toda a cena prog metal não é citada no livro, o mesmo acontecendo com os grupos de power metal. Independente de gosto pessoal, uma obra que ostenta o subtítulo The Complete Headbanging History of Heavy Metal não pode cometer um deslize como esse.

Ian Christe também faz inúmeras listas durante todo o livro, apontando os discos mais representativos de praticamente todos estilos do metal. Essas listas acabam servindo como guias para quem quer conhecer de maneira mais profunda cada um destes subgêneros, e possuem grande valia para os leitores.

Heavy Metal: A História Completa é um livro fundamental para qualquer fã de metal. A trajetória do gênero musical que tanto amamos é contada nos mínimos detalhes, em uma leitura extremamente prazerosa para todo fã de música pesada. Enfim, um livro recomendadíssimo, e que documenta o impacto e a força que o heavy metal teve - e continua tendo - na sociedade.

Para quem quer saber mais a respeito do trabalho de Christe, vale seguir de perto o catálogo da Bazillion Points, editora que ele comanda e que lançou vários livros excelentes explorando o universo metálico. 

terça-feira, 21 de julho de 2015

A épica batalha pela alma, e pelos lucros, dos Beatles

18:56

Existem inúmeros livros sobre os Beatles. Centenas, milhares de obras já analisaram a carreira da banda e de seus integrantes, partindo dos mais variados pontos e chegando às mais diversas conclusões. No entanto, nenhum é como A Batalha Pela Alma dos Beatles (Your Never Give Me Your Money: The Beatles After the Breakup, no título original), escrito pelo jornalista inglês Peter Doggett. O autor conta, através de uma pesquisa extensa e com grande riqueza de detalhes, a colossal disputa jurídica iniciada após o anúncio do fim do grupo e que envolveu John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr e praticamente qualquer pessoa que tenha cruzado o caminho do quarteto.

Baseado em inúmeras entrevistas com os quatro e com dezenas de pessoas que tiveram relacionamento com a banda e seus músicos (assistentes, familiares, roadies, jornalistas, amigos, ...), A Batalha Pela Alma dos Beatles é um livro notável ao lançar inúmeros focos de luz sobre os bastidores de um conflito épico e quase desconhecido do público em geral.

Traçando perfis profundos de Lennon, McCartney, Harrison e Starr, além de Yoko Ono, Linda McCartney, Brian Epstein (primeiro empresário), Allen Klein (substituto de Epstein e segundo empresário do grupo), Lee e John Eastman (respectivamente sogro e cunhado de Paul, e também responsáveis por seus negócios) e os funcionários mais próximos da banda, Doggett revela como os Beatles foram se dissolvendo lentamente desde a morte de Epstein em 1967, passando por longos confrontos jurídicos durante toda a década de 1970 e 1980, processo esse que resultou em rusgas e diferenças profundas e praticamente intransponíveis entre John, Paul, George e Ringo, além de uma contenda aparentemente infinita entre os clãs Lennon e McCartney.



A leitura proporciona um mergulho profundo na mecânica interna dos Beatles, esmiuçando não só como funcionava a banda legalmente, mas também como eram as relações entre seus integrantes. A forma como a Apple, empresa criada pelo quarteto e que tinha como objetivo ser o início de uma nova forma de fazer negócios, se metamorfoseou ao longo das décadas é impressionante, indo de ícone da contracultura à gigante do capitalismo.

Salta aos olhos a inocência que envolveu os negócios dos Beatles ao longo de sua carreira. A época era outra, mas a forma quase amadora com que a banda conduziu suas finanças e assinou contratos que depois se transformaram em enormes dores de cabeça, impressiona. A chegada do controverso Allen Klein ao universo Beatle, substituindo o falecido Brian Epstein, apenas realçou ainda mais os problemas administrativos do grupo. Notório por sua fama de mau caráter, Klein obteve o apoio quase incondicional de John, George e Ringo, e, simultaneamente, a antipatia imediata de Paul, razão pela qual as disputas entre os músicos acabaram indo parar nos tribunais.

Outro ponto que merece destaque e surpreende o leitor é o quão próximo o quarteto esteve de se reunir em diversas ocasiões até a morte de Lennon, em 8 de dezembro de 1980. Encontros não divulgados, intenções mútuas de aproximação, parcerias não finalizadas: o que não faltaram foram contatos pessoais e criativos entre os quatro músicos durante toda a década de 1970, principalmente entre Paul e John, deixando a banda a um passo de concretizar o sonho de milhões de fãs em todo o planeta.

Extremamente bem escrito e riquíssimo em informações, A Batalha Pela Alma dos Beatles é um livro sensacional. Não apenas uma obra indicada para fãs dos Beatles, mas, sobretudo, uma aula esclarecedora sobre como funciona a máquina administrativa e financeira por trás de uma grande banda, movida a milhares de contratos e zilhões de advogados. 

O sonho acabou em 1970, mas aqui ele mostra a sua verdadeira face, nem sempre agradável, porém sempre surpreendente. 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra, a biografia definitiva do Led Zeppelin

17:30

Tudo que cerca o Led Zeppelin, mesmo passados 35 anos do encerramento das atividades da banda com o falecimento do baterista John Henry Bonham em 25 de setembro de 1980, continua sendo superlativo. Basta relembrar da comoção que foi o show realizado na O2 Arena em dezembro de 2007 e os impressionantes números de venda que Celebration Day, o registro dessa apresentação, quando do seu lançamento.

Uma história tão grandiosa e repleta de lendas e mistérios como a vivida por Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones, John Bonham, o manager Peter Grant, seu assistente e leão de chácara Richard Cole e todos que cruzaram o caminho do Led Zeppelin em seus pouco mais de dez anos de vida merecia um registro à altura. Pois bem: ele existe e tem o pomposo título de Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra. É assim que se chama a biografia do grupo escrita pelo jornalista inglês Mick Wall, lançada originalmente na Europa e nos Estados Unidos em 2008 e um ano depois aqui no Brasil.

Mick Wall é um dos jornalistas de rock mais conhecidos e respeitados do Reino Unido. Iniciou a sua carreira na extinta revista Sounds em 1977, passou pela Virgin Records, fez parte da equipe que criou a Kerrang!, foi editor da Classic Rock e é presença frequente em diversos documentários e programas musicais. Além disso, iniciou em 1986 uma bem sucedida carreira como escritor, retratanto nas páginas de seus livros as histórias de ídolos como Ozzy Osbourne, Guns N’ Roses, Status Quo, Bono e diversos outros. São de Wall os dois principais livros publicados até hoje sobre o Metallica (Enter Night - Metallica: The Biography, lançado em 2012 no Brasil com o título de Metallica: A Biografia) e Iron Maiden (Run to the Hills: The Authorised Biography, também disponível em edição nacional).

Quando os Gigantes Caminham Sobre a Terra saiu por aqui em uma belíssima edição publicada pela Larousse. Com 520 páginas, capa dura - cuja arte é diferente da edição original -, papel diferenciado e impressão primorosa, é um deleite para qualquer fã de rock. Wall conta a história sempre partindo de flashbacks montados a partir de sua imensa pesquisa, entrevistas e depoimentos. A prosa de Mick, escritor de mão cheia e que sabe como prender o leitor, faz a já fantástica trajetória do Led Zeppelin ficar ainda mais mítica e épica.

Partindo do início do grupo, do exato momento em que Jimmy Page se viu sozinho nos Yardbirds e saiu em busca de músicos para montar a banda dos sonhos que tinha formatado em sua mente, Wall conta, com grande riqueza de detalhes, tudo o que envolveu o Led Zeppelin em sua pouco mais de uma década de vida. Estão no livro os triunfos, os sucessos, e também o lado negro do quarteto, seja nas depravadas e antológicas experiências com groupies, no consumo industrial de bebidas e drogas, e também a violência e truculência com que Peter Grant e Richard Cole tratavam qualquer pessoa que cruzasse os caminhos e interessas da banda.


Um dos maiores méritos da obra é mergulhar, de maneira inédita, no interesse de Jimmy Page pela obra de Aleister Crowley e o ocultismo, tão comentado mas pouquíssimo documentado. O livro dedica um longo capítulo, com mais de 50 páginas, para esmiuçar a fundo o envolvimento de Page com Crowley e a magia, e em como a paixão do guitarrista pelo tema influenciou a carreira da banda. Esse capítulo é exemplar, lançando luz sobre um aspecto da vida de Page sempre cercado por sombras.

O retrato do grupo no auge, hipnotizando plateias em turnês gigantescas pelos Estados Unidos durante a primeira metade da década de 1970, também demonstra a razão que faz do Led Zeppelin uma banda gigantesca e profundamente influente na cultura norte-americana até hoje. Apesar de ingleses, seguindo a orientação do astuto e competente Grant, desde o início da carreira o grupo focou todas as suas forças na conquista do no mercado americano, e essa decisão se mostrou acertada, com os discos do Led batendo recordes e estabelecendo novos patamares de vendas, e também de público, não só nos Estados Unidos, mas em todo o planeta.

Mick Wall não esteve preso a nenhuma limitação ao fazer a sua pesquisa para escrever Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra. Isso faz com que o livro não se furte de documentar o quão profundos foram os problemas de toda a banda, e também de Peter Grant e Richard Cole, com as drogas. Page e Bonham sempre foram os mais descontrolados, vivendo a persona de rock stars ao extremo, enquanto Plant e, principalmente, John Paul Jones, eram mais controlados - pero no mucho. O vício de Jimmy Page em álcool, cocaína e heroína o levou ao fundo do poço durante a década de 1980, e essa acabou sendo a maneira que o músico encontrou para superar a morte do parceiro de banda e de vida, Bonzo.

A vida pós-Led dos músicos também merece muita atenção de Wall. Esmiuçando a carreira solo de Plant, mostrando o trabalho de produtor e arranjador de John Paul e relatando a busca por um novo caminho de Page, o livro demonstra como, apesar de separados, os três músicos sempre tiveram os seus destinos cruzados ao longo dos anos. É possível perceber, ao chegar ao fim da leitura, as razões pelas quais Robert não deseja o retorno da banda e, ao entender os motivos do vocalista, é impossível não simpatizar com o seu lado.

Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra é a melhor biografia sobre uma banda de rock já publicada, superando até mesmo The Beatles, o gigantesco tratado escrito por Bob Spitz e que conta com quase 1.000 páginas. Se você gosta de música, de rock, de literatura, ou simplesmente de uma jornada épica e que beira o inacreditável, irá se deliciar com o livro.

Leia em alto e bom som!

A livraria flutuante, Salvador Dalí em Wonderland, José Mourinho e Paul Pogba

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Iron Man: Minha Jornada com o Black Sabbath, a autobiografia de Tony Iommi

18:09

Iron Man: Minha Jornada com o Black Sabbath, biografia de Tony Iommi escrita com a colaboração de T.J. Lammers, é um livro delicioso. A obra conta toda a trajetória de Anthony Frank Iommi à frente e na liderança da mais importante e influente banda de heavy metal de todos os tempos, revelando dezenas de detalhes e histórias de bastidores que tornam a leitura repleta de surpresas em todas as páginas.

Escrita de uma maneira simples e composta por capítulos curtos, Iron Man é uma obra muito fácil de se ler. A degustação é agradável e sem esforço, o que torna o livro atrativo até mesmo para quem não está acostumado com o hábito da leitura. As 400 páginas voam embaladas por revelações que, se não tivessem saído da boca de um dos protagonistas, pareceriam mais lendas urbanas do que acontecimentos reais.

Partindo da infância de Iommi e indo até mais ou menos 2010, passando no caminho pelo período pré-Black Sabbath, pelos primeiros anos da banda, o estrelato, o consumo de drogas em quantidades industriais, o processo de composição e gravação de cada disco, a saída de Ozzy e a chegada de Dio, o curto tempo com Ian Gillan, os rumos incertos vividos durante as décadas de 1980 e 1990, a reaproximação com Ozzy e o surgimento do Heaven and Hell, o livro não economiza ao contar uma das histórias mais impressionantes do mundo musical. De garotos desacreditados e sem esperança de Birmingham ao topo do mundo, a obra acompanha toda a saga da banda que criou o heavy metal nas palavras de seu principal músico, compositor e líder.

Entre os trechos mais curiosos, as loucas vidas de Ozzy e Bill Ward se destacam. É de se impressionar que ambos ainda estejam vivos levando-se em conta o que fizeram e nos é contado por Tony. A relação com Ronnie James Dio também rende ótimos momentos na obra, assim como a curta passagem de Ian Gillan pelo Black Sabbath, cujo fruto é o discutível Born Again, disco lançado em 1983.

Tony Iommi soa franco em todo o livro, e, apesar de evitar críticas mais pesadas aos principais colegas de banda, as faz quando elas são mais do que necessárias - que o diga Glenn Hughes.

Como ponto negativo na edição nacional deve-se mencionar o erro de tradução que afirma que o pai de Iommi nasceu no Brasil. O texto original não diz isso, e essa falha acabou tomando outra proporção na edição brasileira. 

Tirando esse pequeno deslize, que certamente será corrigido nas edições futuras, Iron Man: Minha Jornada com o Black Sabbath é um livro rico em informações, ainda mais em um mercado como o nosso, onde a bibliografia sobre a banda mais importante da história do metal é escassa.

Tem que ter, e tem que ler!


sexta-feira, 15 de maio de 2015

Cem Anos de Solidão

15:15

Já li Cem Anos de Solidão três vezes nesta vida. O livro do escritor colombiano Gabriel García Márquez, publicado originalmente em 1967, é um dos textos mais surreais em que já bati os olhos. A história da família Buendía e sua Macondo é de uma riqueza criativa fantástica.

Cheguei ao livro por acaso. Meu falecido avô, Ernani, o qual não conheci, foi montando uma grande biblioteca ao longo da vida. Que, com os anos, seguiu sendo alimentada pela minha avó, Amélia. E como meus pais ficaram com a casa que era dos meus avós, grande parte desta biblioteca estava sempre lá, à disposição de quem se interessasse em se aventurar por ela. Algo que eu sempre gostei. Lembro da enorme coleção da revista Seleção, da Reader’s Digest, com exemplares originais das décadas de 1950 e 1960. E dos muitos livros que habitavam aquelas prateleiras.

Em uma dessas incursões, encontrei um exemplar de Cem Anos de Solidão. Já meio detonado, com a capa rasgada, mas com o conteúdo intacto. Uma edição brasileira do início dos anos 1970. E como já havia lido sobre a importância do livro, resolvi lê-lo, literalmente. É claro que não me arrependi.

O texto de García Márquez é, pra dizer o mínimo, incrível. As palavras prendem o leitor, que devora páginas e mais páginas faminto por informações e pelo destino dos membros da família Buendía, que possuem as mais diversas histórias. Do patriarca que enlouquece e se metamorfoseia em uma grande árvore ao filho que se transforma em um dos grandes generais de seu país. Dos amores proibidos às desavenças, tudo está ali. E, lá no fim, você se depara com um parágrafo gigantesco, praticamente sem pontuação, onde a história alcança um dos seus clímax e te deixa praticamente sem ar.

Meu primeiro contato deve ter sido na entrada dos 20 anos. Mais tarde, li novamente na casa dos 30. E, mais recentemente, devorei novamente as páginas desta obra-prima já com a maturidade tardia dos 40 anos - ou a adolescência eterna, imaturidade congênita, por aí vai.

Vou reler Cem Anos de Solidão durante todas as décadas da minha vida. Uma passada por suas páginas a cada dez anos, para reativar o cérebro e relembrar que tudo, absolutamente tudo, é possível. Tenho ainda umas três releituras pela frente, e a certeza de que em todas serei surpreendido pelo texto imortal e absolutamente fantástico de Gabriel García Márquez.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Três livros sobre futebol

09:09

Estou lendo três livros sobre futebol. O primeiro é A Rainha de Chuteiras, de Marcos Alvito, que traz o relato do ano em que o autor passou acompanhando o futebol na Inglaterra, em todas as suas divisões. Da milionária Premier League às apaixonantes e revigorantes divisões inferiores, Alvito conta em detalhes o que presenciou no Reino Unido, incluindo uma passagem pela Escócia para assistir ao Celtic, é claro. Ainda que o discurso às vezes resvale no clichê “público de teatro” dos estádios dos grandes clubes ingleses, a leitura vale a pena. E vale também uma pergunta: a violência foi extinta, os times tem torcedores em todo o mundo e a EPL é o campeonato mais lucrativo do planeta. Se há alguma coisa errada, não é lá, mas sim aqui, no nosso ex-país do futebol.

O segundo é Os Números do Jogo, de Chris Anderson e David Sally, um tratado em defesa do uso da estatística e dos números nos campos de futebol. A dupla expõe como o entendimento desses dados pode fazer a diferença entre as quatro linhas, com relatos e exemplos práticos, além de mostrar como essa coleta de informações se dá. Muitíssimo interessante.


E o terceiro é O Jogador Secreto, livro escrito por um ex-jogador inglês com passagens pelo British Team e por todas as quatro principais divisões do país. O atleta conta, através do relato de uma temporada mês a mês, os casos, situações, curiosidades e bizarrices que presenciou em sua carreira, quebrando a idolatria e mostrando o quão peculiar é o mundo dos jogadores de futebol, jovens e milionários, adulados e cheios de interesseiros ao redor. A identidade do autor é até hoje desconhecida, mas alguns nomes são associados ao livro. Dave Kitson, com passagens pelo Reading, Stoke e Portsmouth, é um deles. Outro é Andy Johnson, atualmente no Crystal Palace, e que já vestiu as camisas do Everton, Fulham e QPR, entre outros. E há nomes mais famosos entre os suspeitos, como Michael Owen, Gary Neville e Andy Cole, todos com passagens pelos grandes clubes ingleses. Independente disso, a leitura é deliciosa e recomendada pra quem curte o esporte.

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