sexta-feira, 31 de julho de 2015

Um disco por dia: Chris Robinson Brotherhood - Big Moon Ritual (2012)

17:39

Em um mundo cada vez mais frenético, nervoso e individualista, o ato de ouvir música passou por uma transformação profunda. Há poucos anos atrás, escutar um disco era uma atividade tangível. Você comprava o LP, levava pra casa, abria o plástico da embalagem, tirava o disco com todo cuidado, colocava o vinil na vitrola e curtia sem pressa aquilo que o artista havia criado. Hoje não é mais assim. Atualmente, você ouve um amigo falar de uma banda, ou escuta uma canção na TV, e vai já correndo para o computador atrás do arquivo para baixar, colocar no seu MP3 player e ouvir entre as centenas de faixas que estão ali. A música não tem mais cara e ficou resumida a um arquivo sem identidade perdido entre tantos outros.

Na contramão dessa correria toda, eis que desabrocha um antídoto para o borrão que virou o cotidiano da maioria das pessoas. Como um Messias hippie deslocado no tempo e extremamente orgulhoso de sua condição, surge no horizonte a figura de Chris Robinson, vocalista do The Black Crowes. 

Sem o irmão quase siamês Rich ao seu lado devido ao hiato no qual os corvos se encontram, Chris chamou o guitarrista Neal Casal (que tocou com Ryan Adams por muito tempo), o tecladista Adam MacDougall (parceiro nos Crowes), o baixista Mark Dutton (Burning Tree) e o baterista George Sluppick (que tocou com um sem número de grupos). O quinteto excursionou por um ano pelos Estados Unidos azeitando a química entre os integrantes, e, felizmente, conseguiu transportar para o estúdio toda a alquimia sonora construída entre os músicos.

Batizado como Chris Robinson Brotherhood, o CRB lançou em junho de 2012 o seu primeiro disco, Big Moon Ritual. O play tem apenas sete faixas - mas que 7 faixas! O astral aqui é contemplativo, tirando o ouvinte da correria, desacelerando o seu organismo e colocando-o em outro estado de espírito. Quatro das faixas tem mais de sete minutos. Duas delas ultrapassam os nove. E “Tulsa Yesterday”, que abre a bolacha, quase supera a barreira dos doze minutos.

Big Moon Ritual proporciona uma espécie de comunhão hippie entre a banda e os felizardos que ouvem o álbum. A sonoridade é calma, baseada no blues embebido com onipresentes características do soul e do country. Isso dá uma cara bem rural, bucólica e interiorana para a coisa toda. Chris Robinson chama você para um papo, acende um cigarro, serve um whisky e conta histórias sem pressa. Ao final da garrafa ambos os lados, banda e fãs, sentem-se como velhos amigos, integrantes de uma mesma irmandade, despreocupados com o mundo e ligados realmente no que importa: a vida, e apenas ela.

Não há destaques individuais, assim como nenhuma música se sobressai às outras. O que temos aqui é um trabalho conjunto de uma banda formada em torno de uma mesma visão de mundo, um disco que é muito maior que a soma de suas faixas. 

Big Moon Ritual é o contraste necessário, o carro que vem na direção contrária, o cara que contesta o senso comum. É o pensar diferente da maioria, acreditando que é possível ter uma vida muito mais completa que a que temos, cercados por computadores, cumprindo prazos cada vez mais apertados buscando alcançar expectativas sempre mais elevadas. Big Moon Ritual é o inverso disso tudo. Ele faz a gente colocar os pés no chão e repensar se a correria e o stress do dia-a-dia realmente valem a pena. E, ao final de sua deliciosa audição, a resposta está na ponta da língua: é claro que não.

Você um dia acordou e percebeu que o verdadeiro prazer está nas pequenas coisas, em estar perto de quem você ama, junto de quem te conhece quase mais do que você mesmo. Big Moon Ritual é a trilha para esse sentimento. 

Ouça, e descubra um eficiente atalho para a felicidade!

Todos os dias, um review analisando um álbum da minha coleção. Leia no volume máximo, ouça com o coração aberto.

Como o Metallica definiu uma vida

15:41

Calças jeans, camiseta, o inseparável All Star nos pés e alguns pêlos na cara. Foi assim que, do alto dos meus 14 anos, no longínquo 1986, entrei em uma loja de discos no interior do Rio Grande do Sul para realizar um ritual que me acompanharia pelo resto da vida: garimpar novos álbuns, descobrir novas bandas, ouvir novos sons.

Fuçando nas prateleiras repletes de LP, folhando cada um dos títulos que se sucediam à minha frente, eis que dou de cara com um álbum que me fez parar, suar frio e sentir minhas pernas tremerem. Era Ride the Lightning, segundo disco de um grupo muito falado por aqui, mas pouco ouvido naquela época: o Metallica.

Muito falado porque as revistas especializadas de meados da década de 1980, como a paulista Rock Brigade e a carioca Metal, não cansavam de estampar a banda em suas páginas, sempre com elogios enormes para aquele então iniciante e relativamente desconhecido quarteto californiano. Pouco ouvido porque, diferente de hoje em dia, quando praticamente qualquer bandeca oriunda dos mais remotos cantos do mundo tem seus discos disponibilizados na internet e nos mais diversos canais, naquele tempo isso não acontecia. Encontrar aquele álbum daquela banda que você queria muito conhecer - e não podia, porque não havia MP3 para baixar, ou você comprava o LP ou pedia para um amigo seu que tinha o título gravá-lo em fita k7 para você - era, quase sempre, um exercício de paciência e garimpo.

Foi por isso que, naquele dia, subitamente minhas pernas cambalhearam, fiquei pálido e suei frio. Ali, na minha frente, estava um disco sobre o qual eu já havia lido muito, de uma que eu sabia o nome dos integrantes de cor, mas cujo som eu ainda não havia colocado os ouvidos! Foi com as mãos tremendo e um misto de calma e euforia que peguei o LP, com os olhos vidrados naquela bela capa azul repleta de raios, e me dirigi até a cabine para ouvi-lo. Em um misto de apreensão e ansiedade, com o coração saindo pela boca, retirei o vinil de dentro do plástico, coloquei-o sobre o prato e, com a mão tremendo, dirigi a agulha até seus sulcos.


O som que saía do fone de ouvido era o de um belíssimo violão sendo dedilhado, preparando o caminho para o que viria a seguir. Quando o riff de "Fight Fire with Fire" finalmente surgiu, com suas guitarras pesadíssimas, rápidas e cheias de palhetadas empolgantes, foi um soco no estômago! Naquele momento experimentei uma sensação que nunca mais iria se repetir em toda a minha vida: o que saía dos sulcos daquele LP era o som que habitava a minha cabeça adolescente há tempos, me empolgava em meus sonhos juvenis delirantes, mas que eu nunca havia topado pela frente - até então!

As faixas se sucediam, e o sorriso em meu rosto ia tomando proporções épicas, enquanto, apesar de o meu corpo permanecer dentro daquele loja de discos, minha mente estava nos mais incríveis e distantes lugares, menos ali. "Ride the Lightning", "For Whom the Bell Tolls", "Fade to Black", "Trapped Under Ice", "Escape", "Creeping Death" e a incrível "The Call of Ktulu" tiveram um impacto imediato e gigantesco, transformando-se, sem pedir licença, na trilha sonora da minha vida.

Música é emoção. Para quem ouve, para quem compõe e para quem toca. Tentar racionalizá-la é transformar um lindo quadro repleto de cores em uma tela sem vida. É por isso que aquilo que vivemos com tanta intensidade, as experiências que marcaram nossas vidas, nos acompanham até o final de nossos dias. É por isso que, mesmo passados quase trinta anos daquele primeiro encontro, até hoje sinto algo diferente, um frio na espinha, toda vez que ouço qualquer coisa do Metallica.

Ter uma experiência musical tão intensa quanto essa é o que diferencia um ouvinte comum de caras como eu e como você, que tem a música como elemento fundamental de suas vidas. O poder da música, a paixão que ela nos faz sentir, com o coração batendo mais forte e a cabeça balançando involuntariamente toda vez que o som sai dos alto-falantes, mesmo quando você já deixou de ser um adolescente há tempos, é o que nos faz sentir vivos, com o sangue pulsando nas veias e a energia rolando pelo corpo.

É por tudo isso que James Hetfield, Kirk Hammett, Lars Ulrich e companhia sempre farão parte da minha vida - eternamente, em alto e bom som.



Como preparar barras de carne, comendo só Nutella por uma semana e o filme da Liga da Justiça

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Um disco por dia: Baroness - Yellow & Green (2012)

18:29

Há uma mudança de curso em Yellow & Green, terceiro disco da banda norte-americana Baroness. Pretencioso até a alma e bom até dizer chega, o álbum - duplo, com 18 faixas - traz o quarteto investindo em uma sonoridade mais ampla, que vai muito além do sludge com elementos progressivos dos trabalhos anteriores, Red Album (2007) e Blue Record (2009).

Produzido por John Congleton (Modest Mouse, Okkervil River, The Polyphonic Spree), Yellow & Green é um trabalho repleto de detalhes. Pesado, psicodélico, atmosférico e experimental, tudo ao mesmo tempo, o disco coloca os holofotes da música pesada focados no grupo. Resumindo em palavras: neste disco, o Baroness soa como se o Radiohead tocasse heavy metal. Não há limites, a criatividade é onipresente, não existem preconceitos, os medos e receios foram todos embora. Isso faz com que cada faixa seja imprevisível, cada composição seja um choque. E é justamente essa sensação que faz Yellow & Green ser um disco tão impressionante.

Indo muito além do padrão e fugindo das conveniências, o Baroness arrebata. John Baizley e Peter Adams derramam guitarras gêmeas inspiradas em diversos momentos, enquanto Matt Maggioni e Allen Bickle - baixista e baterista, respectivamente - trabalham como um ser único de duas cabeças, quatro braços e um mesmo objetivo. 

A principal qualidade de Yellow & Green é que trata-se de um álbum que tem como ingrediente principal algo cada vez mais em falta na música: a alma, o coração. As canções emocionam, as melodias são simples. O sentimento é palpável e contagia o ouvinte.

É até um pouco estranho uma banda atual lançar um álbum duplo com 18 faixas inéditas. Mas mais surpreendente que isso é o fato de essas faixas serem todas pertinentes, fazendo com que os pouco mais de 70 minutos do disco passem rápido e sem traumas. Há reminiscências de Pink Floyd, Mastodon e Radiohead aos montes durante todo o play, em uma tapeçaria sonora precisa e tocante.

“Take My Bones Away”, primeiro single, é uma das melhores músicas dos últimos anos. “Eula”, o segundo, é o tipo de faixa com poder para conquistar uma pessoa por anos. “Cocainium” soa como se o Mastodon tivesse gravado Ok Computer. A beleza e a melancolia são onipresentes em Yellow & Green.

Quando se é um consumidor, um colecionador de discos e um ouvinte de música há um certo tempo - no meu caso, há 30 anos -, a gente aprende a identificar, de imediato, aqueles trabalhos que são mais que simples CDs ou LPs, e que irão nos acompanhar por toda a vida. Yellow & Green é um deles. Um novo parceiro, que chega e já encontra o seu lugar confortável na vida de quem curte um som inovador, original e sem medo de experimentar novos caminhos. 

Música com vida e com alma, capaz de deixar qualquer um com o coração na boca: assim é Yellow & Green, um dos grandes discos desta década.

Ouça e dê um presente para a sua vida.

Todos os dias, um review analisando um álbum da minha coleção. Leia no volume máximo, ouça com atenção.

Caminhando sobre a lua: a história do Concrete Blonde

15:27

Um dos nomes mais importantes do rock alternativo norte-americano dos anos 1990, o Concrete Blonde tem uma carreira repleta de excelentes discos e canções marcantes, onde o feeling é o prato principal de uma sonoridade que traz elementos de hard rock, surf music e gótico. 

O embrião da banda nasceu em 1982, em Los Angeles, quando a vocalista e baixista Johnette Napolitano e o guitarrista James Mankey formaram o Dream 6. O conjunto durou pouco e lançou apenas um EP, auto-intitulado, pela gravadora francesa Happy Hermit, mas que não deu em nada. A dupla seguiu na ativa compondo e se apresentando pela Califórnia, e em 1986 assinou com a I.R.S. Records. Por sugestão do colega de selo Michael Stipe, vocalista da então novato R.E.M., resolveram trocar o nome para Concrete Blonde, termo que, segundo Stipe, descrevia com perfeição o contraste entre o som pesado e cheio de energia e as letras extremamente introspectivas de Johnette.

Uma curiosidade: “concrete blonde” era também um termo depreciativo aplicado às bandas de hard rock de Los Angeles, cujos músicos usavam e abusavam de permanentes e sprays fixadores para armar as suas discutíveis cabeleiras. Bata o olho em algumas imagens do período, de nomes como Ratt e Poison, e entenda.


Johnette e Mankey chamaram então o baterista Harry Rushakoff (que havia tocado no Special Effect, primeira banda de Al Jourgensen, do Ministry), entraram em estúdio e saíram de lá com um excelente disco de estreia. Lançado em 1986, Concrete Blonde, o álbum, foi aclamado pela crítica, que adorou o rock alternativo com elementos de punk e gótico do trio. Produzido por Earle Mankey - guitarrista do Sparks e responsável por álbuns das Runaways, The Dickies e The Three O’Clock -, o LP trazia doze faixas refrescantes, todas compostas por Johnette Napolitano - as exceções são a instrumental "True”, de James Mankey, e a ótima versão para “Beware of Darkness”, de George Harrison.

Nesse primeiro disco já ficaram claras as principais características do grupo. Tendo como elemento principal a bela voz grave de Johnette, sempre emoldurada pela guitarra cheia de personalidade de Mankey, o Concrete Blonde chamou a atenção com composições fortes e muito bem construídas como “Dance Along the Edge”, “Over Your Shoulder” e “Cold Part of Town”. Ao lado delas, explosões sonoras que mostravam as raízes punks do trio e soavam como verdadeiros tapas na orelha, como “Your Haunted Head” e “Still in Hollywood”. E, fechando com chave de ouro, as pequenas jóias pops “Song for Kim (She Said)” e “Little Sister”.

O disco rendeu três singles - “Still in Hollywood”, “Dance Along the Edge / Make Me Cry” e “True / True II” e recebeu boas críticas na imprensa especializada. O trio rodou os Estados Unidos tocando sem parar, e retornou ao estúdio somente em 1988. 


Trabalhando novamente com Earle Mankey, contando com a mixagem de Chris Tsangarides e com mais um guitarrista na formação - Alan Bloch -, a banda gravou dez novas faixas, que foram lançadas no início de 1989 no álbum Free. O som estava diferente, com uma personalidade mais forte, com menos elementos do punk e uma presença maior de características góticas.

Está em Free o primeiro grande hit do Concrete Blonde, “God is a Bullet”, parceria de James Mankey e Johnette Napolitano - que, mais uma vez, respondeu por todas as composições. O disco é mais pesado, mais sombrio, que o debut. Destaque para “Roses Grow” - uma espécie de rap construído apenas com a bateria e os vocais de Johnette -, “Scene of a Perfect Crime”, a arrepiante “Little Conversations”, “Carry Me Away” e o pop perfeito de “Happy Birthday”. Vale mencionar também a boa releitura de “It’s Only Money”, do Thin Lizzy, e a linda capa, criada por Johnette em parceria com a artista Anne Sperling.

Devido ao vício em heroína, Harry Rushakoff deixou o grupo em 1990. Para o seu lugar a banda recrutou o ex-baterista do Roxy Music, Paul Thompson, e voltou a ser apenas um trio. A entrada do experiente músico colocou o Concrete Blonde um nível acima, e o resultado foi o espetacular Bloodletting, lançado em 19 de setembro de 1990 e o trabalho preferido de grande parte dos fãs.


A veia gótica ficou ainda mais saliente no terceiro disco, produzido pela própria banda ao lado de Chris Marshall. As dez composições formam um painel que retrata com perfeição o início da década de 1990 no rock norte-americano, que levou à popularização da cena alternativa. O álbum conta com as participações especiais de Peter Buck, guitarrista dos brothers do R.E.M., tocando mandolin em “Darkening of the Light”, e Andy Prieboy, do Wall of Voodoo, responsável pelo teclado na versão de “Tomorrow, Wendy”, do seu próprio grupo.

Uma verdadeira obra-prima, Bloodletting é um clássico do rock alternativo ianque. Novamente com todas as faixas compostas por Johnette Napolitano, o disco tem grandes músicas como “Bloodletting (The Vampire Song)”, “The Sky is a Poisonous Garden”, a já citada “Darkening of the Light” e a doce “Lullabye”. Mas os pontos mais altos são “Caroline”- uma espécie de road song gótica -, a linda “Joey” - cuja letra conta a história da paixão pelo álcool e é uma das mais pessoais escritas por Johnette - e “Tomorrow, Wendy”, que se transformou em hino graças à letra, que conta os últimos momentos de uma paciente terminal de AIDS - a doença vivia, naquela época, os seus primeiros e aterrorizantes anos, apavorando milhões em todo o planeta.

Bloodletting foi o mais próximo que o Concrete Blonde chegou do mainstream. O sucesso inesperado de “Joey” - a faixa chegou à posição 19 nas paradas da Billboard - fez o trio arranhar o sucesso, e a canção acabou se transformando em um dos maiores hits do rock americano dos anos noventa, presente em dezenas de compilações.


O passo seguinte foi o também excelente Walking in London, lançado em 10 de março de 1992. No disco, o trio retomou a parceria com o renomado Chris Tsangarides, responsável pela produção em parceria com a própria banda. O LP marcou também o retorno de Harry Rushakoff após um período em uma clínica de reabilitação. O baixista Tom Petersson, do Cheap Trick, participou tocando em várias faixas.

Walking in London trouxe o Concrete Blonde explorando uma sonoridade um pouco mais pesada, mas mesmo assim mantendo o ambiente sombrio e marcante do gótico. Johnette, novamente responsável por todas as faixas - a exceção é o cover para “It’s a Man’s World”, clássico de James Brown -, experimentou em algumas canções, como na bela “Les Coeurs Jumeaux”, cantada em francês, e na própria releitura de “It’s a Man’s World”, que aparece como um surpreendente blues com tempero gótico. A marcante faixa-título, a linda “Why Don’t You See Me” e “Someday?” - outra jóia pop - são os destaques.


O Concrete Blonde atingiria o ápice no disco seguinte, o ótimo Mexican Moon, lançado em 19 de outubro de 1993. Tendo como tema central o celebração do Dia dos Mortos, data tradicional da cultura mexicana, Johnette alcançou o topo como compositora. Produzido pela banda e por Sean Freehill, o trabalho é praticamente um disco de hard rock, e tem pouco da sonoridade gótica dos álbuns anteriores. Paul Thompson assumiu novamente a bateria, tocando na maioria das faixas enquanto Rushakoff passava por uma nova internação.

A linda faixa-título, que também marca presença em uma interessantíssima versão em espanhol batizada como “Bajo la Lune Mexicana”, é uma das melhores músicas da carreira do grupo. Além dela, a pesada “Heal It Up” - cujo clipe rolou bastante na MTV brasileira -, “Rain”, “Close to Home” e “End of the Line” - de Bryan Ferry - são os principais destaques de um trabalho excelente.

Infelizmente, Mexican Moon acabou sendo o canto do cisne do Concrete Blonde. A banda se separou após a turnê. Mas os fãs não ficaram na mão. Em 1994 foi lançada a ótima compilação Still in Hollywood, com faixas ao vivo, b-sides e material inédito, e em 1996 foi a vez da coletânea Recollection chegar às lojas. Se você nunca ouviu o grupo, recomendo esses dois CDs.

Entretanto, o fim foi apenas temporário. A banda retornou em 1997 com o curioso Concrete Blonde y Los Illegals, gravado ao lado dos compatriotas punks Los Illegals. O disco é bem interessante, e duas das dez faixas entram, certamente, entre os melhores momentos da carreira do grupo - “Viva La Vida” e “La Llorona”. O retorno acabou sendo breve, e os caras se separaram mais uma vez.

O retorno (definitivo?) do Concrete Blonde aconteceu somente em 2001, e de lá para cá a banda tem se mantido ativa, ainda que um tanto bissexta. Desde então já lançaram dois trabalhos de estúdio - Group Therapy (2002) e Mojave (2004) -, ambos apenas medianos, além do duplo ao vivo Live in Brazil (2003), gravado durante a turnê brasileira de 2002. Atualmente, ao lado da dupla Johnette e Mankey está o batera Gabriel Ramirez Quezada.



Johnette Napolitano vive em Los Angeles cercada por dezenas de gatos e lançou alguns álbuns solos no decorrer dos anos. Já James Mankey gravou com a banda Sparks e também colocou no mercado um disco instrumental em 2003.

A força do Concrete Blonde está nas composições de sua líder, vocalista e baixista. Extremamente talentosa e com um talento nato para a melodia, Johnette Napolitano, apesar de pouco reconhecida, é uma das maiores compositoras do rock norte-americano dos anos 1990. Seu trabalho é profundo, extremamente pessoal e tocante, causando identificação com pessoas das mais variadas classes e países. No Brasil, a banda é associada ao surf devido à grande popularidade que possui junto aos adeptos do esporte, mas a sua música vai muito além. Complexa, densa e dona de uma beleza arrebatadora, a obra do Concrete Blonde está entre os pontos mais altos do rock produzido nos Estados Unidos nas últimas décadas.

Se você nunca ouviu o grupo, aproveite este texto e conheça já os discos. Se já conhece, redescubra. Afinal, nunca é demais ouvir música de qualidade.

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