quarta-feira, 29 de julho de 2015

Um disco por dia: Return to Forever - The Mothership Returns (2012)


A ideia é postar um review todo dia, analisando um disco da minha coleção. Vai ser um desafio muito interessante. Vem junto?

O Return to Forever é um dos mais importantes e influentes nomes do jazz fusion. Formado em Nova York em 1971 pelo tecladista e pianista Chick Corea, sempre girou ao seu redor e do baixista Stanley Clarke, fiel escudeiro de Corea em todas as várias encarnações do combo. Uma das mais emblemáticas formações do Return to Forever contava com Chick, Stanley, o guitarrista Al Di Meola e o baterista Lenny White. E foi justamente essa versão que trouxe o grupo de volta, em uma celebrada turnê de reunião realizada em 2008. Porém, Di Meola saiu fora e jogou pra cima o que tinha tudo pra ser um balde de água fria nos músicos e nos fãs - mas acabou não sendo. Corea chamou para o seu lugar o guitarrista original da banda, Bill Connors, que chegou a ensaiar com o trio restante, mas foi impedido de sair em turnê devido a problemas de saúde. A solução foi encontrada então em Frank Gambale, guitarrista da Elektric Band de Chick. E, para dar um tempero extra, os caras chamaram ninguém mais ninguém menos que Jean-Luc Ponty, um dos maiores violinistas da história, para fazer parte do projeto. 

The Mothership Returns é o registro da excursão que o quinteto fez durante 2011. Trata-se de um CD duplo gravado ao vivo, que vem com um DVD extra com material de dar água na boca. A adição de Gambale e Ponty deu vida nova aos clássicos do Return to Forever. Músicos experientes e com sólida formação no jazz que são, o quinteto soube explorar com sabedoria as variações possibilitadas pela inclusão de novas peças no tabuleiro, aplicando um xeque-mate em qualquer pessoa que goste de música. As releituras de “Señor Mouse” e “The Shadow of Lo / Sorceress” beiram a perfeição. A banda toca também “Renaissance”, composição de Ponty presente no álbum Aurora (1975), acrescentando ainda mais dramaticidade e uma dose extra de balanço na jogada.

O registro tem apenas nove faixas, mas todas trazem o esplendor da música instrumental em seu ápice. Chick Corea, Stanley Clarke, Lenny White, Frank Gambale e Jean-Luc Ponty demonstram um entrosamento e uma liberdade instintivos em cima do palco, alcançando resultados que levam o ouvinte à estratosfera. O segundo CD é pródigo nessa sensação, com versões alucinantes de “After the Cosmic Rain” e “The Romantic Warrior”. Mas o ápice ocorre no final, com a dobradinha “Concierto de Aranjuez / Spain” e “School Days”. A primeira é conduzida com maestria por Corea, que prova continuar em forma do alto dos seus 71 anos. Já a segunda, saída diretamente do quarto disco solo de Clarke - também chamado School Days e lançado em 1976 -, é um acachapante funk que desafia qualquer um a ficar parado, e que aqui ficou ainda mais forte que em sua gravação original.


Um fato que chama a atenção em The Mothership Returns é que, em diversos momentos, o fusion do Return to Forever aproxima-se sem cerimônias do rock. Seja no peso de algumas passagens, nos arranjos montados pela banda ou na agressividade com que os músicos tocam, tem-se a impressão, em vários trechos, de estarmos ouvindo um disco de prog rock instrumental e não a reunião de alguns dos maiores nomes da história do jazz, o que só atesta o quão próximos estão os gêneros citados.

Poucas vezes ouvi um álbum ao vivo tão pulsante e intenso quanto The Mothership Returns. São pouco mais de 110 minutos de uma música estupenda, que cativa de forma profunda e atualiza a obra do Return to Forever, que já era impressionante. A inclusão de Gambale e Ponty foi uma jogada de mestre, dando nova vida e rejuvenescendo um dos catálogos fundamentais do jazz fusion.

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