terça-feira, 28 de julho de 2015

Woodstock Discos, a loja fundamental para a popularização do heavy metal no Brasil

12:28


Morávamos relativamente perto da Woodstock. Todo sábado reuníamos a turma e rolava uma excursão a pé, uns trinta minutos de caminhada, pra passar o dia inteiro torrando embaixo do sol na frente da loja e gastar as parcas economias de moleque em discos de vinil” .
Andre Matos (Viper, Angra, Shaman e carreira solo)

O Walcir era um cara mais velho e se ligava no perigo que eu e o Max passávamos, por isso abria a loja mais cedo só pra gente comprar. Depois, pegávamos o ônibus, voltávamos pra Belo Horizonte e gravávamos milhões de fitas pra galera”.
Iggor Cavalera (Sepultura e Cavalera Conspiracy)

A Woodstock foi onde tudo começou. Mesmo. Não tenho nenhuma dúvida de que o Walcir foi um dos principais responsáveis pelo crescimento e popularização do heavy metal aqui no Brasil. A Woodstock era o point do metal, onde os metaleiros se reuniam para trocar discos, fitas e fotos”.
Yves Passarel (Viper, Capital Inicial)

Em 1978 abria as portas, na rua José Bonifácio, em São Paulo, uma pequena loja de discos que seria fundamental na história do heavy metal brasileiro. A Woodstock Discos nasceu quando seu proprietário, Walcir Chalas, um rockeiro apaixonado e dedicado colecionador, decidiu colocar toda a sua imensa coleção de LPs à venda. Para isso, abriu uma pequena lojinha e lá colocou seus vinis para negociar, vender e trocar. No início a loja tinha em estoque álbuns de artistas variados, como Beatles, Rolling Stones, Elvis, Sex Pistols e tudo o que rolava naquele últimos anos da década de 1970. Mas uma grande mudança logo viria a acontecer.

O que transformou a Woodstock em uma loja dedicada exclusivamente ao metal foi uma viagem que Walcir fez a Londres, em 1982. Chegando lá, Chalas deu de cara com a explosão da New Wave of British Heavy Metal, com centenas de garotos vestindo camisetas do Iron Maiden, Saxon e Angel Witch. Walcir estava no olho do furacão, e percebeu ali a oportunidade para que a Woodstock se transformasse em algo muito maior que uma simples loja de discos.

Eu nunca tinha estado em nenhum dos grandes movimentos musicais da história, como o punk na Inglaterra ou o flower power em 1967. Quando cheguei em Londres, fiquei bobo”, relembra Walcir. E não era para menos, pois 1982 foi um ano fundamental para o heavy metal. The Number of the Beast apresentava Bruce Dickinson aos fãs do Iron Maiden, que dava os primeiros passos em sua ascensão e começava a fazer história no gênero. Blackout colocava o hard rock cheio de energia e refrãos grudentos do Scorpions no topo das paradas em todo o mundo. For Those About to Rock solidificava a nova encarnação do AC/DC, mostrando que a banda dos irmãos Young ainda tinha muita lenha para queimar. Tudo estava pronto, só faltava alguém para fazer a ligação entre o que rolava lá fora e o sedento público brasileiro. E esse alguém foi Walcir Chalas.


Nosso herói começou a viajar frequentemente para a Inglaterra atrás de discos para trazer para o Brasil. Mantendo parcerias com lojas londrinas, sendo a principal a Shades, cujo proprietário era também integrante do grupo de heavy metal Chariot, Walcir trazia malas e mais malas com os últimos lançamentos direto para a Woodstock, onde os LPs vendiam como água. No auge desse processo, Chalas chegava a ir para Londres a cada dois dias, tamanha a demanda de seu público - antes órfão e abandonado - pelos álbuns de heavy metal. Vale lembrar que naqueles primeiros anos da década de 1980 as grandes gravadoras brasileiras não lançavam discos de metal por aqui, preferindo investir suas fichas em nomes consagrados e com apelo comercial garantido. Por isso, os discos importados pela Woodstock eram como um oásis no meio do deserto.

O cenário mudou consideravelmente com o primeiro Rock in Rio, em 1985. Com cobertura maciça da mídia, o mega festival apresentou o heavy metal a uma nova geração de fãs – esse que vos escreve incluso. Tendo entre suas atrações principais nomes como Iron Maiden, Scorpions, Ozzy Osbourne e Whitesnake, o festival popularizou a música pesada em nosso país. A sintonia foi instantânea: da noite para o dia milhares de adolescentes começaram a deixar seus cabelos crescer, colocaram seus jeans, enfeitaram suas jaquetas com patches, vestiram seus tênis de cano alto e, simultaneamente, colocaram o volume de seus aparelhos de som no talo, devorando LPs de metal com um apetite voraz e infinito.

A Woodstock também mudou. O endereço da José Bonifácio já não dava conta de abrigar o mar de gente que se dirigia para lá nas manhãs de sábado, e Walcir decidiu transferir a loja para um imóvel que havia comprado, mudando para o número 155 da rua Dr. Falcão. Mais amplo, o novo espaço solidificou o nome da Woodstock Discos como a principal loja especializada em heavy metal no Brasil. O Iron Maiden tocou pela primeira vez em nosso país no dia 19 de janeiro de 1985, e no dia 21 de janeiro daquele mesmo ano a Woodstock mostrava a sua nova cara à toda uma geração de metalheads.


As viagens quase diárias para a Inglaterra estavam chegando ao fim. Em uma dessas últimas jornadas, Walcir embarcou de volta para o Brasil com nada mais nada menos que trezentas cópias importadas do clássico Master of Puppets, recém lançado pelo Metallica, e que se esgotaram em apenas uma manhã! Estava claro que era preciso dar o passo seguinte, e, assim, nasceu o selo Woodstock Discos. Um dos primeiros lançamentos foi um álbum do Chariot, banda do principal fornecedor de discos de Walcir, proprietário da loja londrina Shades. Foram prensadas 1.000 cópias, e todas foram vendidas.

O selo Woodstock Discos logo se transformou, ao lado da também novata Rock Brigade Records, na principal gravadora especializada em heavy metal do Brasil. Ao longo dos anos, o selo lançou 86 álbuns das mais variadas vertentes do gênero, abrangendo artistas como Helloween, Motörhead, Manowar, Slayer e Anthrax. Além disso, a loja vendia tanto, mas tanto mesmo, que as grandes gravadoras nacionais começaram a fazer prensagens exclusivas para a Woodstock. Títulos como Blizzard of Ozz de Ozzy, Hell Awaits do Slayer, Rising Force de Yngwie Malmsteen e Tokyo Tapes do Scorpions tiveram 3 mil cópias prensadas cada um, exclusivamente para serem devoradas pelo público da Woodstock.

A importância de Walcir Chalas era tanta que logo ele viu seus horizontes ficarem mais amplos. A rádio 89 o convidou para apresentar o programa Comando Metal, e a MTV o colocou no comando do extinto – e saudoso – Fúria Metal por pouco mais de seis meses. Walcir havia se transformado em um ícone, e com todo o merecimento.

O Sepultura reuniu cinco mil fãs para uma tarde de autógrafos na Woodstock. James Hetfield, durante a primeira passagem do Metallica por nosso país, promovendo o álbum … And Justice for All, quis visitar a loja que vendia os álbuns piratas do grupo que um fã, chamado Edgard Prado, havia mostrado para ele. O resultado? James chegou no banco de trás de um Fiat Uno, e logo foi reconhecido pela multidão de bangers, que ao reconhecerem um de seus maiores ídolos ali na sua frente, quase viraram o carro de cabeça para baixo …


Sem a Woodstock a cena metálica brasileira não seria como a conhecemos hoje. A loja foi, durante quase uma década, o principal ponto de encontro entre os fãs de música pesada do Brasil. Lançou discos, formou ouvintes, influenciou uma geração. Sem a Woodstock o heavy metal não teria a força que tem até hoje em nosso país, com os fãs brasileiros sendo reconhecidos como alguns dos mais apaixonados do mundo.

Alguns números que demonstram o que a Woodstock Discos representou para a popularização do heavy metal brasileiro:

- 500 fãs, em média, todos os sábados, trocando discos, fitas e tudo mais relacionado a seus ídolos

- 700 discos importados trazidos de Londres de uma única vez

- 3.000 cópias Use Your Illusion, do Guns N´Roses, vendidas em um único dia

- 86 álbuns lançados pelo selo Woodstock Discos

- 5.000 pessoas em uma tarde de autógrafos do Sepultura

- 100.000 dólares pagos a indústrias estrangeiras para prensarem os LPs do selo Woodstock, já que, após o Plano Cruzado, as gravadoras nacionais não liberavam mais vinis virgens

Abaixo, os dez títulos mais vendidos do selo Woodstock Discos:

1. Helloween – Walls of Jericho
2. Kreator – Endless Pain
3. Destruction – Eternal Devastation
4. Exciter – Violence & Force
5. Running Wild – Gates of Purgatory
6. Celtic Frost – To Mega Therion
7. Motorhead – Ace of Spades
8. Manowar – Battle Hymns
9. Slayer – Hell Awaits
10. Anthrax – Fistful of Metal

Toda essa história é contada pelo próprio Walcir Chalas e por músicos e fãs no documentário Woodstock - Mais que uma Loja, produzido e dirigido por Wladimyr Cruz. O filme conta com depoimentos de nomes como Max Cavalera, Iggor Cavalera, João Gordo, Andreas Kisser, Gastão Moreira e muitos outros que viveram a época e foram importantes para a popularização do metal aqui no Brasil. Há uma página no Facebook sobre o documentário, onde é possível encontrar mais informação e até mesmo comprar uma cópia do filme.

E, pra fechar, uma matéria do grande Gastão Moreira sobre a Woodstock, assiste aí:

A casa na árvore futurista, o racismo desmontado pela biologia e paisagens norueguesas de cair o queixo

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Toda a história do heavy metal, contada em um livro obrigatório

14:56

Desconheço gênero musical mais apaixonante que o heavy metal. A força de suas guitarras conquista novos fãs todos os dias, ao mesmo tempo em que renova os votos de velhos parceiros a todo momento. Suas letras, seja quando contam histórias fantásticas repletas de seres mitológicos ou quando mergulham no lado mais escuro do ser humano, são relatos intensos e hipnotizantes. Sua mítica, suas lendas, seus ícones e sua tradição foram construídos através do apoio e da participação ativa dos fãs, personagens de importância fundamental em sua história.

O jornalista Ian Christe, nascido em 1970 na Suíça, entende tudo isso. Fanático por metal, Christe construiu uma sólida carreira na mídia especializada, tendo seus textos publicados em revistas como Kerrang!, Spin, Guitar World e outras, além de matérias em publicações como Wired e Chicago Reader. Como todo fã de metal, Christe se aventurou também pela música com a banda Dark Noerd the Beholder, que aparece na trilha do filme Gummo, lançado em 1997, e em alguns outros projetos.

Profundo conhecedor do gênero, pesquisador e colecionador do estilo, Ian Christe lançou em 2003 o livro Sound of the Beast: The Complete Headbanging History of Heavy Metal, que ganhou também uma muito bem-vinda edição brasileira. Já traduzida para onze línguas, aqui em nosso país a obra ganhou o título de Heavy Metal: A História Completa – e faz jus a essa expressão.

As 480 páginas passam a limpo a trajetória da música pesada, desde o seu início até os dias atuais. Christe aponta - de maneira correta, por sinal – o lançamento do primeiro álbum do Black Sabbath, em 13 de fevereiro de 1970, como o marco zero do estilo, e seu texto parte desse ponto. É nítida a paixão do escritor pelo heavy metal, e isso transparece claramente em suas palavras, dando um ar épico, mágico e fantasioso à cada página.

Organizado em vinte capítulos (mais prólogo e epílogo), Heavy Metal: A História Completa é uma obra extremamente didática, que explica detalhadamente o surgimento do metal e de seus inúmeros subgêneros, e em como cada fato de sua história influenciou os músicos e os fãs, em um ciclo infinito que leva a novos caminhos sonoros e cria, consequentemente, novas linguagens musicais.


A parte dedicada aos primeiros anos do heavy metal é particularmente elucidativa, citando nominalmente os artistas que definiram as bases do estilo e que, muitas vezes, acabam sendo ignorados por ouvintes mais novos. Ir atrás de bandas como Flower Travellin' Band, Blue Oyster Cult, Captain Beyond, Bang e outras – além das obrigatórias Deep Purple e Led Zeppelin – leva ao conhecimento de ótimos discos muitas vezes relegados a um plano secundário, e torna o entendimento da evolução do gênero muito mais fácil e eficaz para o ouvinte.

A clareza do texto de Christe deixa óbvia a compreensão do quanto as bandas da New Wave of British Heavy Metal, ao afastarem-se das influências de blues tão evidentes nos pioneiros do metal (como o próprio Black Sabbath) e substituí-las pelas harmonias e melodias de grupos como Wishbone Ash e Thin Lizzy, deram ao gênero uma de suas características mais marcantes: o duelo faiscante de guitarras inventivas e inspiradas, traduzido em linhas melódicas volumosas e grudentas.

O embate entre as bandas glam de Los Angeles e a cena thrash da Bay Area é outro momento de destaque. Ian Christe reconhece a devida importância histórica de grupos como Quiet Riot, Mötley Crüe, Dokken, Ratt e outros, responsáveis não apenas por levar o som pesado para as massas ao alcançarem  vendas gigantescas e tornarem-se figuras habituais nas paradas da Billboard, mas também por viabilizarem o formato da MTV, já que a emissora cresceu e se consolidou com uma programação baseada, em sua grande maioria, em vídeos desses grupos.

Do outro lado da história, o enorme sucesso das bandas glam alimentou uma forte reação na vizinha San Francisco, onde grupos influenciados por Venom, Motörhead e pela NWOBHM iniciaram o desenvolvimento de um som mais agressivo aliado a uma imagem que era a antítese do visual glam – ao invés de roupas colantes e multicoloridas, as bandas da Bay Area vestiam-se com o trio básico tênis-jeans-camiseta. Liderados pelo Metallica, esses nomes fizeram nascer um dos mais sólidos, influentes e duradouros estilos do metal, o thrash.

O livro também prova que a queda de popularidade das bandas glam no início da década de 1990, ao contrário do conceito que é vendido de maneira equivocada por grande parte da mídia especializada brasileira, não foi causada pelo surgimento do grunge, mas sim pelos excessos - tanto estéticos quanto comportamentais – das próprias bandas, que acabaram esgotando e estagnando a cena. Esse fator, aliado à sólida reputação conquistada pelo Metallica e a posterior renovação e explosão comercial do Black Album, colocou a pá de cal que enterrou a turma de Los Angeles e maioria dos nomes clássicos do heavy metal. Qualquer movimento que viesse depois seria adotado pela mídia - calhou de ser o grunge, mas poderia ser qualquer outro.

A polêmica cena black metal norueguesa do início dos anos 1990 rende um dos melhores capítulos da obra. Christe contextualiza a relação dos noruegueses com a religião, e explica como o Cristianismo foi imposto de forma arbitrária no país há mais de mil anos atrás, gerando um descontentamento histórico e onipresente em toda a população. As bandas de black metal norueguesas, que foram responsáveis por discos fantásticos que influenciaram profundamente o estilo, também foram personagens de ações polêmicas como a queima de igrejas históricas, ataques a homossexuais e diversas iniciativas controversas que alcançaram o seu auge em agosto de 1993 com o assassinato de Euronymous, líder e guitarrista do Mayhem, por seu amigo e ex-colega de banda, Varg Vikernes. Todos esses acontecimentos são contados com clareza por Christe, em um dos capítulos mais esclarecedores de Heavy Metal: A História Completa.


Dois aspectos do texto da obra merecem uma crítica. O primeiro é o foco exageradamente centrado no Metallica em detrimento a outras bandas fundamentais do som pesado. É claro que o grupo de James Hetfield tem importância seminal no gênero, mas em alguns trechos o destaque é tanto que temos a impressão de estar lendo uma biografia da banda. Questionei este fato em uma entrevista que fiz com Christe em 2010, e ele argumentou afirmando que "como o livro aborda centenas de bandas eu precisava de um personagem central para usar como ponto de referência, e o Metallica foi isso. Pelo tempo que a banda possui de carreira, eles estiveram envolvidos na evolução do metal de maneira mais interessante que o Iron Maiden e o Judas Priest. Nos últimos dez anos o Metallica não contribuiu muito para o avanço do estilo, mas talvez eles leiam o livro e concluam que seu trabalho já foi feito! Em todo o caso, a influência do Metallica afetou toda a cena, do reconhecimento do Diamond Head ao fato de o Carcass ter assinado com uma grande gravadora, então a banda simplesmente não parava de aparecer em cada entrevista que eu fiz para o livro”. 

O outro é o fato de Christe ignorar totalmente alguns subgêneros e nomes importantes na história do som pesado. Toda a cena prog metal não é citada no livro, o mesmo acontecendo com os grupos de power metal. Independente de gosto pessoal, uma obra que ostenta o subtítulo The Complete Headbanging History of Heavy Metal não pode cometer um deslize como esse.

Ian Christe também faz inúmeras listas durante todo o livro, apontando os discos mais representativos de praticamente todos estilos do metal. Essas listas acabam servindo como guias para quem quer conhecer de maneira mais profunda cada um destes subgêneros, e possuem grande valia para os leitores.

Heavy Metal: A História Completa é um livro fundamental para qualquer fã de metal. A trajetória do gênero musical que tanto amamos é contada nos mínimos detalhes, em uma leitura extremamente prazerosa para todo fã de música pesada. Enfim, um livro recomendadíssimo, e que documenta o impacto e a força que o heavy metal teve - e continua tendo - na sociedade.

Para quem quer saber mais a respeito do trabalho de Christe, vale seguir de perto o catálogo da Bazillion Points, editora que ele comanda e que lançou vários livros excelentes explorando o universo metálico. 

Black Oak Arkansas, uma pérola do southern rock

12:17

Quando se fala em southern rock, os primeiros nomes que vem à mente são o Lynyrd Skynyrd e a The Allman Brothers Band. Apenas os fãs mais dedicados do estilo lembram do Black Oak Arkansas. Formado em 1965 na cidade de Black Oak, no estado de Arkansas (sacou a origem do nome?), o grupo atendia primeiramente por The Knowbody Else, e a formação original contava com James Mangrum (conhecido Jim Dandy) nos vocais, Pat Daugherty no baixo, Wayne Evans na bateria e o trio Ricky Lee Reynolds, Stanley “Goober” Knight e Harvey Jett nas guitarras.

Em 1969 a banda se mudou para Memphis, no Tennessee, e assinou contrato com a Stax Records. Gravaram um único álbum pela companhia, The Knowbody Else, que acabou engavetado. Foi nessa época que mudaram o nome para Black Oak Arkansas e começaram a se interessar por psicodelia e pela cultura sulista, influências que marcariam definitivamente o seu som.

Após algumas turnês tocando em tudo que é boteco da América, assinaram com a Atco em 1970. A gravadora lançou finalmente o debut em 1971, enquanto o grupo caía na estrada em uma extensa turnê para promover o disco. Começava nessa época a fama de ótimos no palco que acompanharia o Black Oak Arkansas por toda a sua carreira. Em 1972 lançaram dois álbuns, Keep the Faith e If an Angel Came to See You, Would You Make Her Feel at Home?, solidificando seu estilo junto aos fãs. Em 1973 o ótimo ao vivo Raunch 'N' Roll Live transpôs para o vinil a já lendária fúria exibida no palco.


Mas o grande estouro comercial do Black Oak Arkansas aconteceu com High on the Hog. Lançado também em 1973, o disco trazia uma significativa alteração no line-up do conjunto: no lugar de Wayne Evans estava um certo Tommy Aldridge (que ficaria famoso anos mais tarde tocando ao lado de Ozzy Osbourne e do Whitesnake).

Gravado entre 15/09/1972 e 29/08/1973, o disco teve produção de Tom Dowd e alcançou a posição de número 52 na parada da Billboard. O auge criativo do Black Oak Arkansas, transitando com absoluta naturalidade por todos os elementos que compunham o seu som, pode ser ouvido em suas dez faixas. “Swimmin´ in Quicksand” abre o álbum misturando o balanço e a malícia latina ao southern rock, tudo temperado com pitadas de funk. As raízes do grupo são homenageadas no country acústico de “Back to the Land”, enquanto “Movin´” é um hard poderoso com claras influências da lendária Charlie Daniels Band.

Um dos destaques é “Happy Hooker”, um hard blues cheio de segundas intenções, onde Jim Dandy soa como uma mistura de Mick Jagger com George Thorogood. “Happy Hooker” brilha ao lado de mais duas canções. A primeira, “Jim Dandy”, foi originalmente composta por Lincoln Chase e traz a vocalista Ruby Starr dividindo os vocais com Jim. Com uma levada bastante influenciada pelo Sweet, virou a marca registrada da banda e o maior sucesso de sua carreira, alcançando a 25ª posição nas paradas.

A segunda é “Moonshine Sonata”, uma parceria do grupo com o produtor Tom Dowd. Longa jam instrumental com pitadas de Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd, possui guitarras cheias de melodia e que influenciaram ícones do heavy metal como Iron Maiden e Judas Priest. Esta faixa mantém a tradição de todo grupo sulista de possuir uma canção com longos solos, e é uma espécie de “Free Bird” do Black Oak Arkansas.

A influência country dá as caras novamente em “High´n´Dry” e “Why Shouldn´t I Smile”, esta última com uma grande performance do baixista Pat Daugherty. O disco fecha como começou, com o balanço latino temperando o hard rock de “Mad Man”. 


A qualidade foi mantida com o álbum seguinte, Ain't Life Grand (1975), que marcava mais uma mudança na formação: no lugar de Harvey Jett o grupo contava agora com a guitarra de James Henderson.

Após o estouro comercial destes dois álbuns, a banda literalmente explodiu. Desentendimentos entre os integrantes fizeram surgir um novo grupo, batizado apenas como Black Oak, e que contava com Jim Dandy e James Henderson ao lado de Greg Reding (guitarra e teclado), Jack Holder (guitarra), Andy Tanas (baixo) e Joel Williams (bateria). Esta formação gravou os discos Race With the Devil (1977) e I'd Rather Be Sailing (1978).

Após estes dois trabalhos, o grupo encerrou suas atividades em 1980. O Black Oak Arkansas ficou nas sombras até 1984, ano que marcou o reencontro de Jim Dandy com Ricky Lee Reynolds. Recuperando-se de um ataque cardíaco, o vocalista convidou seu antigo parceiro para participar de seu álbum solo Ready as Hell. A parceria se repetiu também em The Black Attack is Back, lançado em 1986. Mas os fãs só foram brindados com a reunião do Black Oak Arkansas treze anos depois, com o lançamento do inédito The Wild Bunch, em 1999. Em 2013, mais um álbum inédito pra conta: Back Thar n’ Over Yonder.


A influência do Black Oak Arkansas foi muito além dos limites do southern rock. O hard apimentado com influências latinas, country e funk executado pelo grupo antecipou uma tendência que se intensificaria principalmente na década de 1990: a fusão de estilos conspirando para a formação de uma sonoridade totalmente nova. Além disso, a performance ensandecida de Jim em cima do palco influenciou inúmeros vocalistas, notoriamente David Lee Roth, que buscou inspiração no líder do Black Oak Arkansas para criar os saltos que viraram a sua marca registrada no Van Halen.

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