quinta-feira, 2 de julho de 2015

O paraíso perdido do Symphony X

12:09

Uma primeira audição de Paradise Lost indubitavelmente assustará qualquer fã ou conhecedor do trabalho da banda norte-americana Symphony X. Por mais que The Odissey, o (então) CD anterior, já trouxesse uma dose muito maior de peso, esse peso é ínfimo se comparado ao que o grupo fez neste disco.

As passagens intricadas não poderiam faltar, assim como as influências clássicas que sempre caracterizaram a banda. Em contrapartida, o clima épico das composições está muito mais evidente. Mas o que realmente chama a atenção em Paradise Lost é o peso espetacular de suas dez faixas. A guitarra está na cara, a cozinha está matadora, o teclado mais parece uma segunda guitarra. Aliás, Michael Romeo e Jason Rullo (bateria) estavam especialmente inspirados, e estraçalham seus instrumentos sem dó durante todo o álbum. Mas, por mais que todos os integrantes do Symphony X sejam verdadeiros virtuose, nada se compara ao que o vocalista Russel Allen faz em Paradise Lost.

Esqueça aquele vocal mais limpo de discos como The Divine Wings of Tragedy (1997) ou V: The New Mithology (2000). Já na primeira faixa, “Set the World on Fire (The Lie of Lies)”, a voz de Allen surge quase gutural, agressiva como nunca esteve, e mostrando mais uma vez o porque de ele ser apontado como um dos melhores vocalistas e intérpretes de heavy metal do planeta. Sua performance é de cair o queixo.

Musicalmente, as canções seguem estruturas similares às apresentadas em The Odissey, mas com uma quantidade muito maior de riffs. Não percebi, conforme li em vários reviews, a presença de elementos de power metal em algumas faixas. O que realmente fica evidente é que Michael Romeo compôs Paradise Lost ouvindo muito thrash, já que várias canções mostram a adição de influências deste estilo. E o resultado, como era de se esperar, é, no mínimo, excelente.

Faixas de destaque? A intro “Oculus Ex Inferni”, “Set the World on Fire (The Lie of Lies”), “Domination” (a minha preferida em todo o disco – que refrão!!!”), a belíssima “Paradise Lost” (na minha opinião uma das melhores músicas da carreira da banda, com linhas vocais muito bonitas), a fritação de “Eve of Seduction”, “The Walls of Babylon” (com coros vocais não menos que espetaculares e toques egípcios em seu arranjo), “Seven” e a excelente “Revelation (Divus Pennae Ex Tragoedia)”, que fecha o CD.

Paradise Lost é um álbum diferente de todos os discos que você já ouviu do Symphony X. É mais pesado, muito mais agressivo, mas nem por isso menos brilhante. É um álbum muito mais metal do que progressivo. O talento que levou o grupo liderado por Michael Romeo a se transformar em uma das grandes bandas de heavy metal do planeta continua marcante, e fazendo a diferença.

Recomendável.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Apaguem as luzes, o Graveyard chegou pra ficar

16:14

Havia uma enorme expectativa em torno de Lights Out, terceiro disco do quarteto sueco Graveyard. O motivo foi o ótimo segundo álbum do grupo, Hisingen Blues, um dos melhores de 2011. Porém, demonstrando domínio extremo da situação, a banda não apenas gravou um sucessor à altura como fez questão de deixar claro que todo o reconhecimento e elogios em cima de seu som fazem todo o sentido.

A música do Graveyard, obviamente, possui uma identidade. Calcada no hard rock setentista, a sonoridade dos suecos traz de volta o som pesado, esfumaçado e chapado daquela época. Porém, o que chama a atenção é que o quarteto não se repete em nenhum dos seus três trabalhos, procurando seguir sempre novos caminhos e propostas musicais. Assim, apesar dos entusiasmados elogios a Hisingen Blues, o Graveyard mostra personalidade em Lights Out, propondo um som que, ainda que permaneça dentro do seu espectro sonoro, não se vale de fórmulas prontas.

Mais ainda que nos dois excelentes discos anteriores - antes de Hisingen Blues a banda colocou nas lojas o auto-intitulado primeiro álbum, em 2007 -, Lights Out mostra que o Graveyard é formado por quatro hippies cabeludos apaixonados por hard rock. O som é totalmente calcado na estética setentista e deixa pairando no ar um inebriante aroma de substâncias ilícitas. A música do Graveyard é leve e solta. Os músicos tem a mão livre e apostam mais no felling do que na precisão. 

Merecem menção especial duas características de Lights Out. A primeira é o apaixonante timbre das guitarras, sujas e empoeiradas como um bom som pesado pede. E a segunda é a performance irretocável do vocalista Joakim Nilsson (também guitarrista). Sua voz está suja, mais rouca e pigarreada que nos álbuns anteriores. “Seven Seven” é o ápice disso. As melodias vocais estão ainda mais eficientes e bem construídas, um passo à frente de Hisingen Blues. E quando resolve mudar a sua forma da cantar, Joakim encarna um narrador nas linhas vocais suaves de “Fool in the End”, que se metamorfoseiam no refrão, tornando-se ásperas, animalescas e hostis.

A maneira como o Graveyard monta os seus discos deixa claro os méritos da banda. Os caras abrem Lights Out com uma faixa mais agitada - “An Industry of Murder” -, para em seguida colocar na roda uma composição viajante pra caramba - “Slow Motion Countdown”. Isso mostra não apenas personalidade, mas uma fé na forma como a banda vê a sua música e o seu papel, importando-se somente com os seus princípios e não com estúpidas convenções.

Há uma clara divisão entre canções mais agitadas e outras mais calmas e contemplativas. Pauladas épicas como “The Suits, The Law & The Uniform”, com cara de futuro clássico e um riff simples e matador, são exemplos perfeitos do lado mais agressivo do Graveyard. O mesmo vale para “Endless Night” e “Goliath”, o primeiro single, uma composição cativante e com guitarras faiscantes, que condensa todo o poder da música do grupo em apenas 2:50. Do outro lado da moeda, sons como a pequena obra-prima “Slow Motion Countdown” (com sutis teclados, uma novidade para o grupo), a espetacular “Hard Time Lovin” (uma canção à moda antiga, que se desenvolve sem pressa e tem a melhor interpretação de Joakim em todo oálbum ) e “20/20 Tunnel Vision” mostram a fascinante face entorpecida do grupo, e também o seu principal trunfo. É em composições com essa característica que o Graveyard revela-se em sua plenitude, colocando todas as suas cartas na mesa e fazendo jus aos mais exagerados elogios. Quando a banda acerta a mão, não há nada semelhante no rock atual! Assim como tivemos a estupenda “Uncomfortably Numb” voando alto em Hisingen Blues, em Lights Out há “Hard Time Lovin” abrindo todas as portas, janelas e formas de percepção. 

Bastante diferente de Hisingen Blues, porém igualmente muito bom, Lights Out comprova a qualidade singular do Graveyard. A banda sueca é um assombro, um gigante que se revela a cada novo passo, conquistando cada vez mais espaço e deixando claro que chegou não apenas para ficar, mas para, sobretudo, fazer história. 

Seis anos de carreira, três discos e cada vez mais impressionante: vida longa ao Graveyard!

Cris e Chris, eu e você

10:40

A morte é sempre triste. Em todas as situações, momentos, causas e motivos. Quando a vítima é alguém famoso, na flor da idade e perde a vida de maneira violenta, é ainda mais chocante. Foi o que aconteceu com o cantor Cristiano Araújo, falecido no último dia 24 de junho, aos 29 anos, vítima de um acidente de trânsito.

Vou ser sincero com vocês: eu nunca tinha ouvido falar em Cristiano Araújo. Essa afirmação não tem nada de arrogância ou seja lá o que possam pensar, mas eu realmente não fazia ideia de quem era Cristiano Araújo. E me surpreendeu o fato de que um completo desconhecido neste meu mundinho particular era um dos maiores nomes da música jovem brasileira, ídolo de milhões de pessoas Brasil afora. Sua perda doeu fundo em milhões de fãs, e esse sentimento deve ser respeitado e jamais desprezado.

O fato de eu nunca ter ouvido falar de Cristiano Araújo vai muito além de não consumir o estilo de música que ele produzia. Eu não sou fã de sertanejo universitário, mas conheço alguns nomes do estilo, como Michel Teló, Gusttavo Lima, Jorge & Matheus. Mas nunca tinha ouvido falar de Cris. E aí entram outros aspectos bastante singulares. Não assisto TV aberta, por exemplo. Nenhum canal. É uma escolha que tomei por achar tudo muito fraco. Fico lá nos meus canais de esporte, nos Discoverys e Historys da vida, na HBO e afins. E nesses canais, nunca vi nada a respeito de Araújo. Os sites que acesso ou são de um estilo musical distante do praticado pelo falecido, ou trazem matérias sobre cultura pop, quadrinhos, cinema e outros assuntos do meu interesse. As revistas que leio são HQs, algumas de esporte, de vez em quando uma ou outra sobre música. Minhas timelines no Twitter e no Facebook ficam nestes assuntos, com um processo contínuo de seleção para mantê-las livres de qualquer coisa próxima a preconceito, imagens de mortes e acidentes, fanatismos diversos e o que mais entorte o meu estômago.

Me impressionou o fato de uma pessoa que eu não fazia ideia de quem fosse ser, na verdade, um ícone, um artista popular pra caramba, e, como tal, a sua morte ter batido tão forte no coração de um número enorme de pessoas. E isso faz pensar. Faz pensar em como o Brasil é um país imenso, com diferentes realidades e culturas em suas regiões. Quem é popular em um local, pode ser um completo desconhecido em outro. No entanto, Cristiano Araújo era popular em todo o país. Então essa teoria já cai por terra. E vamos para os nichos de consumo, que caminham lado a lado, de forma paralela, com as diferentes parcelas da população. Enquanto o amigo da mesa à frente curte o seu sertanejo universitário, o cara ao lado mergulha no metal e o mais à esquerda curte suas canções românticas. E todo um universo se abre em cada um destes estilos, universos que são praticamente desconhecidos por quem está aí, ao seu lado e bem perto de você. E não há nada de errado nisso.

Me incomodou um pouco a postura que li em diversas matérias e comentários, com pessoas indignadas pelo fato de um grande número de pessoas, dos quais faço parte, nunca terem ouvido falar de Cristiano Araújo antes de sua morte. Como se fosse proibido não conhecer o finado cantor. Pois é, isso acontece, e é perfeitamente normal. Como já disse, cada um tem os seus próprios hábitos de consumo, e dentro de cada um deles existem ícones que possuem um enorme significado dentro daquele nicho, e não representam nada fora dele. 

Podemos fazer um exercício com outro músico falecido recentemente, um quase homônimo do Cris que parou o Brasil: Chris Squire, baixista do Yes. O Yes é uma banda inglesa formada nos anos 1960 e na ativa até os dias de hoje. O grupo é um dos pilares do rock progressivo, gênero marcado por canções repletas de movimentos ousados, mudanças de climas e que tem, entre as suas principais características, a notável técnica de seus instrumentistas. Chris Squire era membro fundador e baixista do Yes. Um ícone do contra-baixo, reconhecido mundo afora como um dos maiores músicos do gênero. Squire faleceu em 27 de junho, aos 67 anos, vítima de leucemia. E, assim como a perda de Cristiano Araújo fez com seus fãs, deixou um enorme vazio nos milhões de admiradores do Yes mundo afora. 

Eu nunca tinha ouvido falar de Cristiano Araújo. Assim como é bem provável que a grande maioria dos fãs do Cris que parou o Brasil jamais tenham escutado o nome de Chris Squire. Dois músicos que encheram de alegria a vida de seus fãs, cujas canções estão nos corações de milhões de pessoas. Um não vale mais do que o outro, assim como o outro não vale mais do que o um. Ambos seres humanos, cujas perdas devem ser lamentadas. Ambos nomes importantes em seus universos, e completos desconhecidos fora deles.

Meus sentimentos aos órfãos de Cristiano Araújo. Minhas condolências aos que sentem saudades de Chris Squire. E o meu desejo de saúde e uma vida boa e repleta de alegrias não apenas para quem curte música, mas também para os artistas que nos fazem amar esta arte maravilhosa, que esquenta o coração e alimente a alma. Seja através do sertanejo universitário, do rock progressivo ou de qualquer outro gênero.


terça-feira, 30 de junho de 2015

Enslaved, a obra-prima do Soulfly

16:07

Enslaved, oitavo álbum do Soulfly, acentua o direcionamento que a banda de Max Cavalera vem seguindo nos últimos anos, aproximando-se cada vez mais não só do thrash metal, mas também do death – além de alguns flertes com o black metal. Não há nem sombra do experimentalismo dos primeiros álbuns, que traziam efeitos eletrônicos e coisas do gênero.

Ao lado de Max estão o parceiro Mark Rizzo nas guitarras e os estreantes Tony Campos (Static-X, Asesino) e o baterista David Kinkade (Borknagar), constituindo uma das formações mais consistentes nas quase duas décadas de história do grupo. Além disso, Enslaved conta com as participações especiais de Travis Ryan (vocalista do Cattle Decapitation) em “World Scum”, Dez Farfara (vocalista do Coal Chamber e do DevilDriver) em “Redemption of Man by God” e dos filhos de Max – Richie, Zyon e Igor Jr. - em “Revengeance”.

Produzido por Chris “Zeuss” Harris (3 Inches of Blood, Chimaira, Shadows Fall) e pelo próprio Max, Enslaved é um disco incrível. As composições são excelentes, fortíssimas. Nelas, o guitarrista e vocalista conduz a banda por uma sonoridade que pode ser definida como uma espécie de thrash metal contemporâneo, com muita agressividade e peso. Em certas passagens, a banda, como mencionado antes, faz uso de elementos ainda mais extremos, inserindo características do death e até mesmo do black metal – como blast beats, por exemplo -, deixando o seu som ainda mais poderoso. Há uma boa dose de melodia na parte instrumental, que, aliada ao peso e à agressividade da performance como um todo, torna as faixas muito fortes e cativantes.

David Kinkade deu uma declaração onde afirmou que Enslaved soava como se Arise tivesse sido turbinado com doses de crack. A afirmação faz sentido. As músicas soam como se Max tivesse dado sequência ao clássico do Sepultura. A consistência e a qualidade das composições impressionam, bombardeando o ouvinte com uma sequência de faixas que batem no peito e fazem qualquer headbanger bater cabeça instantaneamente.

Destaque para “World Scum”, “Gladiator”, a porrada de “American Steel”, “Redemption of Man by God”, “Plata O Plomo” (com instrumental que une o metal ao flamenco e cuja letra, cantada em português por Max e em espanhol por Campos, faz referência ao lendário traficante colombiano Pablo Escobar), “Chains” (mais de sete minutos de uma odisséia thrash que fará os fãs irem às lágrimas) e o grito familiar de “Revengeance”, onde Max mostra que está preparando bem os herdeiros para, um dia, assumirem o seu lugar.


Pondero muito antes de dar a nota máxima para um disco. O motivo para isso é que vejo tantos reviews de sites e revistas especializadas em heavy metal para álbuns apenas medianos recebendo nota 8 pra cima, que tenho a impressão que qualquer disco legalzinho já é considerado pela maioria um clássico. Mas em Enslaved vou ter que abrir uma exceção. O álbum é admirável do começo ao fim, e, para mim, é o melhor trabalho de toda a carreira do Soulfly.

Se 2012 acabasse hoje, esse seria o disco do ano!

O texto acima foi escrito e publicado no dia 8 de março de 2012. Ou seja, há mais de três anos. E, ouvindo Enslaved hoje em dia, passados mais de mil dias de seu lançamento, a opinião, a impressão, o sentimento e a convicção continuam iguais. Trata-se de um álbum espetacular, feroz e criativo, e que ocupa o topo da carreira do Soufly como o melhor trabalho gravado por Max Cavalera após a sua saída do Sepultura. Se, por algum motivo ou por várias razões, você ainda não tenha colocado os ouvidos no disco, aproveite este texto e sangre os seus ouvidos com prazer.

De pai pra filho: AC/DC

15:14

Era um moleque com apenas 12 anos quando ouvi AC/DC pela primeira vez. Foi no início de 1985, e assisti a banda pela TV, tocando no Rock in Rio. Aquilo mudou a minha vida. Foi ali que fui fisgado pelo rock.

Não tinha grana, era apenas um garoto. Ainda não trabalhava, e filho de professores nunca tem dinheiro sobrando. Assim, só fui colocar a mão em dois discos do grupo no final daquele ano, quando fiz aniversário. Estava em Pelotas, onde minha avó e tios moravam, e meu padrinho me levou em uma loja de departamentos para me dar um presente. Não sei se era Mesbla, Renner, não lembro. Mas não esqueço que saí de lá com dois LPs embaixo do braço: ’74 Jailbreak (1984) e For Those About to Rock (We Salute You) (1981).

A dupla entrou na minha história também por outro motivo: foram os dois primeiros discos de rock da minha coleção. Na verdade, foram o segundo e terceiro LPs da minha coleção. Antes deles tinha apenas o Thriller (1982), do Michael Jackson, que havia ganhado da minha madrinha, acho que no mesmo aniversário de 13 anos.

Ouvir as 15 faixas presentes nos dois álbuns foi como abrir um novo universo. O impacto de um riff em um garoto que está descobrindo o rock jamais deve ser subestimado. Foi uma sensação mágica, única, inesquecível. De cara, gostei mais do EP, com hinos como “Jailbreak”, “You Ain’t Got a Hold on Me” e “Soul Stripper”. Mas também mergulhei em For Those About Rock, primeiramente levado pela capa e pela imortal faixa-título, e depois por canções como “Put the Finger on You”, “Let’s Get It Up”, “Evil Walks”, “C.O.D.” e “Breaking the Rules”.

Nunca aprendi a tocar nada, nenhum instrumento. Pelo menos não efetivamente, já que esses dois discos me transformaram em exímio tocador de air guitar, antes mesmo do termo existir. Encontrei uma antiga raquete de tênis que era do meu falecido avô, fiz um cinta com fita adesiva e aquela Gibson imaginária me acompanhou por anos.

Cresci, e o AC/DC continuou um dos meus melhores amigos. Vivia em uma cidade pequena, com uns 10 mil habitantes, no interior do Rio Grande do Sul. Espumoso não tinha muito público para rock, mas todos os meus amigos, ao escutarem o AC/DC, também tiveram reações similares às minhas.

Curioso por natureza, aos poucos fui conhecendo os outros álbuns da banda. Minha coleção de LPs crescia a olhos vistos, e alguns deles foram inseridos no meio daquela montanha de vinis. O fenomenal Back in Black (1980), que no Brasil saiu com os lados A e B invertidos. O incrível Powerage (1978), até hoje um dos meus discos preferidos, com uma energia quase punk. O sangrento ao vivo If You Want Blood, You’ve Got It (1978) com sua antológica versão do hino “The Jack”.

Já adulto, redescobri novamente a banda. Comprei todos os discos em lindos digipaks, e mais uma vez o impacto, o efeito daquela música, foi acachapante. Nessa época ouvi melhor trabalhos que haviam me passado quase batidos, como o debut High Voltage (1975) - um dos meus favoritos -, o excepcional Highway to Hell (1979) e o menosprezado Flick of the Switch (1983). Quando Black Ice (2008) foi lançado, comprei três cópias diferentes, uma para cada ilustração da capa.

Hoje sou um cara bem distante e diferente daquele garoto de 12 anos. Já ouvi literalmente milhares de discos, entrei em contato com centenas de sonoridades distintas. Essa experiência toda me fez um ouvinte melhor e mais maduro, e isso me faz entender como o AC/DC fascina, porque ele cativa e apaixona as pessoas. O hard rock do grupo, banhado em doses generosas de blues rock e conduzido com dedos ágeis pelas guitarras dos irmãos Angus e Malcolm Young, é um dos sons mais característicos do rock and roll. E, levando em conta os discos mais recentes - apesar do mediano Rock or Bust (2014) -, está ficando ainda melhor com a chegada dos cabelos brancos.

Tenho um filho chamado Matias. Ele nasceu em 2008, assim como o penúltimo disco da banda, o ótimo Black Ice. E desde cedo o Matias adora AC/DC. A primeira vez que ele viu e ouviu a banda foi através do DVD Family Jewels (2005), compilação de clipes do quinteto. Devia ter no máximo 2 anos. Ele adora “Back in Black”, e sabe inclusive tocar a música no tempo certo na guitarra. Sabe a letra de “T.N.T.”, e sempre a canta quando a faixa começa em algum lugar. Aprendeu isso sozinho, com a memória musical diferenciada que dá dicas de possuir. E, claro, com uma mãozinha do pai número 2, o Chico, guitarrista e que, assim como eu, se enche de orgulho toda vez que ele menciona qualquer coisa relacionada à banda. Não posso esquecer também da mãe, Carla, outra grande fã da banda, e que, em uma viagem para Dubai, voltou com uma camiseta linda do grupo para o nosso pequeno rocker.

Entendo que o que atrai o Matias ao AC/DC é a energia, a simplicidade e a autenticidade da banda. Ele adora assistir, e se derrete em risadas, ao ver o strip tease de Angus Young na versão de “The Jack” que está no DVD Live at River Plate (2011). 

É isso: o AC/DC não enrola, vai sempre direto ao ponto, é despretencioso e não quer fazer outra coisa que não seja curtir o bom e velho rock and roll. Sensação que é compartilhada por ouvintes de todas as idades, tenham eles 7, 12 ou 40 anos.


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