terça-feira, 16 de junho de 2015

Discografia Comentada: Baroness

18:14

Uma das grandes bandas surgidas no cenário metálico nos anos 2000, o Baroness produz uma música única e repleta de personalidade. Caminhando sobre a trilha do heavy metal na companhia de elementos do rock progressivo, alternativo, indie, sludge e psicodélicos, o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista John Baizley anda a passos largos para se tornar uma das grandes referências nos próximos anos.

Formado na cidade de Savannah, na Georgia, em 2003, o Baroness nasceu da banda punk Johnny Welfare and the Paychecks e contava em sua primeira encarnação com Baizley, Tim Loose (guitarra), Summer Welch (baixo) e Allen Blickle (bateria), line-up esse que sofreu alterações até se estabilizar por um longo período. 

Porém, durante a turnê de seu terceiro e até agora último disco, Yellow & Green (2012), o quarteto sofreu um sério acidente de ônibus no interior da Inglaterra no dia 15 de agosto de 2012. Havia dúvidas se a banda conseguiria seguir em frente devido à gravidade do ocorrido, e a resposta veio no primeiro semestre de 2013 com o anúncio de que o baixista Matt Maggioni e o baterista Allen Blickle haviam deixado o grupo devido ao acontecido. Para seus lugares a banda anunciou Nick Jost (baixo) e Sebastian Thomson (bateria). Atualmente o Baroness está em estúdio gravando o seu quarto álbum, que deve ser lançado este ano.

Além de músico, John Baizley desenvolve também um prolífico trabalho como ilustrador. Seu estilo característico, além de estampar as capas dos álbuns do Baroness, está em discos de bandas como Kvelertak, Black Tusk, Kylesa, Torche, Pig Destroyer, Skeletonwitch e Darkest Hour, e mostra que, além do talento como músico, Baizley também é um mestre nas artes plásticas.


Duas curiosidades antes de entrarmos na discografia da banda: todos os álbuns lançados pelo grupo até hoje foram batizados com títulos alusivos a cores: as primárias vermelho, azul e amarelo e a secundária verde (no caso do duplo Yellow & Green). E todos os discos foram lançados em CD e LP pela mesma gravadora, a Relapse, detentora do passe do quarteto.


Red Album (2007)

A estreia do Baroness foi lançada em 4 de setembro de 2007 e impressionou pela alta qualidade apresentada. Produzido por Phillip Cope (vocalista e guitarrista do Kylesa), Red Album traz onze faixas de um metal que alterna momentos pesados com outros mais atmosféricos e progressivos, tudo isso embalado com doses maciças de melodia e pitadas de melancolia em arranjos muito bem construídos. Contando com John Baizley, Brian Blickle (guitarra), Summer Welch e Allen Blickle, a banda mostra-se inspirada em composições fortes e maduras onde o principal destaque são as faiscantes guitarras de Baizley e Brian, que trocam harmonias e notas com entusiasmo e criatividade. Destaque para “Rays of Pinion”, “The Birthing”, “Isak”, “Wanderlust” e “O’Appalachia”. O disco foi bem aceito pela crítica, com a Metal Hammer colocando Red Album como o quarto melhor álbum de 2007 em sua lista de final de ano. Ótima estreia.


Blue Record (2009)

Lançado em 13 de outubro de 2009, Blue Record trouxe duas novidades: a troca de Brian Blickle por Peter Adams e a assinatura de John Congleton (Swans, Okkervil River, The Roots) na produção. O som está mais encorpado e pesado que na estreia, e também menos atmosférico. Há longos trechos instrumentais onde as guitarras se complementam em melodias gêmeas quase celestiais - aliás, uma das marcas registradas do Baroness. “Swollen and Halo”, “Ogeechee Hymnal”, “War, Wisdom and Rhyme”, “The Gnashing” e a fenomenal “A Horse Called Golgotha” são destaques óbvios em um tracklist sólido como uma rocha vulcânica de milhões de anos. A aclamação da crítica foi intensa em relação a Blue Record. O disco recebeu nota máxima da influente revista norte-americana Decibel, que o elegeu álbum do ano em 2009. A não menos importante Metal Hammer colocou Blue Record na décima posição em sua lista de final de ano, enquanto o LA Weekly cravou o trabalho na vigésima posição em sua lista com os maiores discos de metal já gravados. Comercialmente a recepção também foi ótima, e Blue Record alcançou a primeira posição no Heatseekers da Billboard, chart destinado a novos artistas. O álbum recebeu uma edição especial ainda em 2009, com um disco bônus trazendo a performance no Roadburn Festival daquele ano. Se a estreia já havia sido ótima, Blue Record conseguiu ir além.


Yellow & Green (2012)

O terceiro registro do Baroness é um álbum duplo e foi lançado em 17 de julho de 2012. O mais completo trabalho da banda, Yellow & Green é, fácil, um dos melhores discos de heavy metal gravados nos últimos dez ou vinte anos. Desenvolvendo ainda mais a sua sonoridade particular, o grupo deu ao mundo 18 músicas que trazem um metal adornado por características stoner, prog e alternativas. Instrumentalmente brilhante e com um trabalho exemplar de composição, Yellow & Green explora as diferentes facetas que formam a personalidade do Baroness, indo de faixas pesadas e agressivas como “Take My Bones Away”, passando por maravilhas progressivas como “Eula” e experimentações criativas como “Cocainium”. Com a melodia marcando forte presença por todo o álbum, encontramos destaque em outras faixas como “March to the Sea”, “Little Things”, “Foolsong”, “Collapse”, “Back Where I Belong” e nas etéreas “Twinkler” e “Stretchmaker”, esta última instrumental. Yellow & Green é um disco mais introspectivo que os dois primeiros, cuja audição possui o cada vez mais raro poder de transportar o ouvinte para outro lugar. Muito disso se dá através da estrutura das canções, a grande maioria com arranjos que vão se desenvolvendo em crescendos até chegarem aos seus clímax sonoros. Produzido novamente por John Congleton, o álbum foi gravado pelo trio John Baizley (que também assumiu o baixo), Peter Adams e Allen Blickle. A crítica recebeu o disco de braços abertos, com o trabalho recebendo uma nota 9 na Spin e no PopMatters e marcando presença em diversas listas de melhores do ano de 2012 - na da Metal Hammer, alcançou a 14ª posição. Yellow & Green é uma obra-prima, um disco incrível e que segue soando excelente a cada nova audição.


Além dos três discos de estúdio, o Baroness lançou quatro EPs: First (2004), Second (2005), A Grey Sigh in a Flower Husk (2007, split com o Unpersons) e o ao vivo Live at Maida Vale (2013). Os dois primeiros foram unidos em um só disco na reedição disponibilizada em 2008 e apropriadamente intitulada First & Second (2008). A discografia completa da banda tem ainda os singles A Horse Called Golgotha (2010) e Take My Bones Away (2012).

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Batman: A Corte das Corujas

17:08

O mercado de quadrinhos sofre de um problema que vai e vem de tempos em tempos: a formação de novos leitores, o encantamento de novos fãs e a consequente queda nas vendas. Com décadas de uma cronologia desenvolvida em tramas complicadas e complexas, uma revista de qualquer super-herói não atrai, de cara, os jovens leitores. Não é simples: não basta chegar e ler. É preciso mergulhar em um emaranhado de personagens, autores, desenhistas, mortes, ressurreições e tudo mais. E isso, para quem está começando a ler HQs na pré-adolescência, não é tarefa das mais fáceis.

Lembro que os quadrinhos me conquistaram aos 12, 13 anos. A grande responsável por isso foi a edição número 7 da finada revista Grandes Heróis Marvel, que trazia a saga da morte de Fênix ilustrada com uma imagem de Ciclope segurando Jean Grey nos braços. Aquela história escrita por Chris Claremont e desenhada por John Byrne abriu as portas do fantástico universo dos quadrinhos para mim, e foi o passo decisivo para eu entrar em um mundo repleto de fantasia e aventuras inesquecíveis. A partir de GHM#7, foi só alegria e uma ebulição de descobertas, que com o passar dos anos se mostraram essenciais na minha formação como leitor.

Além dos X-Men, que sempre foram os meus personagens favoritos na Marvel (nunca tive paciência para as infindáveis sagas dos Vingadores e do Capitão América, pra falar a verdade), na distinta concorrência fui atraído pela realidade sombria de Gotham e seu guardião, o Batman. Superman sempre me pareceu correto demais, assim como o Capitão América, enquanto o Batman traz consigo um perigo real e um sentimento doentio, quase um psicopata fantasiado, revelando-se muito mais atraente e convincente do que um homem voador vestindo cueca por cima da calça.

Tanto X-Men quanto Batman possuem uma cronologia gigantesca, que exige dos leitores um conhecimento imenso da história de cada personagem, algo que pouquíssimas pessoas possuem e estão dispostas a adquirir. Dentro dessa realidade de mercado, onde é preciso conquistar constantemente novos leitores, tanto a Marvel quanto a DC encontraram a solução em reboots periódicos, onde reiniciam seus universos esporadicamente, apresentando-os para uma nova geração de fãs. A excelente Ultimate Marvel era, até agora, o grande e principal exemplo dessa mentalidade, com toda uma série de revistas lançadas durante os anos 2000 em que os principais personagens da editora tiveram suas histórias recontadas para um público mais jovem, agregando elementos do mundo atual e tornando-os muito mais próximos do público a quem eram destinados. 

A DC, que volta e meia publica as suas infindáveis “Crises" (Crise nas Infinitas Terras, Crise Infinita, Crise de Identidade e mais um sem número de equivalentes), em 2011 deu um reboot em seus personagens, batizando este novo momento como Os Novos 52. Neste processo, diversos escritores e ilustradores consagrados foram contratados para reimaginar a mitologia de personagens consagrados como Batman, Superman, Flash, Lanterna Verde, Arqueiro Verde e toda a turma. Não acompanhei as edições mensais, e só agora, quatro anos depois de a série começar a ser publicada nos Estados Unidos, dei mais esse passo pra dentro da DC.

Como já disse, Batman é um dos meus personagens preferidos, então foi através de Bruce Wayne e companhia que dei o meu primeiro mergulho no universo de Os Novos 52. A Panini, responsável pela publicação tanto da DC quanto da Marvel aqui no Brasil, colocou no mercado alguns encadernados compilando o primeiro arco de histórias de Os Novos 52, cobrindo personagens como Superman, Flash e Aquaman. Sobre o Batman, foram lançados dois: A Corte das Corujas e Corporação Batman. O primeiro foi escrito por Scott Snyder e ilustrado por Greg Capullo, e o segundo é uma criação de Grant Morrison e desenhada por nomes como Yanick Paquette, Scott Clark, Cameron Stewart e Chris Burnham.


Vamos falar do primeiro destes encadernados. A Corte das Corujas é um volume de luxo, com capa dura, papel couché brilho de alta qualidade e 176 páginas. A edição compila os números 1 a 7 da revista Batman, publicada nos EUA em 2012. A trama conta a história da Corte das Corujas, sociedade secreta formada pelas famílias mais poderosas de Gotham, que controla a cidade de maneira silenciosa há décadas. Até que um certo Batman surge pelo caminho. O enredo de Snyder é muito bem escrito e prende o leitor, sendo direto ao ponto e sem gorduras extras. Ela não dá voltas, não fica enrolando, e isso torna a leitura mais agradável e interessante. O processo se completa com a bela arte de Capullo (pra quem não sabe, o cara por trás das ilustrações das HQs do Spawn, de Todd McFarlane). A história apresenta a grande maioria dos personagens do universo de Batman em novas encarnações, mas não tão diferentes das clássicas interpretações que ficaram conhecias em todo o mundo (não há uma transformação radical como a que ocorreu na série Ultimate da Marvel, por exemplo). Bruce Wayne encarna um Batman que faz uso de diversos apetrechos tecnológicos, enquanto Dick Grayson, o Robin original, convive com outros dois Robins simultaneamente - Tim Drake e Damian Wayne, este último filho de Bruce. O Comissário James Gordon é um cara mais novo que a figura clássica, e coadjuvantes como Batgirl e a Mulher-Gato também batem ponto. Entre os vilões, que aparecem somente de maneira rápida no início da trama, vemos ilustrações mais realistas e menos fantasiosas das figuras de Pinguim, Duas-Caras, Senhor Frio, Crocodilo, Espantalho e outros. O Coringa também surge de relance. O fato é que, ao menos neste primeiro volume, o antagonismo se dá através da Corte das Corujas personificada em seu soldado, Garra, deixando os vilões clássicos em segundo plano.

A Corte das Corujas traz um trama muito bem desenvolvida e enxuta, que mesmo não chegando a sua conclusão ao final do encadernado, cumpre com perfeição o objetivo de renovar o universo do Batman. Fazia muito tempo que não lia algo tão bom explorando o Homem Morcego, e fiquei muito satisfeito e com um gostinho de quero mais ao final deste primeiro volume.


Com ele, já sei que, ao menos no que diz respeito ao Batman, Os Novos 52 valem muito a pena.

Final de temporada de Game of Thrones, tatuagens psicodélicas e os 60 anos da Champions League

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