Música
New
Onde está o rock brasileiro? Por onde ele anda? Quem o está produzindo hoje em dia? Quais são as boas bandas que temos no país fazendo rock de qualidade, agora, neste momento? Essa é uma pergunta que pode ter várias respostas. Você pode responder que não há uma cena rockeira atual convincente, mas estará errado. Você pode dizer que o rockBR continua sendo feito pelos mesmos nomes de sempre, aqueles que vieram ao mundo durante as décadas de 1980 e 1990, e não estará errado. As variáveis são muitas, e todas elas passam por uma questão bastante clara: o rock brasileiro atual não chega até os ouvidos de seus consumidores.
Você está louco, dirão os mais apressados. Não, não estou. Se pegarmos a cena rockeira da década de oitenta, por exemplo, observaremos exatamente o oposto do que ocorre agora: a produção das bandas chegava até os ouvintes, as músicas invadiam nossas casas e nossas vidas. O rock tocava no rádio. Na TV. Em todo lugar. Hoje, esse processo não se dá com o rock, mas com outros estilos, como o sertanejo universitário, onipresente em todo o Brasil.
É claro que o rock nunca deixou de ser produzido neste nosso controverso país tropical (e nem será), mas é justo perguntar por onde ele anda, já que, com o seu afastamento do mainstream e das grandes massas, ficou mais difícil para as novas bandas chegarem até um novo público.
Qual foi a última grande banda de rock surgida no Brasil? NX Zero? Não. Cachorro Grande? Ótimos, mas nunca foram um fenômeno de popularidade. Los Hermanos? Foram um fenômeno de público, com seguidores fanáticos, mas não eram necessariamente uma banda de rock. Raimundos? Sim, provavelmente. E quando foi isso? No início da década de 1990. Estamos em 2013. Um longo tempo, não? Por mais que excelentes nomes como Matanza, Vespas Mandarinas e Selvagens à Procura de Lei tenham surgido nos últimos anos, nenhuma destas bandas provocou uma revolução sonora, inverteu as coisas ou conquistou o coração de multidões de fãs.
Hoje, há uma inversão na realidade quando a comparamos aos anos 1980 e 1990. O rock não é mais a música da juventude brasileira. Não, não é mesmo. Não analise isso pensando apenas na realidade das grandes cidades como São Paulo. Olhe de maneira mais abrangente. Olhe o Brasil como um todo. O que os jovens escutam hoje em dia? Outros sons, não o rock. O sertanejo universitário é o atual pop brasileiro. Gusttavo Lima, Luan Santana, Jorge & Mateus, Fernando & Sorocaba e outros ocuparam o lugar que um dia foi de Renato Russo e Cazuza. São esses artistas que possuem identificação com a geração atual, identificação essa que pertencia às bandas de rock há alguns anos atrás.
O riff foi trocado pela onomatopeia. Antigamente, um jovem de 14, 15 anos, compunha riffs imaginários em sua mente, influenciado pelas bandas que ouvia. Hoje, um adolescente de 15 anos imagina onomatopeias, influenciado por nomes como Michel Teló e Gusttavo Lima. Tche-tche-tche-tche-rê-rê-rê-rê ... Houve uma grande queda, não há mais conteúdo (tanto lírico quanto instrumental) na música que é consumida hoje, em grande escala, Brasil afora. É tudo com uma qualidade rasteira, com arranjos simples e melodias derivativas, onde, em alguns casos, até a letra que está sendo cantada se transformou em um acessório de luxo.
Para um país como o nosso, com a tradição musical como o Brasil, reconhecido em todo o mundo como o berço de uma das músicas mais ricas e respeitadas do planeta, berço de gênios como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Gilberto Gil, Jorge Ben e muitos outros, trata-se de uma volta à Idade da Pedra. Regredimos, estamos rastejando, atolados em um cenário que não cheira nada bem.
Em relação ao rock, como já dito antes, ele deixou de ser a trilha da maioria da juventude brasileira, substituído por outros gêneros com maior apelo junto a esse público. Naturalmente, por esse motivo, as vias que a nova produção rockeira, que as novas bandas, tinham para chegar até os ouvintes, diminuíram. De nada adiantam “rádios rock” que tocam as mesmas velhas canções de sempre, revezando-se entre “Smoke on the Water” e “Exagerado”, “Stairway to Heaven” e “Faroeste Caboclo”. De nada servem casas de shows que preferem contratar bandas cover a artistas autorais. Ao andar por qualquer grande ou média cidade brasileira, um desavisado pensará que está em Los Angeles ou Londres devido aos imensos cartazes que anunciam shows de nomes como U2, Guns N´ Roses, Iron Maiden e Rolling Stones – todos eles, claro, com um minúsculo adendo “cover” ao lado.
É claro que eu sei que o rock não morreu em nosso país, e jamais irá morrer. Há ótimas bandas em todos os cantos. Carro Bomba, Tomada, Baranga, Cachorro Grande, O Terno ... A lista é grande. Porém, as músicas dessas bandas precisam chegar não apenas até os meus ouvidos, mas aos ouvidos de uma parcela muito – muito, mas muito mesmo – maior de pessoas. A utopia é que uma composição do Tomada tenha a mesma popularidade do sucesso atual de Michel Teló – algo que, na realidade atual, é impossível de acontecer.
Mais espaço nas rádios, mais espaço nos palcos, mais espaço na imprensa, mais espaço em todos os lugares: é isso que o rock brasileiro de qualidade, bom de verdade, precisa. Se isso não acontecer, ele seguirá sendo, cada vez mais, um gênero relegado a um nicho específico, algo que está longe da tradição do estilo em nosso país.
O riff e a onomatopeia
Reviewed by
Ricardo Seelig
on
17:12
Rating:
5
A única banda de rock brasileira que eu escuto é The Moondogs.
ResponderExcluirPerfeita sua análise Cadão...
ResponderExcluirOuço muito Matanza dessa nova geração e indico a rapaziada daqui do meu RJ, ASTRO VENGA....
Infelizmente, é o que ocorre como vc diz ainda...
Perfeita sua análise Cadão...
ResponderExcluirOuço muito Matanza dessa nova geração e indico a rapaziada daqui do meu RJ, ASTRO VENGA....
Infelizmente, é o que ocorre como vc diz ainda...