quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Uma nova Collectors Room

20:26

A experiência aqui no Prateleira me fez bem. Um ambiente mais calmo, mais sereno, sem a obrigação de postar várias vezes durante o dia. Textos mais leves, mais prazerosos, mais legais pra mim mesmo.

Enquanto isso, mesmo estando há mais de quatro meses sem contar com postagens novas, a Collectors Room mantém a sua alta audiência.

Por essa razão, resolvi unir o melhor destes dois sites que desenvolvi: a leveza da Prateleira com a amplitude de público da CR. Assim, nasce uma nova Collectors Room, com o propósito de ainda ter a música como prato principal, mas indo além dela, trazendo também para os leitores textos sobre séries, cinema, HQs, cotidiano e o que mais pintar.

Layout cru a princípio, sem maiores firulas gráficas, onde o foco é apenas o conteúdo.

Quem quiser vir junto, é bem-vindo.

Quem não está muito disposto e não curtiu as inconstâncias do site nos últimos anos, com idas e vindas, tem outras opções na internet, sem problemas.

Essa é a nova Collectors Room: mais leve, mais clean, mas com o amor e o tesão de sempre pela música e pelas coisas legais da vida.



Opinião: o jazz como ferramenta para a evolução do ouvinte

11:21

Sempre escutei rock. Desde que comecei a consumir música de maneira contínua e diária, o rock sempre foi o protagonista. A trilha da minha adolescência foi formada por doses cavalares de Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica, Led Zeppelin, Beatles e outros ícones. E seguiu nessa toada ano após ano. Apesar de sempre ter mantido o ouvido curioso - adoro pop, por exemplo -, ele ficou limitado ao universo do rock e do metal.

Mas o jazz sempre andava por ali. De tempos em tempos, tentava dar uma experimentada, uma degustada no gênero, mas a sensação era sempre indigesta. A impressão constante era a de que cada um dos músicos estava tocando uma canção diferente do outro. Que os instrumentos não combinavam. Que a coisa não batia e não funcionava.

Anos e anos tive essa sensação em relação ao jazz. Até que 2008 chegou. Estava com 34 anos e meu filho acabara de nascer. O Matias trouxe uma alegria indescritível. E, junto com ela, uma maturidade necessária e muito bem-vinda. E que, até que enfim, foi capaz de me fazer entender o jazz, traduzi-lo para os meus ouvidos.

Dois discos foram os responsáveis por essa transformação, ambos, curiosamente, lançados no mesmo ano: 1959. Falo de Time Out, do Dave Brubeck Quartet, e de Kind of Blue, de Miles Davis. Através destes dois títulos, o jazz se tornou entendível para mim. E isso se deu pela acessibilidade da dupla, já que estamos falando de dois álbuns que, mesmo possuindo as refinadas estruturas harmônicas características do jazz, fazem a tradução destes elementos de forma fácil ao ouvinte leigo. 

Time Out é um álbum matemático. Suas composições evoluem em arranjos marcados que caminham de compasso em compasso, em melodias crescentes. O grande clássico do disco é a imortal “Take Five”, uma das canções mais conhecidas do estilo, e uma porta de entrada perfeita para quem nunca experimentou o gênero.

Kind of Blue marca o nascimento do jazz modal, estilo onde as melodias se desenrolam em camadas suaves e intercaladas, que servem de base para os vôos solos dos instrumentistas. No caso deste título específico, o genial Miles Davis estava ao lado de outro músico singular, o saxofonista John Coltrane, e ambos entregam performances divinas no disco. 

Um parágrafo destinado apenas para um adendo focado no fã de rock: ao contrário do que ouvimos nos discos do estilo que tanto amamos, onde, na grande maioria dos casos, cada instrumento é gravado de forma separada, com a mixagem unindo tudo, no jazz a coisa é feita de outra forma. Com todos os músicos reunidos no estúdio, a canção é executada uma, duas, quantas vezes se achar necessário até alcançar a perfeição, com todos tocando juntos. Tudo fica mais espontâneo e verdadeiro, ao meu ver.

Partindo de Time Out e Kind of Blue, mergulhei em diversos outros artistas e discos. Thelonious Monk virou meu parceiro, Stanley Clarke me mostrou que o baixo poderia alcançar outro nível, Herbie Hancock remexeu profundamente o meu esqueleto. Tudo isso em um processo que colocou o jazz entre os meus gêneros favoritos de música.

O que isso tem a ver com o rock? O que isso tem a ver com você que está lendo este texto e é um fã do bom e velho rock and roll, das guitarras pesadas do heavy metal e da força da música pop? Pegando como base a experiência que vivi - e continuo experimentando - com o jazz, o que posso afirmar é que o gênero quebrou barreiras e alargou as minhas percepções pessoais sobre a música. Ao caminhar por estruturas livres e sempre buscar a experimentação e a inovação, seja através de andamentos inusitados ou arranjos que almejam novas formas de decodificar a música, o jazz me levou para muito além do 4x4 tradicional do rock. Esse passo além me ajudou não apenas na atração por artistas que procuram fugir do convencional, como também foi essencial para um entendimento mais profundo e completo da obra de bandas que já eram importantes..

Meu entendimento sobre o Clash, por exemplo, mudou completamente após a inserção do jazz na minha vida. Se antes eu já adorava a banda, após fiquei ainda mais impressionado pela intensa musicalidade dos britânicos. O mesmo vale para os Beatles, que caminharam de composições simples para faixas onde o experimentalismo era onipresente, e sempre mantendo a capacidade saudável de fazer tudo soar acessível.

Sou da opinião de que, quanto mais você faz uma coisa, melhor você fica naquilo. É o caso da música. Quanto mais você ouve, mais você aprende. Quanto mais você é exposto e se deixa experimentar gêneros que fogem do seu cardápio habitual, mais elementos agrega ao seu vocabulário. E, nesse sentido, o jazz possui um valor incrível como catalisador de novas possibilidades.

Ouça jazz. Ouça rock. Ouça o que você quiser. Mas sempre com o ouvido curioso e destemido. Deixe a música revelar toda o seu esplendor. É demais sentir essa sensação, eu garanto.


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Narcos - Primeira Temporada (Netflix, 2015)

11:40

A vida de Pablo Escobar possui uma infinidade de elementos que transformam a trajetória do maior traficante de drogas do século XX - e um dos maiores criminosos dos tempos modernos - em algo que beira a ficção. Não por acaso, diversos filmes e séries tem Escobar como personagem principal. Narcos, produção original da Netflix lançada no final de agosto, é o mais recente destes projetos.

Com produção de José Padilha (o diretor de Tropa de Elite e da nova versão de Robocop, e que também assina a direção dos dois primeiros episódios), Narcos traz Wagner Moura na pele de Pablo Escobar e conta com um elenco multinacional - Pedro Pascal, o Oberyn Martell de Game of Thrones, entre eles. A trama conta a formatação e ascensão da indústria da cocaína, e utiliza como fio condutor a trajetória de Escobar. Lançando mão de um artifício presente em Tropa de Elite - a locução em off -, a série ganha um clima documental através do relato do agente norte-americano Steve Murphy, integrante do DEA e parceiro do personagem vivido por Pascal na busca incessante por Escobar.

Tecnicamente, Narcos beira a perfeição. Com excelente fotografia - a cargo de Lula Carvalho - e rigorosa reconstituição de época, os dez episódio prendem o espectador de maneira precisa. Com diálogos bem escritos, a série revela, um a um, os inúmeros integrantes da teia de Escobar, personagens que apresentam uma dicotomia onipresente, colocando sempre seus interesses pessoais em primeiro plano. Falada em inglês e espanhol, Narcos mantém os idiomas de origem dos personagens, e esse é um dos seus maiores acertos.

A analogia feita ao realismo fantástico logo no primeiro capítulo revela-se como uma espécie de introdução para tudo que virá a seguir, com Pablo Escobar assumindo o protagonismo de uma trama que não fica devendo nada, em reviravoltas e fatos insólitos, à história da família Buendía contata por Gabriel García Marquez no clássico Cem Anos de Solidão. Porém, como uma diferença fundamental: a história de Pablo realmente aconteceu.

Sem tomar partido de nenhum dos lados, os episódio mostram o assombroso poderia econômico e social conquistado por Escobar, com extensão para todos os braços da sociedade colombiana. A interpretação de Wagner Moura, que entrega um Pablo sereno e calmo na grande maioria das cenas, deixa ainda mais perturbadora a imagem do patrão da cocaína.

Com personagens ricos e interpretações de alto nível da maioria do casting, Narcos alcança um resultado final muito bom, atestando a alta e já conhecida qualidade das produções da Netflix. Só fica uma dúvida: com a história chegando praticamente ao fim na primeira temporada, a já anunciada segunda temporada dá todas as dicas de que irá muito além de Pablo Escobar, englobando também outros criminosos, principalmente os integrantes do Cartel de Cali. Se isso realmente acontecer, será mais um acerto.

Assista, vale muito a pena - ah, e a trilha sonora é demais!

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