quarta-feira, 27 de maio de 2015

Carro Bomba - Pragas Urbanas (2015)


Ouvindo Pragas Urbanas, quinto álbum do Carro Bomba, o assunto volta à mente e suscita uma reflexão: por que o heavy metal cantado em língua portuguesa não tem um alcance maior no Brasil? A questão é pertinente e alimenta uma necessária discussão. 

Se olharmos para o cenário do pop rock, o que mais vemos são bandas cantando em português e alcançando grande sucesso com essa escolha. A história do rock brasileiro é assim. São poucos os nomes nascidos em nosso país que se aventuraram pela língua inglesa. Quando o assunto vai para o heavy metal, gênero onde está inserido o Carro Bomba, a coisa muda de figura e é exatamente o inverso: a tradição é compor em inglês (mesmo que macarrônico) em busca do sonho do sucesso e reconhecimento internacional.

Se o público nacional de rock, de pop, já está condicionado a consumir música cantada em português, porque o público de metal também não está? Falta divulgação para nomes com qualidade reconhecida, como é o caso do Carro Bomba e inúmeros outros (coloque aí Baranga, Project 46, Uganga e até mesmo nomes um pouco mais leves como Tomada, Pedra e várias outras bandas)? Se quem consome rock tivesse conhecimento do trabalho dessas bandas, não as abraçaria entre as suas preferidas? Provavelmente, sim. Ou o público de metal aqui no Brasil é preconceituoso com quem canta em sua própria língua e acaba discriminando, mesmo que de maneira inconsciente, as bandas que seguem esse caminho? Falta profissionalismo para os artistas? Falta uma estrutura mais forte de promoção e divulgação? Falta interesse do mercado em promover esse tipo de música? Ou não falta nada? O papo é longo, as possibilidades são várias.

Produzido pela dupla Heros Trench e Marcello Pompeu, respectivamente guitarrista e vocalista do Korzus, Pragas Urbanas traz uma sonoridade suja, pesada e bastante grave, que soa atual e alinhada com o que se faz no metal mundo afora. O disco tem nove faixas, todas composições próprias, e marca a estreia do baixista Ricardo Schevano (também do Baranga), irmão do guitarrista Marcello Schevano. Completam o time o vocalista Rogério Fernandes e o baterista Heitor Schewchenco.

A influência de Black Sabbath, sempre presente na sonoridade do Carro Bomba, segue forte, mas não é mais a característica dominante. Com anos de estrada, a banda soube variar e acrescentar outros elementos em sua música, que ficou mais variada e ainda mais interessante. Uma das canções do disco, batizada como “Thrash n’Roll”, pode ser usada como exemplo para tentar definir o som do Carro Bomba, dando uma ideia do que o ouvinte encontrará no álbum.

A banda equilibra composições onde essa já citada influência do Sabbath predomina, como a ótima “Arrastando Correntes” (que, em um exercício hipotético, não soaria fora de lugar em 13, último disco lançado pela banda de Tony Iommi e Ozzy Osbourne) e o hard blues “Mojo”, com outras onde o groove come solto e tempera o som, deixando-o ainda mais forte, como é possível perceber em “Máquina”, “Fuga”, “Fantasma" e na faixa-título. Há de se destacar o excelente trabalho de composição, com riffs fortes e refrãos que grudam na cabeça.

Ao final de Pragas Urbanas, percebe-se que não é pela falta de qualidade que o metal cantado em português ainda segue sendo a exceção, o ponto fora da curva, na playlist dos fãs brasileiros. Nivelado por cima em todos os aspectos (produção, execução, composição), este novo trabalho do Carro Bomba não apenas consolida a banda paulista como um dos principais nomes atuais do gênero aqui no Brasil, como é uma boa porta de entrada para quem quiser conhecer mais não só do trabalho do quarteto, mas também de toda essa cena de bandas pesadas que decidiram cantar em nossa própria língua.

Por experiência própria, garanto que vale a pena!

2 comentários:

  1. O rocker brasileiro tem um grave defeito. Se não tiver alguém falando que é legal e que é de qualidade, falta personalidade pra ir contra a maioria. Rockeiro brasileiro só curte um som diferente se alguém mais "do ramo" o induzir. Portanto agora que o nível está alto é hora da mídia especializada falar mais sobre o assunto. Falta a rádio tocar mais esse tipo de som. Alguém tem que deixar a bola pingando pro rockeiro brasileiro assumir que gosta e curte o som pesado cantado em português. E bandas não faltam. CARRO BOMBA, UGANGA, MUQUETA NA OREIA, CRIS DELYRA, AGUA PESADA, CRACKER BLUES, DON CAPONE, LEOPOLDO E VALERIA, BURLESCA, KIARA ROCKS, SIOUX 66, MARTIATAKA, KAMBOJA, TOTEM, ZERODOZE, SACO DE RATOS, ALARDE, FACÇÃO CAIPIRA, OS DEPIRA, INSTINTO, KARBURALCOOL, OS BULTICOS, OS URUTAUS, REPUBLIQUE DU SALEM, SERGIO DUARTE, SANTA MORTE....

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  2. Tem Bandas de metal cristãs que cantam em português e são muito boas,👉🏾Albra, Seiva Bruta,AODE,Venore,

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