quinta-feira, 10 de setembro de 2015

10 exemplos de como 2015 está sendo um ótimo ano para a música - Parte 3

19:04

Mais uma dezena de motivos pra você amar 2015, com dez discos bem legais que saíram este ano. Aqui, a coisa está mais focada no blues, blues rock e southern, de modo geral.

E pra atualizar o seu playlist, dê uma conferida na parte 1 e na parte 2 desta série de posts.


My Sleeping Karma - Moksha

Quinto álbum da banda alemã My Sleeping karma, Moksha foi lançado no final de maio e traz onze faixas espaciais e siderais. O lance aqui são canções com ricas camadas instrumentais e arranjos espessos que se equilibram entre a psicodelia, o stoner e o space rock.


Dommengang - Everybody’s Boogie

Estreia deste power trio norte-americano, que entrega um blues rock com pitadas psicodélicas. A banda soa como uma mistura bizarra entre ZZ Top e The Doors, com canções predominantemente instrumentais. Se você pegar a estrada ouvindo este disco, certamente ultrapassará todos os limites de velocidade.


Left Lane Cruiser - Dirty Spliff Blues

Este é o oitavo álbum do Left Lane Cruiser, trio formado nos Estados Unidos e que executa um blues rock direto ao ponto, com sonoridade crua e arranjos diretos. Sem frescura, a banda garante a diversão dos ouvidos com boas canções.


Sonny Landreth - Bound by the Blues

Como o título indica, aqui a coisa é pra quem curte blues. Bound by the Blues é o novo álbum do veterano, porém não tão conhecido, bluesman norte americano Sonny Landreth. Guitarrista de mão cheia, com domínio evidente do slide, Landreth passeia por composições próprias e por versões nada óbvias para clássicos como “It Hurts Me Too” e “Key to the Highway”. Boa pedida!


The Muggs - Straight up Boogaloo

Hard rock poeirento, com guitarras pesadas e muito groove, tudo embalado com a inconfundível e deliciosa influência southern e country. Natural de Detroit, o The Muggs retorna com o seu quarto disco, cheio de riffs e refrãos fortes. Pra ouvir no volume máximo, é claro!


Bulletmen - Full Throttle

Southern rock vindo da Espanha, com um disco de estreia bastante influenciado por lendas do porte de Lynyrd Skynyrd e afins. O Bulletmen é uma grande surpresa, mostrando potencial para vôos maiores nos próximos anos. Fique de olho!


Bill Wyman - Back to Basics

Novo disco do baixista original dos Rolling Stones, com uma banda de apoio que conta com nomes de peso como Guy Fletcher (tecladista do Dire Straits) e Robbie McIntosh (Pretenders e Paul McCartney). Como o título do álbum deixa claro: it’s only rock and roll, but I like it!


Tom Cochrane - Take It Home

Rock ianque de estirpe e tradição, na escola Bruce Springsteen. Tom Cochrane está na estrada há décadas com uma longa e sólida discografia, e Take It Home mantém a qualidade característica. As onze faixas do disco apresentam um exemplar trabalho de composição.


King King - Reaching for the Light

Blues rock escocês, de um quarteto natural de Glasgow. Este é o terceiro álbum da banda, e vem com uma sonoridade contemporânea que soa refrescante sem abrir mão das principais características do estilo.


Dan Patlansky - Dear Silence Thieves

Sétimo álbum deste bluesman natural da África do Sul, com canções bem feitas e uma bem-vinda adição de peso - ainda que em doses homeopáticas - ao sempre necessário e agradável blues. Vale a pena colar os ouvidos.



quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Opinião: Lemmy e a hora de parar

19:05

Há uma crença que diz que é muito difícil para o artista saber a hora exata de parar. Alguns param muito cedo. Outros, deixam passar o momento e mergulham em uma espiral de decadência que macula, sem dó e nem piedade, uma imagem que levou anos para ser construída. Poucos, muito poucos, tem a sabedoria para saber a hora exata de pendurar as chuteiras.

Ao que tudo indica, não parece ser o caso de Lemmy Kilmister, vocalista, baixista, cara, corpo e coração do Motörhead. O lendário músico inglês passa por sérios problemas de saúde já há algum tempo, e se nega a alterar a sua rotina em prol de uma vida mais longa. O que isso gera? Cancelamento de shows, apresentações públicas onde fica evidente o lamentável estado em que Lemmy se encontra, causando, invariavelmente, a comoção coletiva dos fãs.

Deixando todos os romantismos de lado e empurrando para baixo do tapete a figura hipotética do ídolo invencível, é deprimente ver o papel ao qual Lemmy se deixa passar. Ok, alguém irá dizer que cada um faz as suas escolhas, que “é legal” morrer no palco e outros pensamentos egoístas que só fazem sentido para quem não é o protagonista da descida ladeira abaixo. Para essas pessoas, respondo que, ao meu modo de ver, a escolha do artista em “morrer pela arte” ou através dela me parece estúpida e, pra combinar com a sentença anterior, igualmente egoísta. 

Envelhecer aos olhos do público - e junto com ele - é um processo necessário e inevitável em qualquer arte, que o digam atores, escritores e outros talentos dos mais diversos segmentos. Na música, é fácil perceber como nomes do gabarito de Bruce Springsteen, Paul McCartney, os Rolling Stones, Neil Young, David Gilmour e outros souberam colocar a passagem do tempo embaixo do braço e se adaptaram à ela. Assim como também são facilmente estampados aos olhos do público, de maneira nada agradável porém explícita, exemplos de artistas que não souberam conviver com as limitações - e, consequentemente, com a sabedoria - que os anos trazem. E tome Sebastian Bach passando vergonha por não admitir que não tem mais 20 anos, Dinho Ouro Preto agindo como um adolescente mimado e pseudo-revoltado cujo vocabulário se resume à palavra “caralho”, entre outros.

Lemmy vai por um caminho um pouco diferente, e ainda mais doloroso para quem admira o seu trabalho. Respeitando a proporção, é um caso não tão distante do que vimos, há algum tempo, com a falecida Amy Winehouse. Enquanto a ótima cantora inglesa definhou em praça pública em um furacão turbinado por doses industriais de álcool e drogas, Lemmy paga o preço de décadas de uma dieta resumida, praticamente, a whisky, Cola-Cola e maços de Marlboro. Não sei se o motivo para tal exposição - ao meu ver totalmente desnecessária - venha da instabilidade econômica vivida por Lemmy, como alguns veículos chegaram a levantar. O fato é que o músico, que do alto dos seus 69 anos possui o status de lenda e ícone do rock e do heavy metal, demonstra uma fragilidade gritante e cada vez maior dia após dia. E, seguindo nesse ritmo, Mr. Kilmister inevitavelmente conseguirá alcançar aquele que parece ser o seu objetivo final: cair duro e morto em pleno palco, a palmos de distância do seu público.

Que o Motörhead siga gravando seus discos. É bom e necessário ouvir Lemmy soltando a voz e espancando o seu baixo. É uma sensação vibrante e saudável. Mas também é bem mais inteligente manter-se vivo, curtindo os merecidos méritos dos inúmeros bons serviços prestados à música. 

A escolha é sua, Lemmy. Só desejo que você tenha sabedoria e lucidez para tomá-la.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Um disco por dia: Mahavishnu Orchestra - The Inner Mounting Flame (1971)

18:41

The Inner Mounting Flame é o primeiro disco da Mahavishnu Orchestra, grupo liderado pelo espetacular guitarrista inglês John McLaughlin. Ao lado de McLaughlin estavam músicos experientes e respeitadíssimos. O baterista panamenho Billy Cobham teve passagens pelos grupos de Horace Silver, Kenny Burrel, Miles Davis, George Benson e Quincy Jones, além de inúmeras outras participações. Já o baixista irlandês Rick Laird dividiu o palco com Wes Montgomery, Sonny Stitt e Sonny Rollins, e mais tarde faria parte dos grupos de Stan Getz e Chick Corea.

O tcheco Jan Hammer, pianista e tecladista, colaborou com artistas do porte de Jeff Beck, Al Di Meola, Mick Jagger, Carlos Santana, Stanley Clarke, Elvin Jones e mais uma pá de músicos, além de ter composto, na década de 1980, o tema da série Miami Vice. E o violinista norte-americano Jarry Goodman teve uma passagem pela Orquestra Sinfônica de Chicago, além de ter colaborado com o Dixie Dregs e, mais recentemente, com Jordan Rudess e Derek Sherinian, atual e ex-tecladista do Dream Theater, respectivamente. Isso sem falar do próprio McLaughlin, fundamental na transição de Miles Davis do jazz tradicional para o fusion em álbuns seminais como In a Silent Way (1969), Bitches Brew (1970) e A Tribute to Jack Johnson (1971). Ou seja, um timaço!

Lançado em agosto de 1971, o disco foi automaticamente considerado pela crítica como um clássico. Motivos para isso não faltam. Suas oito faixas mostram uma imensa, inspiradíssima e definitiva simbiose entre rock, música clássica, jazz, blues e até mesmo elementos de música celta. Totalmente instrumental, o álbum tem como seu elemento principal a guitarra de braço duplo de McLaughlin, que é o instrumento central de todas as composições. A partir de seus acordes os arranjos evoluem, caminhando por um mundo próprio onde não há limites entre os gêneros musicais.

Pra lá de técnicos e extremamente virtuosos, todos os cinco músicos, principalmente McLaughlin, Cobham e Hammer, despejam notas rapidíssimas, mas que fazem total sentido nas composições. Há momentos sublimes, principalmente a abertura com "Meeting of the Spirits", as camadas de melodia de "Dawn", a sensacional "The Dance of Maya" e seu contraponto, a calma "You Know You Know".

The Inner Mounting Flame é um dos discos mais incríveis que eu tive o privilégio de ouvir nessas minhas mais de três décadas como consumidor e colecionador de música.

Espiritual, clássico e fundamental!

Todos os dias, um review analisando um título da minha coleção. Pra ouvir com a mente aberta e as portas da percepção escancaradas.

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