sexta-feira, 29 de maio de 2015

A estreia solo de Eric Clapton

18:00

Como nasce um ídolo? Existe uma fórmula para criar um pop star? Vivemos em tempos estranhos, em que o termo pop vem carregado muito mais de aspectos negativos do que positivos.

A música pop, em sua essência, é aquela que faz você feliz, coloca um sorriso no seu rosto e faz você cantar sem parar um refrão que não sai tão cedo da cabeça. Mas, para a maioria das pessoas que gostam de música, atualmente o pop é aquilo que artistas fabricados em série fazem, um som totalmente descartável e apenas com propósito comercial. O negócio é vender! É a música tratada como produto e nada além disso. Ou seja, algo que não combina, em hipótese alguma, com o nosso bom e velho rock and roll.

Mas esse assunto fica para outro dia. A pergunta aqui é: como nasce um Deus? Eric Patrick Clapton foi o primeiro dos guitar heroes. Antes mesmo do advento de Hendrix, Clapton já hipnotizava os ingleses. Todo mundo conhece a história do muro pichado com a frase "Clapton is God". Considerado o maior guitarrista do planeta durante sua passagem pelos Bluesbreakers de John Mayall e elevado à santidade durante o período em que esteve à frente do Cream, Clapton passava, no início dos anos setenta, por uma fase de transição em sua carreira.

Ainda vivendo a ressaca do Blind Faith, que, apesar de ter gravado um primeiro e único disco fantástico não emplacou comercialmente, Clapton não se sentia pronto para cair na estrada novamente. Com disposição de sobra para mostrar ao mundo que ainda estava vivo (o que viria a fazer inúmeras vezes durante as décadas seguintes), reuniu os amigos e gravou o seu primeiro disco como artista solo, uma das jóias perdidas do rock.

Lançado em agosto de 1970, o clima de reunião entre amigos já estava estampado na contracapa, com todos os envolvidos na gravação e produção lado a lado, formando uma grande família. Esse clima está presente também na primeira faixa, a instrumental "Slunky", uma jam fenomenal que abre o álbum com o astral lá em cima.

O disco segue com o blues "Bad Boy" e com "Lonesome and a Long Way from Home", que servem de introdução para uma sequência absolutamente matadora. Começando com "After Midnight", a primeira versão de Clapton para uma canção de J.J. Cale (o mesmo autor de "Cocaine", um dos maiores sucessos de sua carreira solo), o LP segue com a bela acústica "Easy Now" e a clássica "Blues Power", uma das mais famosas canções do guitarrista e que contém também um de seus solos mais memoráveis. "Bottle of Red Wine" fecha o quarteto fantástico, com um boogie contagiante. O álbum segue mantendo o ótimo nível com "Lovin´ You Lovin´ Me", "Told You for the Last Time" e "Don´t Know Why", e fecha com a maravilhosa "Let It Rain", prima distante de "Layla" e "Bad Love".

A banda que gravou com Eric Clapton daria origem ao grupo que ele montaria na sequência, o Derek and The Dominos, e esteve ao seu lado por boa parte dos anos setenta, quando o deus da guitarra afundou de vez em seus problemas com drogas e bebidas.

O primeiro disco solo de Eric Clapton é obrigatório para quem gosta de música e mostra que o rock e o pop podem andar lado a lado, sim. E, junto do álbum ao lado dos Bluesbrakers de John Mayall, de Disraeli Gears do Cream, do único registro do Blind Faith e de Layla and Other Assorted Love Songs do Derek and The Dominos, mostra como um simples jovem londrino transformou-se em um dos maiores músicos da história.

Pra começar a ouvir: Wilco

15:54

Origem: 1994, Chicago, EUA

Formação clássica: Jeff Tweedy (vocal e guitarra), Nels Cline (guitarra), Pat Sansone (guitarra), Mikael Jorgensen (teclados), John Stirratt (baixo) e Glenn Kotche (bateria)

Músicos importantes que passaram pela banda: Jay Bennett (guitarra), Ken Coomer (bateria), Bob Egan (guitarra) e LeRoy Bach (piano)

Gênero: alt-country

Características principais: um dos nomes mais influentes do alt-country, gênero que une características do rock e da música country. As principais características da banda são as canções repletas de feeling e melancolia

Fase áurea: 1996 a 2007

O clássico: Yankee Hotel Foxtrot (2002)

Discos imperdíveis: Being There (1996), Mermaid Avenue (1998, com Billy Bragg), Summerteeth (1999), A Ghost is Born (2004) e Sky Blue Sky (2007)

Ouça também: A.M. (1995), Mermaid Avenue Vol. II (2000, com Billy Bragg), Wilco (The Album) (2009) e The Whole Love (2011)

Álbum ao vivo recomendado: Kicking Television: Live in Chicago (2005)

Compilações recomendadas: Mermaid Avenue: The Complete Sessions (2012, com Billy Bragg), Alpha Mike Foxtrot: Rare Tracks 1994-2014 (2014) e What’s Your 20? Essential Tracks 1994-2014 (2014)

Ghost revela capa, título e tracklist de seu novo disco

10:07

A banda sueca Ghost revelou mais informações sobre o seu terceiro disco, que se chamará Meliora. O álbum será lançado dia 21 de agosto pela Loma Vista Recordings e foi produzido por Klas Ahlund (guitarrista da banda sueca Teddybears) e mixado por Andy Wallace (Slayer, Nirvana, Guns N’ Roses).

Meliora terá dez faixas, e o primeiro single, “Cirice”, será disponibilizado nos próximos dias. A banda também apresentará ao público novas máscaras e a nova encarnação de seu vocalista, agora chamado Papa Emeritus III.

Abaixo está o tracklist completo do disco:

1 Spirit
2 From the Pinnacle to the Pit
3 Cirice
4 Spöksonat
5 He Is
6 Mummy Dust
7 Majesty
8 Devil Church
9 Absolution

10 Deus in Absentia

quinta-feira, 28 de maio de 2015

John Lennon, U2 e Larry Norman: a trilogia “God"

18:39

“God” é uma das canções mais emblemáticas de John Lennon. Presente em Plastic Ono Band (1970), primeiro álbum solo após ele deixar os Beatles, marcou época por sua letra, onde o compositor lista uma enormidade de pessoas, crenças e sentimentos em que não acredita.

É preciso contextualizar o momento pelo qual John estava passando quando gravou o álbum e a canção. Após sair dos Beatles, conheceu o trabalho do psicólogo norte-americano Arthur Janov através de uma cópia do livro The Primal Scream, enviado pelo próprio Janov para o casal Ono Lennon. Yoko e John leram a obra e ficaram interessados no trabalho de Janov, que viajou a Londres para encontrar pessoalmente a dupla e apresentá-los a sua abordagem. John e Yoko ficaram fascinados pelo método, e decidiram ir para Los Angeles para realizar um tratamento na clínica de Janov.

A terapia do grito primal desenvolvida por Arthur Janov prega que o indivíduo deve expressar e colocar para fora todos os sentimentos que o atormentam, para assim conseguir se livrar deles e alcançar, consequentemente, a cura. Levando ao pé da letra os ensinamentos de Janov, John Lennon começou a escrever canções que seguiam essa linha de pensamento, e o resultado foi apresentado ao mundo em Plastic Ono Band. Lançado em 11 de dezembro de 1970, o disco traz algumas das canções mais famosas e pessoais de Lennon, incluindo “Mother" (onde fala da relação com Julia, sua mãe), “Isolation”, “Working Class Hero” e “God”. 

Esta última causou enorme discussão e controvérsia quando foi lançada, pois continha uma letra abertamente anti-religião e um longo discurso onde John gritava ao mundo a lista de personalidades, crenças e sentimentos nos quais não acreditava, fechando com a famosa frase “the dream is over”, adotada como lema pelos milhões de Beatlemaníacos de todo o planeta após o fim da banda inglesa.

O verso inicial de “God" tem John Lennon afirmando que “Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor”, frase que é repetida pelo artista para reafirmar o seu ponto de vista. Após essa introdução, o Beatle declama a sua famosa lista de “don't believes”, citando, em sequência, a magia, I-Ching, a bílbia, o tarô, Hitler, Jesus, John Kennedy, Buda, Mantra, Gita, a ioga, reis, Elvis Presley, Bob Dylan e, finalmente, os Beatles. Para então afirmar, de maneira clara e eloquente, que só acredita em si mesmo e em Yoko. A parte final é um dos mais belos momentos do Lennon letrista, onde John canta que “essa é a realidade, o sonho acabou, o que posso dizer?”, completando que “antes eu era um apanhador de sonhos, mas agora renasci, antes eu era a morsa (em alusão à canção “I Am the Walrus”), mas agora sou apenas John”, fechando com um pedido: “Então, caros amigos, você precisam continuar, o sonho acabou”.

O impacto de “God" foi enorme na cultura pop. A frase “I don’t believe in Beatles, I just believe in me” está em um dos diálogos do filme Curtindo a Vida Adoidado. David Bowie cita a canção em “Afraid”, faixa do disco Heathen (2002), afirmando que “I believe in Beatles”. Há diversas referências em peças de teatro, canções, filmes, livros, artigos de revistas e o que mais se possa imaginar. 


No entanto, duas das consequências mais interessantes de “God" estão na forma de canções que são uma espécie de resposta para a música de John. A mais conhecida é “God Part II”, gravada pelo U2 no álbum duplo Rattle and Hum (1988). Seguindo a mesma estrutura lírica de Lennon, mas com outra melodia, Bono homenageia Lennon cantando na letra as suas crenças e revela aquilo em que não acredita. Fica clara a visão religiosa de Bono, natural de um país com uma tradição religiosa tão forte e presente quanto a Irlanda, com o cantor do U2 iniciando a canção afirmando que não crê no demônio e em seu livro, que não acredita em excessos, nos ricos, no corredor da morte, na cocaína e em uma série de outras coisas, e que acredita somente no amor. A letra de “God Part II” contém também uma alusão direta a “Instant Karma”, outra canção de John Lennon, usada em um verso que critica o escritor norte-americano Albert Goldman e sua blasfêmia, referindo-se ao livro As Vidas de John Lennon, obra que causou muita polêmica e discussão ao revelar ao mundo os supostos problemas pessoais, os vícios e a personalidade extremamente difícil de Lennon.


Porém, o ataque mais direto ao clássico de John está em “God Part III”, faixa composta e gravada pelo norte-americano Larry Norman, um dos pioneiros do rock cristão. A música está em Stranded in Babylon, disco lançado por Norman em 1991. Seguindo uma melodia semelhante à canção original, Norman dispara contra John e os Beatles sem dó nem piedade. A letra já começa com um sonoro “I don’t believe in Beatles, I don’t believe in rock”, para depois polemizar com a frase “você pode facilmente abater o número 1 com uma bala”, uma clara referência ao assassinato de Lennon, em 8 de dezembro de 1980. As críticas à trajetória de John seguem, com Norman afirmando que “não acredita na revolução ou em palavras vazias sobre a paz”, referindo-se ao clássico “Revolution”, dos Beatles, e à “Imagine”, “Give Peace a Chance” e a cruzada de John e Yoko pela paz em todo o mundo no início da década de 1970, quando o casal concedeu diversas entrevistas em uma cama de hotel. O ápice da canção é uma antítese à letra de Lennon, com Norman cantando repetidamente o verso “I believe in God”. 

Controvérsias e discussões à parte, o fato é que a genialidade de John Lennon tem um dos seus pontos mais brilhantes em “God”. O mesmo pode-se dizer do U2, que em sua homenagem ao Beatle concebeu uma das suas mais fortes - e, de maneira controversa, menos conhecidas - canções. Em relação a Larry Norman, o que temos é uma típica letra pregando a sua crença, algo predominante na maioria de suas canções. 

Na pequena playlist abaixo, você pode ouvir as três faixas e também a versão de "God” gravada pela banda norte-americana Jack’s Mannequin com a participação do lendário Mick Fleetwood (do Fleetwood Mac) para o álbum tributo Instant Karma: The Amnesty International Campaign to Save Darfur.

The Atomic Bitchwax - Gravitron (2015)

15:40

Quando o hard rock surgiu na virada dos anos 1960 para 1970, ele era hard mesmo. O som de bandas como Led Zeppelin, Cactus, Uriah Heep, Cream, Deep Purple, Hendrix e outros pioneiros da pauleira era pesado, áspero, duro, cortante e penetrante. Não havia nada de sutil naqueles riffs, nada de delicado naqueles vocais, nada de discreto naquelas batidas. E foi justamente o contraste entre esse som novo e perturbador e a delicadeza, positivismo e sensibilidade do pop de então que fez com que o gênero se popularizasse, conquistando corações e mentes em profusão.

Porém, durante a década de 1980, o hard sofreu uma transformação e passou a soar mais adocicado. A cena norte-americana, que teve o seu epicentro em Los Angeles, deu ao mundo uma nova geração de bandas que aproximou o hard do pop ao mesmo tempo em que ostentava figurinos chocantes e de gosto duvidoso. Apresentando influências principalmente de Led Zeppelin e Aerosmith - pai e mãe do Guns N’ Roses -, nomes como Ratt, Mötley Crüe, Bon Jovi e outros, cada uma a sua maneira, colocou o seu tijolo na construção do que uns chamam de glam metal e outros preferem definir como hard farofa. E a partir de então, o termo hard rock passou a ter um significado dúbio, variando o seu entendimento conforme o gosto pessoal e a geração de cada indivíduo.

Mais recentemente, uma nova leva de bandas tem retomado os ensinamentos dos pioneiros dos anos 1970 e voltou a fazer o hard soar novamente direto, pesado e sem frescuras. É o caso dos grupos de stoner da década de 1990, e de nomes mais recentes como Graveyard, Rival Sons, Kadavar, Scorpion Child e afins. 

Os norte-americanos do The Atomic Bitchwax já são veteranos na estrada. A banda surgiu em Nova Jérsei em 1993, e desde então o trio lançou uma bela sequência de discos. O mais recente, Gravitron, saiu no final de abril e é, sem dúvida, um dos melhores trabalhos do grupo. Após um silêncio de quatro anos, a banda formada por Chris Kosnik (vocal e baixo), Finn Ryan (guitarra e vocal) e Bon Pantella (bateria) retornou com um trabalho furioso, que exala uma fumaça com cheiro suspeito.

Gravitron possui dez faixas espalhadas por pouco mais de meia hora de música. É energia pura, em uma atitude quase punk, que faz com que o hard dos caras soe urgente e agressivo, como deve ser. Não há espaço para enrolação. As canções são curtas - a mais longa não chega a cinco minutos - e vem com uma performance inspirada, com versos que desembocam em refrãos interessantes e nos onipresentes solos de guitarra. E, quando não sentem necessidade de colocar uma letra, os rapazes entregam faixas instrumentais mesmo, onde as palavras soam totalmente desnecessárias - casos de "Fuckface" e "War Claw", por exemplo.

É bom demais, e muitas vezes extremamente necessário, colocar os ouvidos em discos como esse. O mundo anda muito correto, muito certinho, muito coxinha, e é preciso sujar um pouco as coisas. O The Atomic Bitchwax foi feito na medida pra quem quer uma música onde o que mais importa, sempre e sem dúvida, é o peso, a pauleira, pura e simples. Se essa é a sua praia, está aí um dos grandes álbuns do ano.

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