sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Wishbone Ash e o nascimento das guitarras gêmeas

13:13

A origem das guitarras gêmeas, aquela alquimia fantástica que leva os guitarristas de uma banda a tocarem melodias e solos de maneira simultânea, em um entrosamento arrepiante, é até hoje discutida entre pesquisadores e críticos musicais. A teoria mais aceita é que o termo surgiu do trabalho de grupos como a Allman Brothers Band, que em seus três primeiros discos, ainda com Duane Allman na formação - The Allman Brothers Band (1969), Idlewild South (1970) e o antológico ao vivo At Fillmore East (1971) - já apresentava um elaborado e complexo entrelaçamento entre as guitarras de Duane e Dickey Betts, o que, somado às influências de blues e jazz do grupo, resultou em um som único, regado a longas jams instrumentais, principalmente nos shows.

Os pioneiros do southern rock, como a banda dos irmãos Allman e o Lynyrd Skynyrd, tiveram papel fundamental na concepção e no desenvolvimento desse novo e definitivo capítulo na história da guitarra. O Skynyrd, principalmente, levou o trabalho de guitarras para estratosfera, fazendo seu trio de instrumentistas levantar vôo alto e chegar até onde ninguém antes havia estado - "Free Bird" está aí como prova definitiva. Além deles, outras duas bandas foram essenciais nesse quesito: o Thin Lizzy e o Wishbone Ash. Enquanto o grupo do vocalista e baixista Phil Lynott começou a desenvolver as twin guitars a partir da substituição de Eric Bell - até então único guitarrista do grupo - pela dupla formada por Scott Gorham e Brian Robertson, que estreou no quarto disco dos irlandeses, Night Life (1974), o Wishbone Ash já trazia essa característica desde sua formação, em agosto de 1969. Mas, ainda que os dois primeiros álbuns - Wishbone Ash de 1970 e Pilgrimage de 1971 - demonstrassem essa faceta, foi em Argus, terceiro LP dos ingleses, que ela se revelou por inteira, em toda sua beleza, complexidade e magia.

Lançado em 28 de abril de 1972, Argus é o mais conhecido disco do Wishbone Ash, além de ser considerado o melhor trabalho da banda pela imensa maioria dos fãs e críticos. Contando com seu line-up clássico - Martin Turner (vocal e baixo), Andy Powell (guitarra e vocal), Ted Turner (guitarra e vocal) e Steve Upton (bateria) -, o Wishbone Ash concebeu um dos mais belos registros da década de 1970. O álbum foi gravado no De Lane Sea Studios, em Londres, em janeiro de 1972, e teve produção de Derek Lawrence, que havia produzido os três primeiros LPs do Deep Purple. O engenheiro de som foi Martin Birch, que mais tarde se tornaria famoso por trabalhos ao lado do Iron Maiden.

As sete faixas de Argus trazem uma alquimia precisa entre rock progressivo, folk (com grandes doses de música celta) e hard rock, resultando em um som ímpar. Mas a principal característica do play, indiscutivelmente, é o brilhante trabalho de Powell e Turner na construção de belíssimas melodias com suas guitarras, que se entrelaçam em arranjos complexos que progridem em harmonias celestiais, levando o ouvinte para outras dimensões. Argus é o ponto zero das guitarras gêmeas. Por mais que algumas bandas já tivessem experimentado essa característica antes e outras também o fariam depois, foi neste disco que o conceito foi definido, de maneira sólida e pra lá de influente.


O LP abre com "Time Was" e sua bela introdução acústica, que serve de base para os vocais de Martin e Ted Turner. Após esse trecho, a faixa evolui para uma empolgante levada, com cativantes linhas vocais e longos trechos instrumentais repletos de inspiração, antecipando o que estava por vir. A balada "Sometime World" é cantada por Martin com uma forte carga de emoção, o que torna a faixa ainda mais profunda. Destaque para os delicados arranjos e solos de guitarra, mostrando que não é preciso tocar à velocidade da luz para ser considerado um grande instrumentista. A mudança de andamento no meio da faixa leva a um trecho muito mais acelerado, novamente com longas passagens instrumentais entrecortadas por ricas harmonias vocais. Sensacional!

"Blowin´ Free", uma das músicas mais conhecidas do Wishbone Ash, vem a seguir, e é impossível, mesmo passados mais de quarenta anos de sua gravação, não se arrepiar com o riff inicial da canção. Os vocais são divididos entre Martin, Ted e Andy Powell, em um resultado final sublime. Essa faixa é simplesmente um hino, perfeita para pegar a estrada sem rumo, sem destino e sem hora pra chegar.

"The King Will Come" dá sequência ao play. Aqui, as guitarras são um show à parte, alternando-se entre riffs inspirados e solos furiosos, isso sem falar nos vocais, agora divididos entre Martin e Andy, quase espirituais em certos momentos. Resumindo: uma composição brilhante!

"Leaf and Stream" dá uma acalmada nas coisas, e nela podemos perceber claramente as influências celtas no som do Wishbone Ash, principalmente pelas linhas vocais de Martin Turner. Os solos esbanjam classe e delicadeza, mostrando todo o talento de Andy Powell e Ted Turner. Uma ótima canção acústica.

O disco fecha em grande estilo, com duas de suas melhores faixas. "Warrior" é um hard classudo com grandes melodias, alternância de andamentos e um refrão marcante. Já "Throw Down the Sword" surge nos alto-falantes evoluindo sobre uma bela harmonia de guitarras, culminando com um solo duplo sensacional em seu final, onde as duas guitarras se cruzam e se complementam.


Uma coisa que chama a atenção ainda hoje é o timbre alcançado pelos instrumentos de Andy Powell e Ted Turner. Suas guitarras soam puras e limpas, sonoridade essa que realça ainda mais todos os detalhes dos riffs e arranjos presentes no álbum. Sem dúvida, Argus tem um dos mais belos timbres de guitarra já gravados, fácil, fácil.

O impacto do disco foi imediato e duradouro. O álbum foi muito bem aceito pelos fãs e pela crítica. A revista inglesa Sounds Magazine elegeu Argus como o álbum do ano de 1972. O sucesso foi tamanho que um público muito maior que o habitual começou a ir aos shows do Wishbone Ash, transformando a turnê de divulgação em uma das mais concorridas do biênio 1972-1973.

Em 1991 Argus teve sua primeira edição em CD, e como atrativo extra trouxe como bônus "No Easy Road", originalmente lançada como b-side do single de "Blowin´ Free". Em 2002 o disco ganhou uma reedição remasterizada, que incluiu as três faixas lançadas originalmente no EP promocional Live from Memphis, de 1972 - "Jail Bait", "The Pilgrim" e "Phoenix" -, gravadas ao vivo nos estúdios da WMC FM.

Finalmente, em 2007 foi lançada uma deluxe edition da Argus, com nada mais nada menos que onze faixas bônus. Além das já conhecidas "No Easy Road" e das versões de "The Pilgrim" e "Phoenix" do Live from Memphis, o disco trouxe seis faixas gravadas ao vivo em um evento chamado BBC in Concert - "Time Was", "Blowin´ Free", "Warrior", "Throw Down the Sword", "The King Will Come" e "Phoenix" -, e duas registradas durante as famosas BBC Sessions - "Blowin´ Free" e "Throw Down the Sword".

A tour de Argus gerou o estupendo duplo ao vivo Live Dates, lançado em 1973, que traz quatro faixas do álbum - "The King Will Come", "Warrior", "Throw Down the Sword" e "Blowin´ Free" -, além de versões definitivas para "The Pilgrim" e "Phoenix", essa última com mais de dezessete minutos de duração. Se você curte álbuns ao vivo, anote a dica: Live Dates é um dos melhores registros da década de 1970, obrigatório em qualquer coleção de hard rock.

Além de ser o marco zero das guitarras gêmeas, que influenciariam inúmeros grupos no futuro, notoriamente os gigantes do metal britânico Judas Priest e Iron Maiden (o próprio Steve Harris declarou inúmeras vezes ser um grande fã do disco), Argus é o ápice da longa discografia do Wishbone Ash. Um dos mais belos discos já gravados, mantém viva a sua capacidade de emocionar o ouvinte a cada nova audição. Só isso já diz muito sobre a qualidade da música que corre em seus sulcos.

Clássico e obrigatório, nesse caso, ainda é pouco.

Maglore - III (2015)

11:08

Na ativa desde 2009, o Maglore foi formado em Salvador e já lançou três discos. O mais recente, III, saiu em junho e marca um novo capítulo para a banda, com a chegada do baixista e vocalista Rodrigo Damati - completam o trio Teago Oliveira (vocal e guitarra) e Felipe Dieder (bateria). 

Diferente dos álbuns anteriores - Veroz (2011) e Vamos pra Rua (2013) -, o que ouvimos em III é uma sonoridade mais refinada, construída a partir de melodias criativas e caminhando, sempre, entre o rock e a MPB. O formato power trio deixou a música do Maglore um pouco mais direta, simplificando-a no melhor dos sentidos, e, assim, atiçando todos os sentidos de quem coloca os ouvidos em seu novo disco.

A produção de Rafael Ramos (que já assinou trabalhos para nomes como Los Hermanos, Titãs, Cachorro Grande, Black Alien, Pitty e um monte de gente) é certeira, explorando com habilidade o evidente potencial da banda. A música do Maglore está mais acessível neste terceiro disco, mais potável para uma parcela muito maior do público. Isso é facilmente perceptível em pequenas jóias pop como “O Sol Chegou”, “Ai Ai”, "Vampiro da Rua XV" (com ecos de Raul Seixas) e, principalmente, na dobradinha formada por “Mantra" e “Dança Diferente”. Redondo e macio, o som dos baianos desce que é uma beleza, ensolarando os dias e alegrando todos ao redor.

Com onze faixas espalhadas em quase 40 minutos, III é um trabalho muito conciso e forte, que chega chegando e coloca o Maglore, cada vez mais e de maneira merecida, em um posto de destaque na atual música brasileira.

Satisfação garantida, sem medo!

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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Os melhores discos de julho segundo o About Heavy Metal

18:44

É o calor do verão (no hemisfério norte), mas a qualidade dos lançamentos de metal esfriou drasticamente em julho. Tivemos alguns discos excelentes, mas a profundidade de bons discos foi a menor de todos os meses do ano até agora. A lista deste mês inclui algumas bandas familiares, mas também nomes novos e desconhecidos, como o que encabeça a lista.


Sons of Huns - While Sleeping Stay Awake

Se você precisa de uma dose diária de chutes na bunda, encontrou neste segundo disco do Sons of Huns. O trio de Portland derrama energia, coragem e atitude. Riffs matadores cheios de swing alinham-se com temas líricos profundos, com letras que exploram assuntos como filosofia, ioga, meditação, vida e morte. Mesmo não precisando de ajuda para entregar um disco excelente, a banda conta com as participações especiais de Wino (Saint Vitus) e Dale Crover (Melvins). Indicado para os fãs de The Shrine, Fu Manchu, Orange Goblin e Barn Burner.


Lamb of God - VII: Sturm Und Drang

Sturm Und Drang é uma expressão alemã que significa “tempestade e tensão”. Este é um título adequado para o álbum, que resume tudo que a banda passou ao longo dos últimos anos em um disco compacto e afiado. A típica agressividade do Lamb of God marca presença, mas há muita diversidade também. VII: Sturm Und Drang é um trabalho focado e energético de um dos maiores nomes do gênero, com o Lamb of God acrescentando mais um título de alto nível para o seu catálogo.


Immortal Bird - Empress/Abscess

Perturbador da melhor maneira possível: esta qualidade está presente em todo este disco de estreia - a banda já havia lançado um EP antes. Com Rae Amitay abrindo mão da bateria e concentrando-se apenas nos vocais, os rugidos que ele emite ganharam um destaque extra. As músicas refletem a raiva e um aumento no temperamento enegrecido da banda, de uma forma radical. Algumas notas com um piano sombrio em “To a Watery Grave” não fazem diminuir a forte sensação inibidora que a música da banda transmite. Um excelente disco!


Powerwolf - Blessed & Possessed

Esta parece ser a versão mais simplificada do Powerwolf. Cada faixa é construída a partir de linhas melódicas memoráveis, e a maioria das canções fica na faixa dos três minutos e pouco. Os ganchos são viciantes, tornando impossível não levantar o punho e bangear sem parar. O destaque vai para o vocalista Attila Dorn, dono de um timbre poderoso e de grande sabedoria ao usá-lo com maturidade, sem nunca atingir níveis ensurdecedores. A faixa-título inclui um riff clássico inspirado no Judas Priest e transforma-se em um hino instantâneo do metal.


Cradle of Filth - Hammer of the Witches

As mudanças de formação parecem ter energizado o Cradle of Filth. O som segue a linha dos discos recentes da banda inglesa. Há arranjos sinfônicos intensificados pelo heavy metal agressivo que é a marca registrada do grupo. Os últimos trabalhos do COF tiveram uma recepção dividida, com elogios e críticas na mesma proporção. A entrada de novos integrantes coloca tudo em outra perspectiva, mantendo a sonoridade fiel à tradição da banda.

(matéria traduzida)

A passo ousado que reinventou o The Who

14:45

Lançado em 1971 e considerado por muitos o melhor trabalho do The Who, Who's Next possui uma história tão rica quanto suas nove clássicas canções. 

Após o enorme sucesso alcançado por Tommy, a banda estava esgotada e de saco cheio da ópera rock que a consagrou. Buscando novos desafios, o grupo mergulhou em um projeto capitaneado por Pete Townshend chamado Lifehouse, que consumiu um ano de trabalho e parecia não levar a lugar nenhum. Estressados uns com os outros, com o grupo se destruindo internamente e com seu líder e principal compositor quase cometendo suicídio, o The Who resolveu recomeçar tudo do zero.

O primeiro passo foi demitir o produtor Kit Lambert, responsável por Lifehouse, e que estava com a banda desde o início. Glyn Johns chegou e foi essencial para que as coisas começassem a funcionar. Ouvindo tudo que já havia sido produzido para Lifehouse, Johns selecionou aquelas que considerou as melhores composições e as apresentou ao grupo. Foi só a partir deste momento que Townshend, Daltrey, Moon e Entwistle perceberam que tinham um ótimo material nas mãos. Empolgados, começaram a trabalhar nos rascunhos apresentados por Johns, evoluindo alguns arranjos, reescrevendo letras, enfim, transformando o que antes não passavam de ideias mal estruturadas em alguns dos maiores hinos da história do rock.

Who's Next abre com “Baba O´Riley” e sua característica introdução marcada pelo sintetizador tocado por Pete. De imediato, e até hoje, chama a atenção a sonoridade que a banda e o produtor conseguiram registrar no disco.

Além da canção de abertura, outras duas composições acabaram marcando Who's Next. A primeira é a linda balada “Behind Blue Eyes”. Construída a partir do violão de Pete, emociona com suas inspiradas linhas vocais, até alcançar o ápice com uma explosão sonora típica do grupo.

A outra é “Won´t Get Fooled Again”, espécie de mini-ópera progressiva e que, com o passar dos anos, se transformou em uma das canções mais emblemáticas da banda. Repleta de mudanças de andamento e com fartas doses de peso, traz uma letra inspiradíssima de Townshend e é, ainda hoje, impressionante.


Algumas curiosidades a respeito de Who's Next precisam ser mencionadas. A primeira é a respeito do nome do disco. Querendo se distanciar da sombra de Tommy, o grupo decidiu incluir o “next” no título como um sinal de que estava virando uma página em sua carreira, e que a partir dele surgiria um novo The Who. Outra é a respeito de sua capa, que traz os quatro urinando em um monolito localizado no Easington District Colliery, em County Durham, e que, ao mesmo tempo que é uma clara referência ao filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, lançado em 1968, é também uma metáfora ao seu passado, com o grupo mostrando claramente que estava buscando novos caminhos.

Vale citar que a qualidade mostrada pela banda em Who's Next foi reconhecida tanto pelos fãs, que compraram o disco maciçamente, quanto pelo crítica, que até hoje o considera um dos álbuns mais importantes da história.

Para quem quiser conhecer o disco, recomendo a edição remasterizada lançada em 1995, que traz, além das músicas originais, as faixas “Pure and Easy”, “Baby Don´t You Do It”, “Naked Eye”, “Water”, “Too Much for Anything”, “I Don´t Even Know Myself” e “Behind Blue Eyes”. A versão deluxe, lançada em 2003, também é fantástica, trazendo outakkes gravados no estúdio Record Plant em Nova York e uma apresentação da banda no The Young Vic, ambas registradas na época do lançamento original.

Mais que um clássico, Who's Next é um álbum absolutamente fundamental para quem busca entender o rock and roll. 

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