terça-feira, 18 de agosto de 2015

10 exemplos de como 2015 está sendo um ótimo ano para a música - Parte 1

18:51

É uma contradição, e confesso que tenho uma dificuldade enorme em entender este comportamento. Explico: em tempos como esse, onde o acesso ao trabalho de todo e qualquer artista é praticamente instantâneo através de uma simples pesquisa nas mais variadas plataforma (YouTube, Spotify, Google, redes sociais), parece que mais e mais gente se contenta em manter o ouvido focado confortavelmente nos mesmos sons de sempre.

Não é o meu caso. E sigo confessando: é muito bom ter esta atitude. 2015 está sendo um grande ano para a música, com ótimos discos nos mais variados gêneros. Basta ser um pouco curioso e inquieto para descobrir e entrar em contato com trabalhos excelentes, como os que estão listados abaixo. 

São apenas 10 discos, mas poderiam ser 20, 30, 50. E serão, porque escreverei posts semelhantes a esse de tempos em tempos. Peguei uma dezena de títulos, e escrevi pequenos textos explicando o que você irá encontrar em cada um deles. 

Vem comigo e vamos mergulhar juntos neste grande e imenso oceano musical!


The Mighty Mocambos - Showdown

Terceiro álbum deste combo, Showdown é uma jóia funk cheia de embalo, groove e balanço. O The Mighty Mocambos tem uma sonoridade rica e contagiante, dando um passo à frente em relação aos seus dois discos anteriores - This is Gizelle Smith & The Mighty Mocambos (2009) e The Future is Here (2011). Encaixando muito bem as peças do seu quebra-cabeça sonoro, o grupo dá ao ouvinte uma usina sonora repleta de referências essenciais, do jazz ao funk setentista, da disco music ao pop. A cereja do bolo são as participações especiais de nomes como Afrika Bamabaataa, presente em três das onze faixas.


London Afrobeat Collective - Food Chain

Um trupe multinacional com canções com ritmos fortes e letras idem, explorando temas políticos. O London Afrobeat Collective se posiciona claramente em aspectos como a imigração e a economia europeia, a comunidade comum e o impacto disso no dia a dia dos ingleses e de quem mais vive na capital do Reino Unido. Com dois EPs no currículo e dois álbuns, o LAC é uma hidrelétrica musical funcionando a pleno vapor. Food Chain, segundo álbum da banda, é um dos grandes e essenciais discos de 2015 até agora.


Leon Bridges - Coming Home

Uma das mais agradáveis novidades do ano, Leon Bridges vem de Atlanta e traz consigo toda a rica tradição de uma das capitais da música norte-americana. Coming Home, seu disco de estreia, foi lançado no final de junho e vem carregado como toda a herança do soul, em dez faixas que seguem a linha evolutiva de ícones como Otis Redding. Apesar da pouca idade, Bridges mostra grande maturidade, entregando interpretações vocais repletas de classe e feeling. Não tem como não gostar.


Sister Sparrow and the Dirty Birds - The Weather Below 

Tendo os irmãos Arleigh (vocal) e Jackson Kincheloe (gaita) à frente, o Sister Sparrow and the Dirty Birds (é deles a foto principal deste post) é uma banda nova-iorquina dona de evidente e explícito talento. O grupo já tem três discos no currículo, sendo que o mais recente, The Weather Below, é uma delícia deliciosa - com pleonasmo e redundância, mesmo. A praia aqui é um soul pop, o chamado blue-eyed-soul: ou seja, o tradicional gênero negro interpretado por artistas brancos e acrescido de bem-vindas pitadas de rhythm & blues. Chiclete ao extremo: é ouvir e não desgrudar mais!


Kamasi Washington - The Epic

Não seria um equívoco, em uma análise simplificada, definir o novo trabalho do saxofonista californiano Kamasi Washington como uma espécie de Bitches Brew de nossa época. Fazendo juz ao título, o álbum (triplo, é claro) é uma odisseia sonora que passeia pelos mais variados caminhos possibilitados pelo jazz, e encheria Miles Davis de orgulho. Um verdadeiro tratado musical, que caminha a passos largos para o posto de grande álbum de jazz do ano.


The London Souls - Here Come the Girls

Agora reduzido a um duo, o London Souls (que é nova-iorquino e não londrino) retorna após quatro anos com o seu segundo disco. Here Come the Girls é um pouco mais suave que a estreia lançada em 2011 e brinda o ouvinte com melodias e influências que vêm direto da década de 1960. The Who e Cream, as duas principais inspirações da banda, seguem dando as cartas, resultando em um rock and roll enérgico, direto e agradável, que agrada de imediato.


Kamchatka - Long Road Made of Gold

O foco do hard rock mudou a sua direção e estabeleceu a sua força na Suécia. Isso é de conhecimento comum e consolidado entre todo mundo que acompanha o gênero de maneira mais próxima. Ghost, Graveyard e mais uma centena de bandas transformaram o país europeu em um paraíso pra quem curte guitarras distorcidas, riffs inspirados e canções que chegam não para serem passageiras, mas sim para acompanhar nossos dias a partir do momento que as conhecemos. O trio Kamchatka é um dos grandes nomes dessa cena sueca, e, como sempre, vem com outro disco matador. Sexto trabalho do grupo, Long Road Made of Gold equilibra doses equivalentes de hard e blues rock, e é o mais bem acabado e resolvido álbum da banda. 


The Waterboys - Modern Blues

A veterana banda inglesa, responsável pelo belo e clássico Fisherman’s Blues (1988), lançou em em janeiro um disco que cresce a cada nova audição. Deixando as influências celtas e de música folclórica em um plano secundário, mas sem abandoná-las por completo, o The Waterboys veio com um álbum estradeiro, onde cada canção é uma pequena história, um conto apaixonante, apresentando personagens comuns e, por isso mesmo, de identificação fácil em que está do lado de cá. Boa surpresa!


Ryan Bingham - Fear and Saturday Night

Com um timbre sujo, embebido em doses generosas de fumaça e álcool, Ryan Bingham transita entre o country e o alt-country, com um pouquinho de blues aqui e acolá. Canções econômicas, levadas ao violão e com linhas vocais simples e bem construídas, que mantém viva a magia e a força do estilo que é um dos mais tradicionais dos Estados Unidos. Pra ouvir em um domingo pela manhã, despertando a cada novo acorde. 


Hanni El Khatib - Moonlight

Transitando entre o blues rock e o revival do garage rock, o californiano Hanni El Khatib chega ao seu terceiro disco com Moonlight. E esta terceira dose de sua carreira é densa, sem gelo e desce redonda! As onze canções de Moonlight são todas construídas a partir da guitarra, com ritmos fortes e refrãos idem. Uma indicação perfeita pra quem anda com saudades dos primeiros álbuns do Black Keys, mais diretos e menos rebuscados que os últimos lançamentos do duo. 

Head Hunters, a obra-prima de Herbie Hancock

16:51

Um dos músicos mais populares e influentes da história do jazz, Herbert Jeffrey Hancock nasceu em Chicago em 1940 e desde cedo esteve em contato com os sons. Aos sete anos já estudava música clássica, e aos onze deixou boquiabertos todos que presenciaram sua performance tocando o "Concerto para Piano Número 5 em D Menor" de Mozart, ao lado da Orquestra de Chicago.

Como outros prodígios do gênero, o jovem Herbie nunca teve um professor que lhe ensinasse os fundamentos práticos e teóricos do jazz. Hancock se interessou pelo gênero ao entrar em contato com gravações de Oscar Peterson e George Shearing. Muito atraído pelas construções harmônicas e melódicas do gênero, se embrenhou no estudo teórico das composições de Peterson, Shearing e outros nomes fundamentais, principalmente Miles Davis e John Coltrane.

A carreira de Herbie Hancock tomou um novo rumo quando, em 1963, juntou-se ao novo grupo de Miles, considerado pelos críticos como o "segundo grande quinteto" do trompetista. Ao seu lado estavam o baixista Ron Carter, o baterista Tony Williams (então com apenas 17 anos) e Wayne Shorter no saxofone. A parceria com Miles rendeu ótimos frutos para os dois lados, com o trompetista gravando mais alguns capítulos fundamentais da história do jazz ao lado de Herbie, como In a Silent Way (1969), A Tribute to Jack Johnson (1971) e On the Corner (1972).

Mesmo quando estava ao lado de Davis, Hancock já dava seus próprios passos lançando uma série de discos solos. Entre eles, merecem atenção especial Inventions and Dimensions de 1963, Empyrean Isles de 1964 e Maiden Voyage de 1965. Mas foi apenas em 1973 que Herbie passou de um excelente instrumentista para um dos músicos mais importantes e influentes do jazz. O culpado por essa transformação foi Head Hunters.


Lançado em 13 de outubro de 1973, Head Hunters é um dos álbuns mais vendidos da história do estilo, ao lado de clássicos como Time Out de Dave Brubeck e Bitches Brew de Miles Davis. São apenas quatro faixas, mas que valem muito.

O groove contagiante de "Chameleon" abre o disco de forma sensacional. São quase dezesseis minutos hipnóticos, com camadas sonoras se sobrepondo umas às outras, construindo uma faixa que, já em seus primeiros momentos, antecipa a maravilha que Herbie Hancock e sua gangue nos prepararam. O início doce de "Watermelon Man" mantém o nível nas alturas, introduzindo um funk de rachar o chão. O entrosamento do quinteto é absurdo, com cada músico entregando algumas das melhores performances de suas carreiras.

"Sly" e "Vein Melter" completam a bolacha com mais ritmos animais, harmonias que fogem do comum e arranjos complexos que conseguem a proeza de soar simples aos ouvidos. Herbie Hancock usa toda a sua técnica espetacular para compor um trabalho que pega as raízes da música negra, pesca elementos das ruas, mantendo toda a autenticidade e a força do funk, mas acrescentando um requinte que poucas vezes esse gênero alcançou em sua história.

Em uma palavra: maravilhoso!

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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Opinião: Iron Maiden e a comoção coletiva

16:20

Faça um exercício e conte comigo: quantas bandas/artistas são capazes de causar uma comoção coletiva ao revelar ao mundo o seu novo single? Quais nomes da música tem tamanha força, popularidade e impacto ao ponto de literalmente parar tudo nos grandes veículos do planeta ao anunciarem ao mundo a sua nova canção? Poucos, nós dois sabemos disso. Um grupo seleto, onde podemos incluir os Stones, David Bowie, U2 e mais alguns. Dentro do metal, apenas três gigantes possuem este poder: Black Sabbath, Metallica e Iron Maiden. Mais uma prova disso foi dada semana passada, quando o Maiden divulgou “Speed of Light”, primeira amostra de seu novo disco, The Book of Souls, que chegará às lojas em setembro.

E a euforia foi tamanha que dificultou uma análise fria e imparcial sobre a canção. O torpe foi instantâneo, embaralhando a visão e confundindo o cérebro dos fãs, como sempre. Não sei se é o tempo, não sei se é a vida, não sei o que pode ser, mas o fato é que, pela primeira vez desde que me conheço por gente, uma nova canção do Iron Maiden não mexeu, bagunçou e esculhambou os meus dias. 

Pra ficar mais fácil de entender, um pouco da minha história com a banda. Ouvi o Iron Maiden pela primeira vez em 1985, na TV, durante o primeiro Rock in Rio. Desde então, a banda se transformou na minha preferida. O Maiden foi o grupo que mais escutei na vida, fácil. Passei anos e anos, que depois se transformaram em décadas, levando seus discos literalmente embaixo do braço para todo e qualquer lugar que fosse. Ouvi tanto que minha mãe assobiava as faixas da Donzela inconscientemente. O Maiden é a banda que mais tenho discos, e ocupa a maior parte da minha coleção (na última contagem, há alguns meses atrás, havia lá em casa uns 150 itens da banda, entre CDs, DVDs, livros e afins). Tenho um filho de 7 anos, e passei a paixão adiante, quase de maneira hereditária. Como diz um amigo, Iron Maiden é vida.

Só que não. Não ao escutar “Speed of Light”. Em um primeiro contato, achei a faixa naquela linha mediana dos singles que anteciparam todos os singles lançados pelos ingleses desde o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith ao grupo, em fevereiro de 1999 - a saber: “Wildest Dreams”, “The Reincarnation of Benjamin Breeg” e “El Dorado”, faixas que não representam grande coisa no imenso catálogo da banda. O ponto fora da curva foi justamente o primeiro destes singles, “The Wicker Man”, que entrou com força e de maneira definitiva no coração dos fãs. O Iron Maiden soa genérico e com pouca inspiração em “Speed of Light”. Um riff comum abre a faixa, seguida por um grito meio “Be Quick or Be Dead” de Bruce. Depois, linhas vocais mais do mesmo, um refrão sem graça e é isso aí. Pra não dizer que tudo se perde, os solos de guitarra, principalmente o de Adrian Smith, garantem a diversão e um tímido sorriso de satisfação.

Muito pouco para uma banda como o Iron Maiden. E, principalmente, muito pouco pelo tamanho da comoção causada. A sensação é que, mesmo lançando qualquer coisa, o buzz estará garantido. Já disseram uma vez que todo fã é um idiota. Não concordo. Porém, a ausência da capacidade de avaliação proporcionada pelo fanatismo e pela paixão impedem que grande parte dos fãs do Maiden percebam o óbvio: “Speed of Light” é, na melhor da hipóteses, apenas um arremedo do que se espera do Iron Maiden, e do que a própria banda pode entregar. Steve Harris e Bruce já declararam que a ideia em The Book of Souls foi gravar tudo ao vivo no estúdio, capturando a energia e a espontaneidade das primeiras execuções. Algo parecido com a busca por algo mais básico que a banda entregou em No Prayer for the Dying, um dos seus piores álbuns.

O fato é que um single não representa, necessariamente, a amostra de um disco. No máximo, revela o clima e o astral que a banda estava ao gravá-lo. O próprio Iron Maiden é uma prova disso. Seu último trabalho, The Final Frontier (2010), é um dos melhores da longa carreira dos ingleses, e traz uma sonoridade refrescante e renovada, culminando em uma canção excelente como “When the Wild Wind Blows”. Ou seja, pode vir por aí um grande disco, mesmo com uma prévia tão decepcionante.

Mas vale a pena levantar a questão: tanto barulho por tão pouco? Tantos “Iron Maiden é a minha vida” por uma canção genérica ao extremo? O fã pode não ser idiota, mas, com absoluta certeza, passa longe da isenção. E essa postura gera uma posição de extremo conforto para o artista. Ele sabe que basta gravar qualquer coisa que venderá, cairá na graça de sua enorme legião de fãs, venderá pra caramba e encherá arenas em seus shows - tocando clássicos antigos, é claro. É preciso mais “The Chemical Wedding” e menos “Speed of Light”. É preciso mais álbuns inovadores e que saiam do comum, que experimentem, que inovem, e (muito, muito mesmo) menos discos que apenas reciclem ideias do passado. É preciso menos classic rock e mais música inspirada e corajosa. 

E, acima de tudo, é preciso medir nossa emoções e não entrar em transe coletivo por tão pouco. 

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