sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Um disco por dia: Benny Carter - Jazz Giant (1958)

19:00

Nascido em 8 de agosto de 1907 em Nova York, Benjamin Lester Carter foi um saxofonista, multi-instrumentista, arranjador, compositor e bandleader norte-americano. Sua longa carreira contém uma das mais extensas, influentes e cultuadas trajetórias da história do jazz.

Apreciador do sax alto, Carter também tinha grande habilidade e técnica no trompete e dominava igualmente o clarinete, o piano e o trombone. Grande improvisador, fazia o som do seu saxofone flutuar sobre harmonias complexas, que geravam agradáveis melodias aos ouvidos. Benny Carter foi também um dos criadores das big bands, antecipando conceitos harmônicos que seriam utilizados mais tarde no bebop.

Jazz Giant, lançado em 1958, é um dos pontos mais altos de sua carreira, e um documento da época em que o swing dava as cartas no gênero. Cercado por músicos da costa oeste - além do próprio Carter no sax alto e no trompete, o grupo era completado pelo também cultuado Ben Webster no sax tenor, Frankie Rosolino no trombone, Andre Previn e Jimmy Rowles no piano, o excelente Barney Kessel na guitarra, Leroy Vinnegar no baixo e Shelly Manne na bateria -, Benny conduz os instrumentistas em uma das sessões de jazz mais iluminadas, e abençoadas, do século XX.

O disco é um deleite aos ouvidos. Os solos de Carter são gentis e elegantes. Webster complementa e se contrapõe a Benny, entrelaçando sons de seu instrumento às harmonias conduzidas por Carter. Kessel brilha intensamente, com um trabalho e um timbre de guitarra que demonstram que o instrumento não serve apenas para criar pesados e distorcidos riffs, como muita gente pensa.0

Entre as faixas, momentos sublimes como a abertura, "Old Fashioned Love"; a versão arrepiante de "I´m Coming Virginia"; o ritmo quebrado e contagiante de "Blue Lou"; a clássica "Ain´t She Sweet", perfeita para se ouvir caminhando sem rumo por aí; "How Can You Lose", com passagens arrepiantes de Carter no trompete; e a jam "Blues My Naughty Sweetie Gives to Me", que fecha o play com gostinho de quero mais.

Ainda assim, nada se compara ao andamento repleto de malícia e sensualidade de "A Walkin´ Thing", uma daquelas composições que tem o poder, já em suas primeiras notas, em seus primeiros segundos, de nos transportar para mundos desconhecidos e maravilhosos, repletos de cores e sensações que hipnotizam de tal maneira que fazemos questão de sempre voltar para lá.

Enfim, como já li em vários artigos, Benny Carter é provavelmente o maior bandleader desconhecido da história do jazz, o que a simples audição desse disco já comprova ser uma gigantesca injustiça.

Jazz Giant é um daqueles álbuns que, por mais que fiquem bonitos em sua estante, funcionam melhor ainda quando teimam em não sair do aparelho de som. Faça a experiência: coloque o disco para tocar e daqui a algumas semanas, quando você já o tiver ouvido dezenas de vezes e ainda sentir o mesmo frescor inicial da primeira audição, me diga se eu não estou correto.

Todos os dias, um review analisando um título da minha coleção. Pra ouvir na boa e de bem com a vida.

10 opiniões sobre Forged in Fury, novo álbum do Krisiun

12:44

O retorno do Krisiun com Forged in Fury é um dos lançamentos mais aguardados pelos fãs de metal neste ano. E a recepção do álbum tem sido bastante positiva na imprensa especializada, como mostram as opiniões abaixo.

A questão é a seguinte: Forged in Fury não é perfeito, mas entrega o sempre bem-vindo death metal old school brasileiro. O disco é pesado e cru, e merece ser ouvido.
Metal Sucks

O álbum é uma salada de riffs da melhor safra, decorado com impressionantes performances individuais, embora algumas peças obsoletas de alface e anchovas façam a gente torcer um pouco o nariz. Sendo o Krisiun uma banda frequentemente ofuscada pelos seus conterrâneos do Sepultura e outros nomes do death moderno como o Nile, Forged in Fury não tem força suficiente para colocar o grupo no status de novos salvadores da cena, mas é um álbum agradável de death metal, honrando o legado do trio.
Angry Metal Guy

Forged in Fury é um bem-vindo retorno do principal nome do death metal brasileiro. O disco entrega alguns momentos de brilhantismo musical, mas não será um divisor da águas para a banda.
Sputnik Music

O Krisiun expandiu o seu som em Forged in Fury, em um movimento que incorporou elementos não tão diferentes por si só, soando mais como um ajuste dentro do que a banda conhece. E assim, entregam um álbum que, simultaneamente, consegue se manter fiel à sua sonoridade e se aventurar por um território mais amplo.
Metal Injection

Enquanto o Krisiun se manter fiel ao seu som, manterá de maneira consistente a sua capacidade de criar um death metal brutal e técnico. O legado da banda é bem conhecido, e Forged in Fury segue levando isso adiante.
Skull ’n' Bones

O Krisiun chega ao auge de sua carreira com Forged in Fury. Aqui está a diferença entre líderes e seguidores. A banda brasileira sempre pertenceu à primeira categoria, e isso está mais claro do que nunca em 2015.
Metal Hammer

Seguindo os trabalhos recentes, as músicas extremamente velozes dividem espaço com passagens mais cadenciadas e lentas, explorando cada vez mais a variação de ritmos e tempos. Mas a brutalidade sonora predomina. Os músicos mostram a forma de sempre e, graças à ótima qualidade da gravação, fica fácil analisar o que cada um tem a oferecer. Forged in Fury amplia com valor o catálogo da banda e comprova que mudar, a essa altura, não vale a pena.
Rolling Stone

Fãs do Krisiun, headbangers das antigas e fãs de qualquer uma das bandas de Max Cavalera vão adorar este disco. Forged in Fury é bateção de cabeça pura!
Metal Obsession

No meio de “Soulless Impaler”, Alex Camargo rosna: “você não pode matar o que não pode morrer”. Isso resume o Krisiun e seu implacável ataque de metal extremo. Um disco essencial!
Toxic Online

Vinte anos se passaram, e a fórmula perdeu o brilho. Como fã, espero e torço por algo especial e muito melhor no próximo disco.
The Sludgelord


A infância perdida de Daenerys Targaryen, o segundo disco do Boogarins e o que muda quando você tem um filho

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

10 opiniões sobre Archangel, novo álbum do Soulfly

14:32

Compilei dez afirmações sobre Archangel, novo disco do Soulfly, retiradas de reviews publicados pela mídia especializada. De uma maneira geral, o álbum recebeu elogios entusiasmados, com um ou outro veículo fazendo críticas mais pesadas. 

Ainda não ouvi o disco. E vocês? O espaço nos comentários está disponível pra quem quiser dar a sua opinião sobre o play.

Devido a sua impressionante discografia, Max Cavalera pode ter cometido alguns deslizes em sua carreira, o mais claro deles o desigual Conquer (2008). A experiência com o irmão Iggor em Pandemonium, lançado pelo Cavalera Conspiracy no ano passado, claramente ajudou Max a mostrar os dentes novamente. Archangel é o álbum mais pesado e emocionante que o ícone do metal gravou em anos. São apenas 36 minutos de música, um esforço colossal! Bem-vindos de volta, caras!
Team Rock

Há grandes momentos em Archangel, um trabalho sólido e agradável com potencial para colocar o Soulfly de volta aos holofotes, onde a banda esteve no final dos anos 1990 e início da década de 2000. Archangel possui um título adequado, conduzindo o Soulfly para um estilo mais maduro, iniciando o próximo passo da jornada mística e musical da banda.
Metal Injection

Archangel é o trabalho mais ousado e refrescante do Soulfly desde Prophecy (2004).
Blabbermouth

Archangel é um disco matador! As dez faixas estão espalhadas por densos 36 minutos, onde nenhum riff se perde e nada soa desnecessário. O Soulfly sempre foi uma banda sólida, com uma forte base de fãs, mas agora a banda realmente deu um passo à frente. Aqueles que não escutam o grupo há tempos irão se surpreender com o disco.
Loudwire

Gosto de muito do que Max Cavalera já produziu, e admiro a sua contribuição para o metal. Mas, analisando este disco, acho que é um bom momento para Max dar um passo atrás e recarregar as suas baterias criativas. Os últimos álbuns do Soulfly e do Cavalera Conspiracy são fracos, e Archangel segue a mesma linha. Ordens médicas para Max Cavalera: fique longe dos estúdios pelo menos até 2017!
Angry Metal Guy

De maneira geral, pode-se afirmar que o Soulfly está de volta ao jogo com seu novo disco. Eles nunca poliram nada e sempre deixaram claro o seu amor pelo metal, vendendo suas almas para o gênero.
Metal Temple

O Soulfly prova, mais uma vez, que éuma banda que merece reconhecimento. Archangel é, definitivamente, o seu trabalho mais diversificado e consistente até agora.
Skulls 'n' Bones

A fórmula Cavalera funciona melhor do que nunca, transformando Archangel em desejo de consumo para todo e qualquer fã de metal.
Metal.de

Archangel não irá convencer quem nunca curtiu o Soulfly, mas é uma adição significativa ao catálogo da banda e facilmente muito melhor que o disco anterior, Savages.
About Heavy Metal

Deve ser difícil para uma banda gravar o seu primeiro álbum realmente bom apenas dezoito anos depois da sua criação, e ainda por cima ser apontada como um dos ícones responsáveis por um dos gêneros musicais mais deploráveis já paridos, o nu-metal. Archangel dá sequência à inclinação recém-descoberta do Soulfly em direção ao metal extremo, iniciada em 2012 com Enslaved. O disco está longe de soar inovador, mas possui potencial.
Metal Sucks

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

10 opiniões sobre Meliora, novo álbum do Ghost

18:34

Ainda não ouvi o novo álbum do Ghost. Meliora será lançado no próximo dia 21, mas já foi disponibilizado na íntegra pela banda. E, é claro, a imprensa já recebeu o trabalho para avaliação. Abaixo estão dez opiniões sobre o disco, retiradas de artigos publicados em veículos como Metal Hammer, Classic Rock, Angry Metal Guy, Rolling Stone e outros. 

Pelo jeito, a aclamação será coletiva.

Não sabia o que esperar de Meliora, e o Ghost me surpreendeu novamente. Lamento ter duvidado dos poderes sobrenaturais do grupo. É raro uma banda mega-hypada como os suecos fazer juz a tudo que se fala sobre ela, mas é exatamente o que acontece nesse novo disco. Excelente!
Angry Metal Guy

Variando entre o AOR das décadas de 1970 e 1980 e um talento inato para o pop progressivo, o Ghost continua a desenvolver o seu próprio estilo e entrega o seu álbum mais forte até agora.
Sputnik Music

Quando se tem uma banda cheia de truques como o Ghost, o impacto visual e as respostas afiadas nas entrevistas carregam o seu nome até um certo ponto. Para ir adiante e sobreviver a longo prazo é preciso conteúdo e substância, e os suecos entenderam isso. O grupo tem composto canções mais fortes a cada disco, mas ainda estão longe de lançar uma obra-prima completa. Talvez em seu próximo trabalho, o Ghost consiga encontrar o equilíbrio entre os anseios de seu público e a liberdade artística que busca incessantemente.
The Quietus

A banda sueca conseguiu conjurar um terceiro álbum incrivelmente bom. Por baixo do carisma e do espetáculo lúgubre, bate o coração de uma banda muito competente. Meliora é facilmente o melhor disco do grupo, com uma execução primorosa e uma coleção de canções que consegue soar, de maneira simultânea, tão pesada quanto o Metallica e tão melodicamente sofisticada como o ABBA.
Classic Rock Magazine

Meliora é um trabalho superior a seus antecessores, e mostra o Ghost evoluindo de forma surpreendente. Se a banda continuar com esse direcionamento, caminha para deixar o posto de novidade excêntrica para se firmar entre os grandes nomes do rock.
Igor Miranda

Cercado de boas companhias entre seus admiradores, o sexteto conduz uma nova geração que renova o fôlego do rock em um mercado fortemente abatido por uma realidade com a qual não soube lidar e agora paga o preço. Sério candidato a disco do ano. E sim, o título se justifica.
Van do Halen

Meliora vem do latim e significa “melhor”. No entanto, este não é um disco exatamente melhor que Infestissumam. Ambos tem a mesma estrutura e as mesmas fórmulas e méritos. É um bom álbum, mas não avança muito musicalmente. Seria interessante o Ghost aproveitar a mudança de Papa a cada novo disco e começar a inovar também na forma musical. Mal não faria a seu culto.
Eu Escuto

Meliora é um álbum para definir a carreira do Ghost e colocar Papa Emeritus e seus demônios no topo do hard rock e do metal. Saúdem o Ghost e sua obra-prima!
Metal Injection

Os suecos invocam um êxtase eclesiástico em seu novo disco. Uma coleção diversificada e emocionante de pesadelos melodicamente afiados que gotejam em riffs e solos, embalados em um brilho doce com as reconhecíveis harmonias da banda. Se os Beach Boys e os Mamas and Papas resolvessem tocar como o Iron Maiden, soariam próximos ao Ghost.
Metal Hammer

O Ghost forjou o seu próprio estilo de música: o metal de púlpito. Adorada por Phil Anselmo e Dave Grohl, a banda explora novos temas em Meliora. Todas as canções reafirmam a conhecida musicalidade da banda, com riffs que se curvam aos seus mestres, o Metallica. O fechamento, com “Deus in Absentia”, entrega uma linda melodia acompanhado por um coro fantástico. Melioria merece muita atenção, toda ela merecida.
Rolling Stone Australia

terça-feira, 18 de agosto de 2015

10 exemplos de como 2015 está sendo um ótimo ano para a música - Parte 1

18:51

É uma contradição, e confesso que tenho uma dificuldade enorme em entender este comportamento. Explico: em tempos como esse, onde o acesso ao trabalho de todo e qualquer artista é praticamente instantâneo através de uma simples pesquisa nas mais variadas plataforma (YouTube, Spotify, Google, redes sociais), parece que mais e mais gente se contenta em manter o ouvido focado confortavelmente nos mesmos sons de sempre.

Não é o meu caso. E sigo confessando: é muito bom ter esta atitude. 2015 está sendo um grande ano para a música, com ótimos discos nos mais variados gêneros. Basta ser um pouco curioso e inquieto para descobrir e entrar em contato com trabalhos excelentes, como os que estão listados abaixo. 

São apenas 10 discos, mas poderiam ser 20, 30, 50. E serão, porque escreverei posts semelhantes a esse de tempos em tempos. Peguei uma dezena de títulos, e escrevi pequenos textos explicando o que você irá encontrar em cada um deles. 

Vem comigo e vamos mergulhar juntos neste grande e imenso oceano musical!


The Mighty Mocambos - Showdown

Terceiro álbum deste combo, Showdown é uma jóia funk cheia de embalo, groove e balanço. O The Mighty Mocambos tem uma sonoridade rica e contagiante, dando um passo à frente em relação aos seus dois discos anteriores - This is Gizelle Smith & The Mighty Mocambos (2009) e The Future is Here (2011). Encaixando muito bem as peças do seu quebra-cabeça sonoro, o grupo dá ao ouvinte uma usina sonora repleta de referências essenciais, do jazz ao funk setentista, da disco music ao pop. A cereja do bolo são as participações especiais de nomes como Afrika Bamabaataa, presente em três das onze faixas.


London Afrobeat Collective - Food Chain

Um trupe multinacional com canções com ritmos fortes e letras idem, explorando temas políticos. O London Afrobeat Collective se posiciona claramente em aspectos como a imigração e a economia europeia, a comunidade comum e o impacto disso no dia a dia dos ingleses e de quem mais vive na capital do Reino Unido. Com dois EPs no currículo e dois álbuns, o LAC é uma hidrelétrica musical funcionando a pleno vapor. Food Chain, segundo álbum da banda, é um dos grandes e essenciais discos de 2015 até agora.


Leon Bridges - Coming Home

Uma das mais agradáveis novidades do ano, Leon Bridges vem de Atlanta e traz consigo toda a rica tradição de uma das capitais da música norte-americana. Coming Home, seu disco de estreia, foi lançado no final de junho e vem carregado como toda a herança do soul, em dez faixas que seguem a linha evolutiva de ícones como Otis Redding. Apesar da pouca idade, Bridges mostra grande maturidade, entregando interpretações vocais repletas de classe e feeling. Não tem como não gostar.


Sister Sparrow and the Dirty Birds - The Weather Below 

Tendo os irmãos Arleigh (vocal) e Jackson Kincheloe (gaita) à frente, o Sister Sparrow and the Dirty Birds (é deles a foto principal deste post) é uma banda nova-iorquina dona de evidente e explícito talento. O grupo já tem três discos no currículo, sendo que o mais recente, The Weather Below, é uma delícia deliciosa - com pleonasmo e redundância, mesmo. A praia aqui é um soul pop, o chamado blue-eyed-soul: ou seja, o tradicional gênero negro interpretado por artistas brancos e acrescido de bem-vindas pitadas de rhythm & blues. Chiclete ao extremo: é ouvir e não desgrudar mais!


Kamasi Washington - The Epic

Não seria um equívoco, em uma análise simplificada, definir o novo trabalho do saxofonista californiano Kamasi Washington como uma espécie de Bitches Brew de nossa época. Fazendo juz ao título, o álbum (triplo, é claro) é uma odisseia sonora que passeia pelos mais variados caminhos possibilitados pelo jazz, e encheria Miles Davis de orgulho. Um verdadeiro tratado musical, que caminha a passos largos para o posto de grande álbum de jazz do ano.


The London Souls - Here Come the Girls

Agora reduzido a um duo, o London Souls (que é nova-iorquino e não londrino) retorna após quatro anos com o seu segundo disco. Here Come the Girls é um pouco mais suave que a estreia lançada em 2011 e brinda o ouvinte com melodias e influências que vêm direto da década de 1960. The Who e Cream, as duas principais inspirações da banda, seguem dando as cartas, resultando em um rock and roll enérgico, direto e agradável, que agrada de imediato.


Kamchatka - Long Road Made of Gold

O foco do hard rock mudou a sua direção e estabeleceu a sua força na Suécia. Isso é de conhecimento comum e consolidado entre todo mundo que acompanha o gênero de maneira mais próxima. Ghost, Graveyard e mais uma centena de bandas transformaram o país europeu em um paraíso pra quem curte guitarras distorcidas, riffs inspirados e canções que chegam não para serem passageiras, mas sim para acompanhar nossos dias a partir do momento que as conhecemos. O trio Kamchatka é um dos grandes nomes dessa cena sueca, e, como sempre, vem com outro disco matador. Sexto trabalho do grupo, Long Road Made of Gold equilibra doses equivalentes de hard e blues rock, e é o mais bem acabado e resolvido álbum da banda. 


The Waterboys - Modern Blues

A veterana banda inglesa, responsável pelo belo e clássico Fisherman’s Blues (1988), lançou em em janeiro um disco que cresce a cada nova audição. Deixando as influências celtas e de música folclórica em um plano secundário, mas sem abandoná-las por completo, o The Waterboys veio com um álbum estradeiro, onde cada canção é uma pequena história, um conto apaixonante, apresentando personagens comuns e, por isso mesmo, de identificação fácil em que está do lado de cá. Boa surpresa!


Ryan Bingham - Fear and Saturday Night

Com um timbre sujo, embebido em doses generosas de fumaça e álcool, Ryan Bingham transita entre o country e o alt-country, com um pouquinho de blues aqui e acolá. Canções econômicas, levadas ao violão e com linhas vocais simples e bem construídas, que mantém viva a magia e a força do estilo que é um dos mais tradicionais dos Estados Unidos. Pra ouvir em um domingo pela manhã, despertando a cada novo acorde. 


Hanni El Khatib - Moonlight

Transitando entre o blues rock e o revival do garage rock, o californiano Hanni El Khatib chega ao seu terceiro disco com Moonlight. E esta terceira dose de sua carreira é densa, sem gelo e desce redonda! As onze canções de Moonlight são todas construídas a partir da guitarra, com ritmos fortes e refrãos idem. Uma indicação perfeita pra quem anda com saudades dos primeiros álbuns do Black Keys, mais diretos e menos rebuscados que os últimos lançamentos do duo. 

Head Hunters, a obra-prima de Herbie Hancock

16:51

Um dos músicos mais populares e influentes da história do jazz, Herbert Jeffrey Hancock nasceu em Chicago em 1940 e desde cedo esteve em contato com os sons. Aos sete anos já estudava música clássica, e aos onze deixou boquiabertos todos que presenciaram sua performance tocando o "Concerto para Piano Número 5 em D Menor" de Mozart, ao lado da Orquestra de Chicago.

Como outros prodígios do gênero, o jovem Herbie nunca teve um professor que lhe ensinasse os fundamentos práticos e teóricos do jazz. Hancock se interessou pelo gênero ao entrar em contato com gravações de Oscar Peterson e George Shearing. Muito atraído pelas construções harmônicas e melódicas do gênero, se embrenhou no estudo teórico das composições de Peterson, Shearing e outros nomes fundamentais, principalmente Miles Davis e John Coltrane.

A carreira de Herbie Hancock tomou um novo rumo quando, em 1963, juntou-se ao novo grupo de Miles, considerado pelos críticos como o "segundo grande quinteto" do trompetista. Ao seu lado estavam o baixista Ron Carter, o baterista Tony Williams (então com apenas 17 anos) e Wayne Shorter no saxofone. A parceria com Miles rendeu ótimos frutos para os dois lados, com o trompetista gravando mais alguns capítulos fundamentais da história do jazz ao lado de Herbie, como In a Silent Way (1969), A Tribute to Jack Johnson (1971) e On the Corner (1972).

Mesmo quando estava ao lado de Davis, Hancock já dava seus próprios passos lançando uma série de discos solos. Entre eles, merecem atenção especial Inventions and Dimensions de 1963, Empyrean Isles de 1964 e Maiden Voyage de 1965. Mas foi apenas em 1973 que Herbie passou de um excelente instrumentista para um dos músicos mais importantes e influentes do jazz. O culpado por essa transformação foi Head Hunters.


Lançado em 13 de outubro de 1973, Head Hunters é um dos álbuns mais vendidos da história do estilo, ao lado de clássicos como Time Out de Dave Brubeck e Bitches Brew de Miles Davis. São apenas quatro faixas, mas que valem muito.

O groove contagiante de "Chameleon" abre o disco de forma sensacional. São quase dezesseis minutos hipnóticos, com camadas sonoras se sobrepondo umas às outras, construindo uma faixa que, já em seus primeiros momentos, antecipa a maravilha que Herbie Hancock e sua gangue nos prepararam. O início doce de "Watermelon Man" mantém o nível nas alturas, introduzindo um funk de rachar o chão. O entrosamento do quinteto é absurdo, com cada músico entregando algumas das melhores performances de suas carreiras.

"Sly" e "Vein Melter" completam a bolacha com mais ritmos animais, harmonias que fogem do comum e arranjos complexos que conseguem a proeza de soar simples aos ouvidos. Herbie Hancock usa toda a sua técnica espetacular para compor um trabalho que pega as raízes da música negra, pesca elementos das ruas, mantendo toda a autenticidade e a força do funk, mas acrescentando um requinte que poucas vezes esse gênero alcançou em sua história.

Em uma palavra: maravilhoso!

Review do novo do Ghost, o ciclista com obesidade mórbida e a Sérvia pós-Iugoslávia

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Opinião: Iron Maiden e a comoção coletiva

16:20

Faça um exercício e conte comigo: quantas bandas/artistas são capazes de causar uma comoção coletiva ao revelar ao mundo o seu novo single? Quais nomes da música tem tamanha força, popularidade e impacto ao ponto de literalmente parar tudo nos grandes veículos do planeta ao anunciarem ao mundo a sua nova canção? Poucos, nós dois sabemos disso. Um grupo seleto, onde podemos incluir os Stones, David Bowie, U2 e mais alguns. Dentro do metal, apenas três gigantes possuem este poder: Black Sabbath, Metallica e Iron Maiden. Mais uma prova disso foi dada semana passada, quando o Maiden divulgou “Speed of Light”, primeira amostra de seu novo disco, The Book of Souls, que chegará às lojas em setembro.

E a euforia foi tamanha que dificultou uma análise fria e imparcial sobre a canção. O torpe foi instantâneo, embaralhando a visão e confundindo o cérebro dos fãs, como sempre. Não sei se é o tempo, não sei se é a vida, não sei o que pode ser, mas o fato é que, pela primeira vez desde que me conheço por gente, uma nova canção do Iron Maiden não mexeu, bagunçou e esculhambou os meus dias. 

Pra ficar mais fácil de entender, um pouco da minha história com a banda. Ouvi o Iron Maiden pela primeira vez em 1985, na TV, durante o primeiro Rock in Rio. Desde então, a banda se transformou na minha preferida. O Maiden foi o grupo que mais escutei na vida, fácil. Passei anos e anos, que depois se transformaram em décadas, levando seus discos literalmente embaixo do braço para todo e qualquer lugar que fosse. Ouvi tanto que minha mãe assobiava as faixas da Donzela inconscientemente. O Maiden é a banda que mais tenho discos, e ocupa a maior parte da minha coleção (na última contagem, há alguns meses atrás, havia lá em casa uns 150 itens da banda, entre CDs, DVDs, livros e afins). Tenho um filho de 7 anos, e passei a paixão adiante, quase de maneira hereditária. Como diz um amigo, Iron Maiden é vida.

Só que não. Não ao escutar “Speed of Light”. Em um primeiro contato, achei a faixa naquela linha mediana dos singles que anteciparam todos os singles lançados pelos ingleses desde o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith ao grupo, em fevereiro de 1999 - a saber: “Wildest Dreams”, “The Reincarnation of Benjamin Breeg” e “El Dorado”, faixas que não representam grande coisa no imenso catálogo da banda. O ponto fora da curva foi justamente o primeiro destes singles, “The Wicker Man”, que entrou com força e de maneira definitiva no coração dos fãs. O Iron Maiden soa genérico e com pouca inspiração em “Speed of Light”. Um riff comum abre a faixa, seguida por um grito meio “Be Quick or Be Dead” de Bruce. Depois, linhas vocais mais do mesmo, um refrão sem graça e é isso aí. Pra não dizer que tudo se perde, os solos de guitarra, principalmente o de Adrian Smith, garantem a diversão e um tímido sorriso de satisfação.

Muito pouco para uma banda como o Iron Maiden. E, principalmente, muito pouco pelo tamanho da comoção causada. A sensação é que, mesmo lançando qualquer coisa, o buzz estará garantido. Já disseram uma vez que todo fã é um idiota. Não concordo. Porém, a ausência da capacidade de avaliação proporcionada pelo fanatismo e pela paixão impedem que grande parte dos fãs do Maiden percebam o óbvio: “Speed of Light” é, na melhor da hipóteses, apenas um arremedo do que se espera do Iron Maiden, e do que a própria banda pode entregar. Steve Harris e Bruce já declararam que a ideia em The Book of Souls foi gravar tudo ao vivo no estúdio, capturando a energia e a espontaneidade das primeiras execuções. Algo parecido com a busca por algo mais básico que a banda entregou em No Prayer for the Dying, um dos seus piores álbuns.

O fato é que um single não representa, necessariamente, a amostra de um disco. No máximo, revela o clima e o astral que a banda estava ao gravá-lo. O próprio Iron Maiden é uma prova disso. Seu último trabalho, The Final Frontier (2010), é um dos melhores da longa carreira dos ingleses, e traz uma sonoridade refrescante e renovada, culminando em uma canção excelente como “When the Wild Wind Blows”. Ou seja, pode vir por aí um grande disco, mesmo com uma prévia tão decepcionante.

Mas vale a pena levantar a questão: tanto barulho por tão pouco? Tantos “Iron Maiden é a minha vida” por uma canção genérica ao extremo? O fã pode não ser idiota, mas, com absoluta certeza, passa longe da isenção. E essa postura gera uma posição de extremo conforto para o artista. Ele sabe que basta gravar qualquer coisa que venderá, cairá na graça de sua enorme legião de fãs, venderá pra caramba e encherá arenas em seus shows - tocando clássicos antigos, é claro. É preciso mais “The Chemical Wedding” e menos “Speed of Light”. É preciso mais álbuns inovadores e que saiam do comum, que experimentem, que inovem, e (muito, muito mesmo) menos discos que apenas reciclem ideias do passado. É preciso menos classic rock e mais música inspirada e corajosa. 

E, acima de tudo, é preciso medir nossa emoções e não entrar em transe coletivo por tão pouco. 

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