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“Faroeste Caboclo” sempre foi uma canção cinematográfica. A saga de João de Santo Cristo, criada por Renato Russo e alçada ao posto de um dos maiores clássicos da Legião Urbana, é uma das letras mais emblemáticas do rock brasileiro. Nada mais natural, portanto, que a história fosse transportada, efetivamente, para a tela dos cinemas.
Dirigido por René Sampaio, Faroeste Caboclo, o filme, tem roteiro de Victor Atherino e Marcos Bernstein e um enredo que se baseia na letra da música, mas não é a transposição literal da história imaginada por Renato. Esse é apenas o primeiro dos muitos acertos. Evitando o recurso fácil e tentador de citar frases completas da extensa letra nos diálogos, Sampaio torna o filme autêntico, verossímil e nada gratuito. Um exemplo claro acontece logo no início, quando João, interpretado com primor por Fabrício Boliveira, chega à Brasília no período natalino e, ao ver as luzes decorativas, é apenas enquadrado pela câmera enquanto a sua mente imagina as possibilidades que ele encontrará na capital federal - nada de o personagem abrir a boca e declamar um “saindo da rodoviária fiquei bestificado com as luzes de Natal, meu Deus que cidade linda, no ano novo eu começo a trabalhar”.
Sampaio imprime um clima de faroeste em todo o longa, usando com frequência paisagens áridas e poeirentas para ambientar a trajetória de Santo Cristo. Isso, aliado à fotografia inspirada de Gustavo Hadba, coloca o filme em um patamar elevado. Há ângulos inusitados e enquadramentos muito bem feitos, que se utilizam de recursos como o contraste exacerbado entre luz e sombra para contar a história com muito mais dramaticidade e um inegável requinte visual.
Outro ponto positivo de Faroeste Caboclo é o elenco. Além de Boliveira (João de Santo Cristo) temos Ísis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias), César Troncoso (Pablo) e Antônio Calloni (como o detetive Marco Aurélio) em atuações que vão de competentes (no caso de Valverde) há inspiradas (Abib, Pablo e Calloni). Como nota negativa apenas a participação praticamente nula do falecido Marcos Paulo como o Senador Ney, pai de Maria Lúcia, personagem totalmente dispensável.
Como já dito, o filme é baseada na canção, mas não é literal à ela. O roteiro parte da letra de Renato Russo e leva o espectador para outro lugar, fiel à trama, mas muito mais autêntico e doloroso. Essa escolha torna a trajetória de Santo Cristo ainda mais cruel, tornando quase impossível a não identificação com o personagem. O filme não economiza ao mostrar cenas fortes e até mesmo brutas, e essa escolha só intensifica o clima de realidade que transborda da tela.
Em comparação ao outro filme envolvendo a Legião Urbana lançado recentemente, Somos Tão Jovens, Faroeste Caboclo ganha de goleada. Enquanto Somos Tão Jovens peca pela produção precária, mas ganha na homenagem sincera que faz aos primeiros anos da carreira de Renato Russo, a obra de René Sampaio é cinema de verdade. A cena do esperado duelo entre Santo Cristo e Jeremias, ápice do filme, bebe direto na fonte do diretor italiano Sergio Leone, variando planos fechados nos olhos dos protagonistas com cortes secos para outros pontos da tela, fazendo com que, mesmo inconscientemente, a associação com o grandes clássicos do faroeste seja imediata.
Faroeste Caboclo é um grande filme, que faz juz à história criada por Renato Russo e a torna ainda mais forte e atual. Além disso, revela um diretor cheio de talento, que mostra talento e potencial para brilhar muito em seus próximos projetos.
Compre já a pipoca e o refrigerante, porque vale muito a pena.
Faroeste Cabloco, um grande filme
Reviewed by
Ricardo Seelig
on
17:07
Rating:
5
Se há um ator que eu adoro ver é César Troncoso, porque ele sempre alcança excelentes figuras no cine.Ahora está a participar na nova série O hipnotizador, apenas começou e já eu amo a sua atuação.
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