terça-feira, 25 de agosto de 2015

10 exemplos de como 2015 está sendo um ótimo ano para a música - Parte 2

19:00

Uma das coisas que mais me tira do sério em relação à música é o que eu chamo de “complexo de classic rock”. Aquele cara que, mesmo sem ouvir NADA do que anda sendo lançado atualmente - com exceção dos artistas clássicos, é claro -, acredita piamente que a música de qualidade está apenas nos discos lançados em décadas passadas.

O fato é que tem música boa nas décadas de 1960, 1970 e afins. E também muita música ruim. Assim como tem muito lixo feito hoje em dia, e muito biscoito fino para os ouvidos sendo produzido e gravado agora mesmo.

Abaixo, outros dez discos lançados este ano e que mostram o quão interessante 2015 está sendo em termos musicais. Vários gêneros, vários climas, é só curtir!


The Aristocrats - Tres Caballeros

O Aristocrats é um super trio formado por Guthrie Govan (guitarra, Asia, The Young Prux, Steve Wilson), Bryan Beller (baixo, Dethlock, Steve Vai, James LaBrie e Dweezil Zappa) e Marco Minnemann (bateria, Joe Satriani e Steve Wilson). Tres Caballeros é o terceiro disco da banda e traz nove faixas instrumentais que transitam entre o prog, fusion, jazz e rock. Técnica pura, andamentos de quebrar o quadril, bastante agradável de se ouvir.


The Seven Ups - The Seven Ups

Natural da Austrália, o Seven Ups é uma big band de afrobeat e funk. Balanço certo em um disco de estreia excelente, perfeito pra cair na dança ou apenas colocar os neurônios pra pular. Metais inspirados, cozinha pulsante e muito bom gosto são os ingredientes principais.


Corsair - One Eyed Horse

Um pouquinho de peso sempre faz bem. Aqui, ele vem dos Estados Unidos e atende pelo nome de Corsair. A banda foi formada em 2008, lançou a sua auto-intitulada estreia em 2012 e este ano soltou One Eyed Horse. O som é um hard rock com ecos de stoner e guitarras gêmeas onipresentes. Uma espécie de Black Sabbath querendo ser Thin Lizzy, ou vice-versa - neste caso, a ordem dos fatores não altera a soma.


Melody Gardot -  Currency of Man

Jazz e soul contemporâneos, na bela voz da cantora norte-americana natural da Philadelphia. Currency of Man é o quarto álbum de Melody Gardot e foi lançado no início de junho. Bom gosto, classe, experimentação: tem de tudo, e tudo com muita qualidade.


The Dip - The Dip

Estreia deste combo de nove integrantes vindo de Seattle. Soul da melhor estirpe, remetendo às décadas de 1960 e 1970 mas sem soar ultrapassado. É fã de The Meters? Então você vai adorar o The Dip.


Vintage Trouble - 1 Hopeful Rd.

Segundo álbum de inéditas do Vintage Trouble, quarteto de blues rock vindo de Hollywood. Muito balanço e doses generosas de feeling em ótimas canções, onde o destaque, invariavelmente, é o belo timbre do vocalista Ty Taylor.


The Word - Soul Food

Jam band norte-americana que conta com integrantes do North Mississippi Allstars somados a Robert Randolph e John Medeski. O gabarito dos músicos garante a alta qualidade de Soul Food, disco de estreia do grupo. O negócio aqui é um som que transita entre o funk, o soul e o country. "Demais" é a palavra correta pra definir o que sai dos alto-falantes.


Tigran Hamasyan - Mockroot

Tigran Hamasyan é um pianista armênio, cujo trabalho tem como principal característica unir o jazz e a música folclórica de seu país. Mockroot é o seu sexto álbum e foi lançado pela Nonesuch Records, tradicional reduto dos bons sons.



Imperial State Electric - Honk Machine

Quarto álbum do Imperial State Electric, quarteto sueco surgido das cinzas do The Hellacopters. A música é similar à finada banda, mas com uma aproximação ainda mais forte ao que Kiss e Alice Cooper faziam nos anos 1970. Não tem como não gostar!


The Sure Fire Soul Ensemble - The Sure Fire Soul Ensemble 

Soul instrumental natural de San Diego. A banda equilibra influências de nomes como Curtis Mayfield, Isaac Hayes e Quincy Jones com ecos de artistas atuais como o The Poets of Rhythm. Pra tirar os móveis da sala e ouvir a todo volume, dançando sem parar.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Ghost - Meliora (2015)

11:38

O Ghost abriu esta década como um sopro de renovação no heavy metal. Em um cenário dominado por zilhões de bandas idênticas, cada uma querendo soar mais rápida, extrema e agressiva que a outra (e, por isso mesmo, soando todas iguais e inócuas), os suecos foram buscar no passado a inspiração e as referências que trouxeram um ar refrescante para o seu disco de estreia.

Lançado em 2010, Opus Eponymous é um grande disco. Suas faixas, sempre com melodias fortes e linhas vocais inspiradas, bebem direto nos ensinamentos dos antigos ícones do rock, e o resultado é um álbum viciante. Infestissumam (2013) deu um passo além em relação à estreia e também é um grande álbum. Seguros com a ótima recepção ao debut, o sexteto mascarado experimentou sem medo, gravando um disco repleto de momentos surpreendentes como “Secular Haze”, “Ghuleh / Zombie Queen”, “Year Zero” e “Monstrance Clock”.

Tudo isso coloca uma dúvida em relação à Meliora, terceiro registro do Ghost, que acaba de chegar às lojas. A expectativa em torno da banda, turbinada pelos elogios vindos de músicos do quilate de James Hetfield e Dave Grohl (que inclusive chegou a tocar com os suecos), como sempre plana nas alturas. Por isso, a curiosidade em ouvir o disco e checar, de uma vez por todas, o que Papa Emeritus e sua turma nos entregaram dessa vez, pode prejudicar a avaliação do trabalho. Digo isso porque, na primeira audição, achei Meliora fraco, bem mais do mesmo. No entanto, desacelerei a ansiedade e escutei o álbum com mais calma, dando espaço para a música invadir meu ambiente. E então, tudo passou a fazer muito mais sentido.

Não há nenhum rompimento drástico em relação aos dois álbuns anteriores. A banda soube equilibrar elementos de Opus Eponymous sem abrir mão dos experimentalismos de Infestissumam, e isso, por si só, é uma excelente notícia. Há canções que retomam a aura de “Ritual" e “Elizabeth”, as duas principais faixas da estreia, como é o caso de “Spirit" e da ótima “From the Pinnacle to the Pit”. O grupo equilibra o peso do metal e a acessibilidade do AOR na dobradinha “Mummy Dust” e “Majesty”, essa segunda com um teclado que soa como uma homenagem ao grande Jon Lord.

Mas o mais importante é que as características que fizeram Infestissumam alcançar o status de grande álbum foram preservadas e aprimoradas pelos suecos. O experimentalismo, a ousadia e o desejo de levar a música para novos caminhos - sejam eles do agrado dos fãs ou não - seguem intactos em diversos momentos. “Cirice" é uma aula de melodia e dramatização. “He Is” derrama belíssimas melodias e linhas vocais, colocando um sorriso imediato no rosto. 

A dicotomia que embala em uma mesma canção a agressividade do metal com a acessibilidade do pop segue sendo o principal ingrediente do Ghost. Estão aqui os riffs bem feitos, os andamentos cheios de ritmo, sempre acompanhados por melodias quase celestiais, na melhor escola dos Beach Boys de Brian Wilson, por mais estranha que essa afirmação possa parecer. Todas as faixas contém espaços para cada um dos instrumentos assumirem o protagonismo, fazendo com que os arranjos respirem, alternando climas e momentos distintos.

Meliora é mais um acerto do Ghost. Os suecos demonstram outra vez a capacidade que possuem, evoluindo sua música e caminhando a passos largos para um mundo apenas seu. A banda tem personalidade e ousadia, algo raro na música atual. Que sigam assim.

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