terça-feira, 26 de maio de 2015

Kamelot - Haven (2015)

11:03

Uma mudança de vocalista pode mudar a história de uma banda. Pode puxá-la para cima e colocá-la em outro patamar, que foi o que ocorreu com o Deep Purple quando escolheu Ian Gillan para o posto de Rod Evans e com o Iron Maiden quando colocou Bruce Dickinson no lugar de Paul Di’Anno. Pode arruinar e jogar no lixo uma trajetória construída durante anos, comprometendo o futuro do grupo, como aconteceu com o mesmo Iron Maiden ao substituir Dickinson por Blaze Bayley ou com o Nightwish ao trocar Tarja Turunen por Anette Olzon. Ou pode alterar totalmente a identidade sonora do artista e fazê-lo ressurgir através da exploração de outros caminhos, como ocorreu com o Black Sabbath com a adição de Ronnie James Dio no lugar de Ozzy Osbourne e, mais recentemente, com o próprio Nightwish com a adição de Floor Jansen.

O caso do Kamelot, no entanto, é um pouco diferente das situações citadas no parágrafo anterior. A banda norte-americana galgou diversos degraus na hierarquia do heavy metal e conquistou o coração de uma quantidade significativa de fãs a partir da troca de seu vocalista original, Mark Vanderbilt, substituído pelo excepcional cantor norueguês Roy Khan. Com ele, gravou discos excepcionais como The Black Halo (2005) e Ghost Opera (2007), consolidando-se como uma das novas forças do power metal. No entanto, Khan decidiu deixar a banda em 2011, após a turnê do álbum Poetry for the Poisoned. E então, o futuro do grupo liderado pelo guitarrista Thomas Youngblood entrou em xeque.

No entanto, Thomas e sua turma souberam lidar com a situação como poucos. Em um processo relativamente ágil, rapidamente anunciaram um substituto para Roy Khan: o sueco Tommy Kaverik. E aqui entra um fator interessante: tanto visualmente quanto em relação ao seu timbre, Kaverik é bastante parecido com Khan. Uma espécie de clone escolhido a dedo, de maneira aparentemente consciente, e que é um dos responsáveis por fazer o Kamelot não perder o foco e manter a sua trajetória ascendente.

A estreia da nova formação aconteceu em 2012 com o lançamento de Silverthorn, disco que mostrou que a banda tinha total capacidade de seguir em frente com o mesmo nível de qualidade anterior. E essa certeza se consolida com Haven, décimo-primeiro álbum de estúdio do grupo, lançado no início de maio. Novamente produzido por Sasha Peth, colaborador de longa data dos norte-americanos e responsável pela produção de vários discos do grupo, incluindo o já clássico The Black Halo, Haven mostra o Kamelot seguindo com a sua evolução. Ao longo dos anos, o quinteto foi diminuindo o foco na velocidade e nas melodias, dois dos elementos essenciais do power metal, ao mesmo tempo em que adicionou características góticas somadas a arranjos criativos e mudanças de andamento em suas composições, construindo uma identidade própria e original. Essa postura se mantém em Haven, e segue sendo um dos diferenciais do metal moderno e atual do Kamelot.

O disco traz treze faixas e as participações especiais de Charlotte Wessels (vocalista do Delain), Troy Donockley (flautista e multi-instrumentista a serviço do Nightwish) e Alissa White-Gluz (vocalista do Arch Enemy). Uma tradição em se tratando do Kamelot, a adição de músicos convidados agrega qualidade ao trabalho, possibilitando a exploração de aspectos únicos. É o caso de “Under Grey Skies”, balada com acento étnico e que traz Wessels e Donockley dividindo os holofotes com a banda. Mas é a presença de Alissa que traz um impacto maior, com a moça colocando o seu timbre gutural e agressivo em “Liar Liar (Wasteland Monarchy)” e em “Revolution”, em contraste com a voz bela e cristalina de Kaverik.

O Kamelot, mais uma vez, tira o foco da velocidade pura e simples e foca seus esforços na construção de canções repletas de nuances e momentos distintos, o que dá uma dinâmica bastante variada para o álbum. Mantendo suas características principais e sabendo evoluir sem chocar os fãs, os norte-americanos mostram mais uma vez o porque de serem um ponto fora da curva no cenário do heavy metal.

Superior a Silverthorn, Haven reafirma a força deste novo capítulo na história do Kamelot, que se mantém criativo e soa renovado e cheio de energia em seu novo disco. Que siga assim pelos próximos anos!

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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Metal forte e atuante: 10 discos lançados em 2015 que irão fazer a alegria de qualquer headbanger

16:50

Como vem acontecendo em todos os anos recentes, e heavy metal segue firme e forte em 2015. Grandes discos já chegaram às lojas este ano, mantendo e reafirmando o ótimo momento criativo do estilo, em seus mais variados gêneros. Pra atualizar o seu playlist e manter o ouvido antenado, listei abaixo dez excelentes discos lançados em 2015 e que irão fazer a alegria de qualquer headbanger.


Nossa aventura começa com Enki, sexto álbum da banda israelense Melechesh. O lance aqui é música extrema turbinada por elementos étnicos, metal adornado por características da música mediterrânea. Os riffs de guitarra trazem melodias orientais, os arranjos se desenvolvem através de elaboradas passagens instrumentais, tudo construído com muito talento e bom gosto. O resultado é um black metal que consegue unir com maestria peso, agressividade e melodia, além de soar original pra caramba.


Próxima parada: Noruega. O país que popularizou o black metal em sua faceta mais extrema no início dos anos 1990 segue com uma cena musical efervescente. E um dos fatores que mais chama a atenção é a quantidade de bandas que partiram do lado mais extremo da música pesada e foram adicionando elementos progressivos em suas sonoridades com o passar dos anos. Um dos casos mais notáveis é o do Enslaved. Disponível desde março, In Times, novo álbum da banda, dá um passo além em relação ao disco anterior, RIITIIR (2012), e soa ainda mais orgânico e redondo. A banda não chega ao extremo de um Opeth, por exemplo, que abandonou todo o seu lado death e se reinventou totalmente, mas sabe como usar com inteligência a riqueza do prog para acentuar a pluralidade de seu som.


Saímos do frio e vamos para a chuva, desembarcando na Inglaterra, terra do Napalm Death. Um dos pais do grindcore, o grupo natural de Birmingham sempre apresentou um espírito aventureiro em sua carreira, e mantém esta característica pra lá de sadia em seu novo álbum. Com uma capa sensacional e um conteúdo no mesmo nível, Apex Predator - Easy Meat é um arregaço sonoro de 40 minutos, cujas quatorze faixas estão entre os momentos mais altos da carreira do Napalm Death. Nos três anos que separam o novo álbum do anterior, Utilitarian (2012), a banda parece ter desenvolvido ainda mais o lado imprevisível de sua música, fazendo com que Apex Predator - Easy Meat soe a milhas de distância do que se faz atualmente no metal extremo.


Como não poderia deixar de ser, é obrigatório dar uma passada pela Suécia em uma matéria que fala sobre a cena atual do heavy metal em todo o planeta. Com uma enxurrada de ótimas bandas, o país escandinavo conhecido por suas belas loiras revela ao mundo outro excelente nome. O Tribulation lançou no final de abril o seu terceiro disco, The Children of the Night. A proposta do grupo é unir o metal tradicional ao death, e os nórdicos se saem bem em sua meta. A parte instrumental bebe diretamente na inesgotável fonte da New Wave of British Heavy Metal, com bastante melodia e riffs, enquanto os vocais mergulham fundo em guturais que não soariam fora de contexto em qualquer nome mais extremo. 


Unindo duas das mentes mais talentosas surgidas no metal na última década, o The Gentle Storm é uma colaboração entre a vocalista holandesa Anneke van Giersbergen (ex-The Gathering) e o guitarrista (também holandês) Arjen Anthony Lucassen, conhecido pelo seu trabalho no Ayreon, Star One e outros projetos. O disco de estreia,The Diary, é duplo e traz dez faixas, sendo que no primeiro CD elas são interpretadas com arranjos e instrumentos que remetem à Idade Média, enquanto no segundo as mesmas canções recebem o tratamento tradicional do heavy metal, com guitarra, baixo e bateria. A sensação, em alguns momentos, é de estarmos em uma cerimônia em Porto Real patrocinada pelos Lannisters, embalada por belas composições que tem como destaque principal a voz de Anneke. Um disco um tanto inusitado e diferente, e por isso mesmo tão bom.


Também tendo uma voz feminina à frente, o Royal Thunder vem dos Estados Unidos e trilha por outra praia. O negócio aqui é um stoner às vezes mais metal e em outras mais psicodélico. O disco de estreia, CVI, foi lançado em 2012 e deixou meio mundo de boca aberta. O novo, Crooked Doors, saiu em abril e coloca elementos de doom e classic rock no caldeirão. As faixas se alternam entre momentos mais agitados e outros mais contemplativos, luz e sombra, e o timbre da baixista Miny Parsonz lembra um pouco o de Ann Wilson, do Heart. 


Ainda na terra do Tio Sam, o Torche é um quarteto formado em 2004 e cujo quarto trabalho, Restarter, saiu no final de fevereiro. Pesadíssimo, o disco traz um stoner com toques de doom, amparado por uma parede de guitarras praticamente intransponível. Aliás, o timbre alcançado pelos caras é digno de estudo, com as guitarras soando de uma maneira que poucas vezes você já ouviu. Cuspindo riffs em profusão, o Torche soa como uma esmagadora máquina que despeja toneladas de distorção, e o resultado é um álbum indicadíssimo pra quem não vive sem o peso nosso de cada dia.


Voltando pra Noruega, o Solefald é um duo na ativa desde 1995 e que construiu a sua carreira pelos lados do metal avant-garde, com experimentações e inovações constantes. World Metal: Kosmopolis Sud, lançado em fevereiro, é um álbum sem restrições, sem preconceitos e com muita criatividade, que vai do metal à música eletrônica, do jazz ao pop, tudo ao mesmo tempo e agora. Mais que um disco, um exemplo de que tudo é possível e permitido quando o talento é forte e a inovação, onipresente.


E tem o thrash metal, é claro. O Angelus Apatrida é um grupo espanhol formado em 2000, que pratica um thrash vigoroso e com riffs cavalares. Hidden Evolution, seu quinto álbum, saiu em janeiro mas não foi muito comentado aqui no Brasil, então vale a dica. Dosando com eficiência a pegada oitentista que está no DNA do thrash mas sem abrir mão de elementos mais atuais, a banda consegue produzir uma música cativante, daquelas que fazem bater cabeça sem querer e de maneira constante. O timbre vocal faz lembrar um pouco as lendas alemãs Kreator e Destruction, mas os espanhóis são donos do seu destino e tem personalidade própria.


Fechando o papo, temos o veterano vocalista norueguês Jorn Lande em sua mais nova jornada. Gravado ao lado do guitarrista Trond Holter (Wig Wam), Dracula: Swing of Death é uma ópera-rock sobre o lendário vampiro, presente no imaginário de todo fã de histórias de terror e fantasia. Fazendo uma comparação com um projeto similar, o Avantasia de Tobias Sammet, o que temos é um trabalho mais focado no hard rock e menos no power metal, onde o destaque são os sempre ótimos vocais de Lande e os inspirados riffs de Holter. As canções são fortes e bem desenvolvidas, fazendo com que o álbum garanta uma audição prazerosa durante toda a sua duração.

O certo é que, independente do estilo e da sonoridade, o heavy metal vive um momento de grande inspiração em todo o mundo. Nos últimos anos, fomos presenteados com excelentes discos como The Hunter (2011) e Once More ‘Round the Sun (2014) do Mastodon, Unto the Locust (2011) do Machine Head, Yellow & Green (2012) do Baroness e muitos outros. A julgar pelo andar da carruagem, 2015 tem tudo pra seguir no mesmo caminho, comprovando não apenas o excelente momento criativo vivido pelo estilo mas, principalmente, nos dando a certeza de que o futuro do gênero está seguro e bem servido de ótimos nomes.

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