quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O lindo céu azul do Wilco


Tá ouvindo Beatles?”. Não foram uma, nem duas, nem três pessoas que me perguntaram isso. Em qualquer hora e em qualquer lugar, bastava dar play em Sky Blue Sky, disco lançado pelo Wilco em 2007, pra vários amigos lembrarem, na hora, do quarteto de Liverpool. Mas o sexto álbum da banda norte-americana liderada pelo vocalista, guitarrista e gênio da melancolia Jeff Tweedy não é só isso (como se “só isso” fosse pouco).

Dizer que este disco representa uma volta às raízes não é correto. Ainda que em Sky Blue Sky não existam resquícios do experimentalismo presente aos montes nos dois trabalhos anteriores do grupo (Yankee Hotel Foxtrot, de 2002, e A Ghost is Born, de 2004), o caminho mais básico tomado por Tweedy e seus companheiros parece apontar mais para o futuro do que para uma retomada das suas origens.

Aquele som, rotulado como alt country, presente nos três primeiros registros da banda (A.M., Beign There e Summerteeth), ficou para trás. A simplicidade das canções de Sky Blue Sky segue outra linha. É claro que a maior influência da banda, o onipresente Neil Young, se faz notar em vários momentos, principalmente nos belos solos de guitarra, mas agora o bardo canadenses ganha novas companhias. As mais evidentes são os já citados Beatles, Steely Dan, a carreira solo de Paul McCartney e o John Lennon fase Mind Games.

As doces melodias, grudentas e agradáveis, vêm carregadas com um forte sabor setentista. “Shake It Off” e “You Are My Face” pagam tributo a Lennon. A presença de McCartney pode ser ouvida em “Walken” e na doce “Please Be Patient With Me”. A abertura do disco, com a melancólica “Either Way”, faz sorrir qualquer pessoa que possua um coração.


Entretanto, a grande música de Sky Blue Sky atende pelo nome de “Impossible Germany”. Como já havia feito com “Jesus etc” em Yankee Hotel Foxtrot e com “Hummingbird” em A Ghost is Born, Jeff Tweedy mostra enorme talento, construindo uma canção repleta de detalhes e nuances. Linhas vocais calmas, uma melodia inspirada e solos de guitarra que expressam amores vividos, corações partidos e olhares apaixonados - e se entrelaçam em notas e melodias capazes de agradar até ao mais ferrenho fã do Lynyrd Skynyrd.

Outros pontos altos são as lindas acústicas “Sky Blue Sky” e “What Light” (essa última totalmente Beatles), as baladas “Hate It Here” e “Leave Me (Like You Found Me)” e o encerramento, com a emocional “On and On and On”.

Sky Blue Sky não é, como eu já disse antes, tão experimental quanto Yankee Hotel Foxtrot, mas isso não diminui seu valor, muito pelo contrário. Ele é um álbum muito mais audível, que resgata o sentido do termo pop music, tão mal usado ultimamente. Sky Blue Sky tem um ar e uma sonoridade que nos passam a sensação de que estamos ouvindo um trabalho gravado, por exemplo, em 1971.

Um disco esplêndido, de uma das melhores bandas que o mundo ganhou nas últimas décadas. Pra mim, o melhor que o Wilco já gravou.

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