Opinião
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Faça um exercício e conte comigo: quantas bandas/artistas são capazes de causar uma comoção coletiva ao revelar ao mundo o seu novo single? Quais nomes da música tem tamanha força, popularidade e impacto ao ponto de literalmente parar tudo nos grandes veículos do planeta ao anunciarem ao mundo a sua nova canção? Poucos, nós dois sabemos disso. Um grupo seleto, onde podemos incluir os Stones, David Bowie, U2 e mais alguns. Dentro do metal, apenas três gigantes possuem este poder: Black Sabbath, Metallica e Iron Maiden. Mais uma prova disso foi dada semana passada, quando o Maiden divulgou “Speed of Light”, primeira amostra de seu novo disco, The Book of Souls, que chegará às lojas em setembro.
E a euforia foi tamanha que dificultou uma análise fria e imparcial sobre a canção. O torpe foi instantâneo, embaralhando a visão e confundindo o cérebro dos fãs, como sempre. Não sei se é o tempo, não sei se é a vida, não sei o que pode ser, mas o fato é que, pela primeira vez desde que me conheço por gente, uma nova canção do Iron Maiden não mexeu, bagunçou e esculhambou os meus dias.
Pra ficar mais fácil de entender, um pouco da minha história com a banda. Ouvi o Iron Maiden pela primeira vez em 1985, na TV, durante o primeiro Rock in Rio. Desde então, a banda se transformou na minha preferida. O Maiden foi o grupo que mais escutei na vida, fácil. Passei anos e anos, que depois se transformaram em décadas, levando seus discos literalmente embaixo do braço para todo e qualquer lugar que fosse. Ouvi tanto que minha mãe assobiava as faixas da Donzela inconscientemente. O Maiden é a banda que mais tenho discos, e ocupa a maior parte da minha coleção (na última contagem, há alguns meses atrás, havia lá em casa uns 150 itens da banda, entre CDs, DVDs, livros e afins). Tenho um filho de 7 anos, e passei a paixão adiante, quase de maneira hereditária. Como diz um amigo, Iron Maiden é vida.
Só que não. Não ao escutar “Speed of Light”. Em um primeiro contato, achei a faixa naquela linha mediana dos singles que anteciparam todos os singles lançados pelos ingleses desde o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith ao grupo, em fevereiro de 1999 - a saber: “Wildest Dreams”, “The Reincarnation of Benjamin Breeg” e “El Dorado”, faixas que não representam grande coisa no imenso catálogo da banda. O ponto fora da curva foi justamente o primeiro destes singles, “The Wicker Man”, que entrou com força e de maneira definitiva no coração dos fãs. O Iron Maiden soa genérico e com pouca inspiração em “Speed of Light”. Um riff comum abre a faixa, seguida por um grito meio “Be Quick or Be Dead” de Bruce. Depois, linhas vocais mais do mesmo, um refrão sem graça e é isso aí. Pra não dizer que tudo se perde, os solos de guitarra, principalmente o de Adrian Smith, garantem a diversão e um tímido sorriso de satisfação.
Muito pouco para uma banda como o Iron Maiden. E, principalmente, muito pouco pelo tamanho da comoção causada. A sensação é que, mesmo lançando qualquer coisa, o buzz estará garantido. Já disseram uma vez que todo fã é um idiota. Não concordo. Porém, a ausência da capacidade de avaliação proporcionada pelo fanatismo e pela paixão impedem que grande parte dos fãs do Maiden percebam o óbvio: “Speed of Light” é, na melhor da hipóteses, apenas um arremedo do que se espera do Iron Maiden, e do que a própria banda pode entregar. Steve Harris e Bruce já declararam que a ideia em The Book of Souls foi gravar tudo ao vivo no estúdio, capturando a energia e a espontaneidade das primeiras execuções. Algo parecido com a busca por algo mais básico que a banda entregou em No Prayer for the Dying, um dos seus piores álbuns.
O fato é que um single não representa, necessariamente, a amostra de um disco. No máximo, revela o clima e o astral que a banda estava ao gravá-lo. O próprio Iron Maiden é uma prova disso. Seu último trabalho, The Final Frontier (2010), é um dos melhores da longa carreira dos ingleses, e traz uma sonoridade refrescante e renovada, culminando em uma canção excelente como “When the Wild Wind Blows”. Ou seja, pode vir por aí um grande disco, mesmo com uma prévia tão decepcionante.
Mas vale a pena levantar a questão: tanto barulho por tão pouco? Tantos “Iron Maiden é a minha vida” por uma canção genérica ao extremo? O fã pode não ser idiota, mas, com absoluta certeza, passa longe da isenção. E essa postura gera uma posição de extremo conforto para o artista. Ele sabe que basta gravar qualquer coisa que venderá, cairá na graça de sua enorme legião de fãs, venderá pra caramba e encherá arenas em seus shows - tocando clássicos antigos, é claro. É preciso mais “The Chemical Wedding” e menos “Speed of Light”. É preciso mais álbuns inovadores e que saiam do comum, que experimentem, que inovem, e (muito, muito mesmo) menos discos que apenas reciclem ideias do passado. É preciso menos classic rock e mais música inspirada e corajosa.
E, acima de tudo, é preciso medir nossa emoções e não entrar em transe coletivo por tão pouco.
Opinião: Iron Maiden e a comoção coletiva
Reviewed by
Ricardo Seelig
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16:20
Rating:
5
Desculpe companheiro fã, o Iron já está morto faz tempo. Como já dizia o Bruce Dickinson em carreira solo: Machine man, Iron bites the dust.
ResponderExcluirPelo visto não foi só eu que achou essa música bem "mais ou menos". Resta-nos a esperança de que o álbum traga melhores composições.
ResponderExcluirTalvez eu devesse ter ouvido a música sem antes ver o videoclip, porque eu achei muito boa a música, apesar de não ser incrível, e o videoclip bem divertido. Ela é melhor, por exemplo, do que Different World ou Wildest dreams e do nível ou melhor que The final frontier pra mim. Ficou bem 'be quick or be dead' mesmo, mas eu não acho que existe plágio de si mesmo, e outra, o Riff pré-refrão, pelo menos em mim, ainda ressoa...
ResponderExcluirAchei genérica também, foi exatamente o que eu pensei quando ouvi. Nem parei pra pensar que tantas pessoas enlouqueceram por causa dessa música (que pra mim não seria um grande evento, de qualquer forma), mas é claro que enlouqueceram... No fim do ano passado, se não me engano, Purity Ring lançou o primeiro single do seu novo álbum e eu não me empolguei. Acabou sendo a única música meio fraquinha de um excelente álbum. Vai que esse é o caso no novo álbum de Iron Maiden... Se bem que Purity Ring precisa se esforçar, não pode se dar ao luxo de lançar qualquer coisa e ser alvo de reações entusiasmadas.
ResponderExcluirFala Cadão. Sou um leitor das antigas, da época da Collector´s no Whiplash, longos e bons anos acompanhando os seus textos.
ResponderExcluirVezes acertando e concordando, vezes não. O fato é que nesse texto específico sobre o Maiden (diga-se de passagem, também minha banda favorita) concordo plenamente. Em cada linha. Aliás, alguns textos seus são extremamente certeiros e só não vê quem não quer o que você tenta passar.
E, por isso, o parabenizo. Abraço. Ps: também espero que o album completo seja melhor do que o single divulgado, bem meia boca.
Não empolga... o refrão não é forte para ser um single. Não se julga um álbum por uma música. Mas esta está bem aquém das músicas fortes e com "apelo comercial" que o Maiden sabe fazer.
ResponderExcluirfeliz por ver que não fui apenas eu que achou a música fraca, com aquela introdução parecendo música de banda hard rock.
ResponderExcluiruma música feita de maneira preguiçosa/despretenciosa.
aguentei escutar somente até o refrão para ali esperar a salvação da música, nem isso aconteceu.
como é um album duplo a esperança é que essa seja uma das piores músicas do album e que o restante salve esse lançamento.
O Maiden é a banda que mais gosto, mas, infelizmente, há décadas não entrega nada que me toque mais. Queria entender onde eles estão artisticamente hoje, especialmete o Bruce. A última coisa fora de série e espetacular mesmo foi o Chemical Wedding; depois disso, só muito mais do mesmo, tudo muito óbvio e sem graça. Estava ouvindo The Duellists esses dias, e fiquei pasmo ao relembrar a criatividade que esses caras tinham. Hoje só riffinho infantil e melodias manjadas. Podiam parar de gravar, sério, ou arrumar um produtor decente.
ResponderExcluirO último álbum deles que teve impacto na minha vida foi Brave New World, lançado há 15 anos. Uma eternidade! Mas não posso reclamar muito, porque mesmo que alguns álbuns deles sejam extremamente importantes pra mim, não gosto de todos os álbuns do auge da banda e não me considero fã.
ResponderExcluirAchei no mínimo curioso que ninguém aqui teve um pingo de tato de lembrar da batalha contra o câncer do Bruce e associar isso à reação emotiva ao extremo que a faixa nova causou. Claro que não foi só isso, e é sim fato que bandas como o Maiden terão acolhida calorosa não importa o que façam (a contrapartida também é verdadeira, vide os comentários aqui). No entanto, acho meio óbvio que muita gente se viu diante do fato que o Maiden está cada vez mais perto do fim, e por isso os "Iron Maiden é minha vida" ainda mais entusiasmados. Mas a boa notícia é justamente essa! Em um futuro cada dia mais perto, essas bandas não existirão mais, e como estou cada vez mais convencido que nenhuma outra banda reinará no panteão dos gigantes, esse problema irá acabar. Bandas continuarão gravando suas coisas, com seus ápices criativos extremamente limitados, como sempre foi, e os discos posteriores serão consumidos pelo nicho dos fãs, como sempre foi também, mas em um mundo governado por bandas de médio a grande porte, o "muito barulho por nada" será cada vez menos audível.
ResponderExcluirTava demorando para citarem o câncer do Bruce... isso não muda a música, o fato de que cada vez mais o Iron Maiden está se alocando em sua zona de conforto e com isso não traz mais aquela sensação de "faca entre os dentes" do passado. Não falo do estilo musical, mas sim da força que suas músicas traziam... por sinal vamos atentar... Bruce tratou um câncer próximo a garganta... sabe-se lá como isso irá mexer com sua voz, principalmente nos vocais mais rasgados e tons altos.
ResponderExcluirSério, tava tão difícil assim de ler? Citei o câncer apenas como um fator que influenciou na SENSIBILIDADE DAS PESSOAS em receber algo novo do Maiden. É completamente óbvio que isso afeta muita gente, dai o cara que iria receber de braços abertos uma música da banda, depois da história da doença do Bruce, recebe de braços abertos e lágrimas nos olhos. Há alguns anos, quando lançaram El Dorado, rolou a boa receptividade que o Maiden tem entre os fãs. Dessa vez rolou uma comoção grandiloquente. Pq a diferença? Qualquer um que descartar o acontecido com o Bruce é um tonto. Concordo que o câncer não muda a música, mas se tivesse tido a boa vontade de ler direito, eu nem falei da música no meu comentário inteiro. Sem querer ser muito chato, mas ler com descuido o que os outros escrevem é uma falta de respeito.
ExcluirEsqueci do efeito Cristiano Araújo... gente... o CD novo do Maiden traz um alívio imenso por ver que a banda ainda não deixou de produzir, e que o Bruce conseguiu, mesmo já estando doente (não tinha descoberto ainda) fazer as suas partes como de costume. Mas isso não muda o fato de que desde ... "No Prayer For The Dying" a banda vem se mantendo num espectro que agrada fãs, mais porque as velhas pedradas estarão nos shows do que pelo trabalho novo, e não se preocupa em soar repetitivo.
ResponderExcluirAlipio, entendi o que você quis dizer, talvez vc não tenha compreendido o que eu falei. Mas digo de boa. Alívio como fã, emoção ou coisas assim só quando vir a banda no palco e Bruce não tiver perdido a voz como esperamos.
ExcluirRafael, eu entendi o que você disse sobre a música, até pq, convenhamos, não é nenhuma novidade. Eu escuto as pessoas falarem que a música do Maiden já não é como antes desde quando eu conheço a banda, e isso já tem 20 anos. Fora que pra quase a totalidade das bandas velhas, o assunto é sempre esse também, ou não?
ExcluirGosto muito de BNW, acho DOD legal, AMOLAD fraco e TFF excelente.
ResponderExcluirTb gosto muito do Brave New World e The Final Frontier, pra mim considero discos clássicos do mesmo patamar de Powerslave ou Somewhere In Time...
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirTb gosto muito do BNW.
ExcluirDOD tem músicas que chegam a ser melhores que algumas clássicas, como a faixa-título, Paschendale, Montsegur.
Gosto do AMOLAD, ao contrário de quase todo mundo. Curto muito Benjamin Breeg e The Legacy.
Não curti muito o TFF. É o disco do Maiden que menos ouvi na vida, de longe.... Acho que vou até voltar a ouvir mais ele e ver o que acho alguns anos depois.
Essas músicas curtinhas atuais em formato de single do Iron Maiden são muito genéricas. Acredito que as demais serão interessantes. Gosto de todos os albuns desde a volta no Bruce...embora sejam irregulares o saldo é bom. Vamos ver a prova do tempo...essa é a mais importante na minha opinião (alo alo Come Taste the Band)
ResponderExcluirAbraços