terça-feira, 21 de julho de 2015

É só rock and roll, mas todo mundo gosta


It´s Only Rock 'n' Roll foi o último álbum dos Rolling Stones com Mick Taylor. O guitarrista sairia da banda algum tempo depois, dizendo-se esgotado pela estrada e pelo relacionamento sufocante com Mick Jagger e Keith Richards. Extremamente tímido e inseguro, na verdade Mick Taylor nunca se sentiu totalmente à vontade com os Stones, fato que se acentuou ano após ano pela recusa eterna de Jagger e Richards em dar crédito a Taylor nas composições que ele ajudou a criar. A única exceção é "Ventilator Blues", de Exile on Main St.

Gravado no Musicland Studios, em Munique, na Alemanha, o disco traz influências generosas de soul e funk, acrescentando ainda mais tempero ao som sacolejante dos ingleses. Além disso, foi o primeiro trabalho do grupo a ter a produção creditada aos The Glimmer Twins (alcunha de Mick e Keith), que, propositalmente ou não, tornaram o timbre das guitarras bastante pesado - para o grupo -, deixando a audição ainda mais interessante.

Apesar de contar com apenas dez faixas, muitas outras foram registradas, como era de hábito nas sessões de gravação da banda. Entre elas, três covers para clássicos do R&B e do soul: "Drift Away" de Dobie Gray, "Shame, Shame, Shame" de Shirley & Company e "Ain´t Too Proud to Beg" dos Temptations, sendo que apenas essa última entrou no álbum.

O LP abre com "If You Can´t Rock Me", uma tentativa de seguir a tradição do grupo de sempre apresentar grandes faixas de abertura, mas aqui o resultado é apenas satisfatório. "If You Can´t Rock Me" não é uma faixa ruim, está longe disso, mas colocá-la no mesmo patamar de "Brown Sugar" e "Sympathy for the Devil" - faixas que davam início a Sticky Fingers e Beggars Banquet, respectivamente - é covardia. Vale mencionar o baixo repleto de distorção tocado por Keith Richards (sim, Keith assumiu o instrumento nesta faixa, fato costumeiro nas gravações dos Stones) no meio da canção, ganhando um destaque pouco comum nos trabalhos da banda.

A já citada "Ain´t Too Proud to Beg" dá sequência aos trabalhos, e sua audição contagia, principalmente pelo refrão pra lá de chiclete, na melhor tradição da Motown. Uma das melhores do álbum, sem dúvida. Vale citar que "Ain´t Too Proud to Beg" foi lançada como single em 31 de outubro de 1974, duas semanas após o álbum chegar às lojas, com "Dance Little Sister" no lado B, e alcançou a décima-sétima posição nos charts da Billboard.

O grande clássico do disco vem a seguir. "It´s Only Rock 'n' Roll" é um dos maiores hinos dos Rolling Stones, e resume com perfeição o espírito da banda: é apenas rock and roll, mas a gente adora! O que pouca gente sabe é que Ron Wood, naquela época apenas um amigo da banda, foi fundamental na concepção da faixa. Mick Jagger e Keith Richards haviam dado uma força para Wood na gravação e composição de I´ve Got My Own Album to Do, primeiro disco solo de Wood, lançado em 13 de setembro de 1974. A convivência aproximou Ron da dupla criativa dos Rolling Stones, e Jagger trabalhou na surdina com o então guitarrista dos Faces na confecção da faixa que deu nome ao disco dos Stones. Apesar de nos créditos do álbum haver uma citação a Ron Wood como o inspirador da canção, ele não aparece como autor da mesma, cuja criação é creditada apenas a Jagger e Richards. Wood também toca violão de doze cordas na faixa. A canção foi o primeiro single do álbum, chegando às lojas no dia 26 de julho daquele ano, alcançando a décima-sexta posição do Top 100 da Billboard e a décima nos charts ingleses. O álbum, em compensação, foi fácil para o primeiro posto nos Estados Unidos e alcançou a segunda posição na Inglaterra.


Menos badaladas, algumas faixas de It´s Only Rock 'n' Roll se transformaram, com o tempo, em preferidas entre os fãs, ganhando o status de pequenas jóias da carreira da banda. A doce balada "Till the Next Goodbye", com uma interpretação primorosa de Jagger, é uma delas. A excelente "Time Waits For No One", outra. Com mais de seis minutos, traz Mick divagando sobre os anos que passaram e os que estão por vir, e conta com um solo sensacional de Mick Taylor, que faz toda a diferença na canção. Aliás, como já dito, a insegurança fazia com que Taylor se sentisse pouco valorizado nos Stones, mas é só ouvir faixas como "Time Waits For No One" para ver o quanto ele elevou a música do grupo a um outro nível. Ainda que não tivesse a inventividade de Brian Jones, Mick Taylor era um guitarrista muito técnico, extremamente sensível, que conseguia, com poucas notas, transmitir um mar de sensações com o seu instrumento.

Há ainda "Luxury", um rock arrastado com um grande refrão, que precede "Dance Little Sister", uma paulada digna dos melhores momentos dos Stones. Com o baixo de Wyman e as guitarras em primeiro plano, é daquelas faixas típicas do grupo, extremamente contagiantes, feitas sob medida para levantar estádios.

A parte final do álbum traz ainda a bela "If You Really Want to Be My Friend", uma das grandes baladas da carreira dos Stones, cantada por um Jagger com o coração na mão. Outro destaque da faixa são os backing vocals, que fazem toda a diferença.

E, fechando o play, "Fingerprint File" é um funk psicodélico e hipnótico, mais uma vez com uma grande performance de Mick Taylor, que se contrapõe perfeitamente a Keith Richards. Interessante notar que, ao contrário das outras relações de Keith com seus companheiros de seis cordas - Brian era a exuberância, Richards era o lado cru da primeira fase dos Stones; e, ao lado de Wood, Keith desenvolveu um entrosamento tão grande que é praticamente impossível saber que partes cada um dos dois executa, já que suas guitarras soam como uma só -, com Taylor, um instrumentista extremamente técnico, Keith mostra uma aprimoramento e uma evolução palpáveis em cada uma das faixas que gravou enquanto Mick Taylor esteve na banda, caminhando a passos largos em direção a um caminho que nem ele saberia dizer qual seria. A influência de Taylor sobre Richards foi tão grande que moticou até mesmo uma carta de agradecimento de Keith ao guitarrista quando ele se desligou dos Stones, o que levou Mick Taylor às lágrimas.

Um assunto que não pode deixar de ser abordado quando se fala do disco é a ótima ilustração da capa, desenvolvida por Guy Peellaert, trazendo os Rolling Stones em uma escadaria do que parece ser um templo greco romano, rodeados por dezenas de mulheres, como que sendo recebidos no Olimpo do rock, seu lugar de direito.

Concluindo, apesar de não estar no mesmo nível de clássicos intocáveis como Beggars Banquet, Let It Bleed, Sticky Fingers e Exile on Main St., It´s Only Rock 'n' Roll apresenta uma banda com fome ainda para experimentar, trilhando caminhos até então inéditos, com sede de provar que continuavam relevantes para a cena rock dos anos setenta. De maneira geral, It´s Only Rock 'n' Roll é um trabalho muito bom, com ao menos três composições excelentes (a que dá nome ao álbum, "Time Waits For No One" e "Fingerprint File") e que possui o seu lugar e a sua importância na longa discografia daquela que sempre será a maior banda de rock do mundo.

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