Havia uma enorme expectativa em torno de Lights Out, terceiro disco do quarteto sueco Graveyard. O motivo foi o ótimo segundo álbum do grupo, Hisingen Blues, um dos melhores de 2011. Porém, demonstrando domínio extremo da situação, a banda não apenas gravou um sucessor à altura como fez questão de deixar claro que todo o reconhecimento e elogios em cima de seu som fazem todo o sentido.
A música do Graveyard, obviamente, possui uma identidade. Calcada no hard rock setentista, a sonoridade dos suecos traz de volta o som pesado, esfumaçado e chapado daquela época. Porém, o que chama a atenção é que o quarteto não se repete em nenhum dos seus três trabalhos, procurando seguir sempre novos caminhos e propostas musicais. Assim, apesar dos entusiasmados elogios a Hisingen Blues, o Graveyard mostra personalidade em Lights Out, propondo um som que, ainda que permaneça dentro do seu espectro sonoro, não se vale de fórmulas prontas.
Mais ainda que nos dois excelentes discos anteriores - antes de Hisingen Blues a banda colocou nas lojas o auto-intitulado primeiro álbum, em 2007 -, Lights Out mostra que o Graveyard é formado por quatro hippies cabeludos apaixonados por hard rock. O som é totalmente calcado na estética setentista e deixa pairando no ar um inebriante aroma de substâncias ilícitas. A música do Graveyard é leve e solta. Os músicos tem a mão livre e apostam mais no felling do que na precisão.
Merecem menção especial duas características de Lights Out. A primeira é o apaixonante timbre das guitarras, sujas e empoeiradas como um bom som pesado pede. E a segunda é a performance irretocável do vocalista Joakim Nilsson (também guitarrista). Sua voz está suja, mais rouca e pigarreada que nos álbuns anteriores. “Seven Seven” é o ápice disso. As melodias vocais estão ainda mais eficientes e bem construídas, um passo à frente de Hisingen Blues. E quando resolve mudar a sua forma da cantar, Joakim encarna um narrador nas linhas vocais suaves de “Fool in the End”, que se metamorfoseiam no refrão, tornando-se ásperas, animalescas e hostis.
A maneira como o Graveyard monta os seus discos deixa claro os méritos da banda. Os caras abrem Lights Out com uma faixa mais agitada - “An Industry of Murder” -, para em seguida colocar na roda uma composição viajante pra caramba - “Slow Motion Countdown”. Isso mostra não apenas personalidade, mas uma fé na forma como a banda vê a sua música e o seu papel, importando-se somente com os seus princípios e não com estúpidas convenções.
Há uma clara divisão entre canções mais agitadas e outras mais calmas e contemplativas. Pauladas épicas como “The Suits, The Law & The Uniform”, com cara de futuro clássico e um riff simples e matador, são exemplos perfeitos do lado mais agressivo do Graveyard. O mesmo vale para “Endless Night” e “Goliath”, o primeiro single, uma composição cativante e com guitarras faiscantes, que condensa todo o poder da música do grupo em apenas 2:50. Do outro lado da moeda, sons como a pequena obra-prima “Slow Motion Countdown” (com sutis teclados, uma novidade para o grupo), a espetacular “Hard Time Lovin” (uma canção à moda antiga, que se desenvolve sem pressa e tem a melhor interpretação de Joakim em todo oálbum ) e “20/20 Tunnel Vision” mostram a fascinante face entorpecida do grupo, e também o seu principal trunfo. É em composições com essa característica que o Graveyard revela-se em sua plenitude, colocando todas as suas cartas na mesa e fazendo jus aos mais exagerados elogios. Quando a banda acerta a mão, não há nada semelhante no rock atual! Assim como tivemos a estupenda “Uncomfortably Numb” voando alto em Hisingen Blues, em Lights Out há “Hard Time Lovin” abrindo todas as portas, janelas e formas de percepção.
Bastante diferente de Hisingen Blues, porém igualmente muito bom, Lights Out comprova a qualidade singular do Graveyard. A banda sueca é um assombro, um gigante que se revela a cada novo passo, conquistando cada vez mais espaço e deixando claro que chegou não apenas para ficar, mas para, sobretudo, fazer história.
Seis anos de carreira, três discos e cada vez mais impressionante: vida longa ao Graveyard!
É difícil ver resenhas tão ricas e bem constrúidas, no Brasil, acerca de grupos fora do mainstream. Graveyard é fenomenal, um som estupendo e matador!
ResponderExcluirNão sei se já escreveu algo do Horizont. Seria legal saber sua visão a respeito da música deles também!