Uma mudança de vocalista pode mudar a história de uma banda. Pode puxá-la para cima e colocá-la em outro patamar, que foi o que ocorreu com o Deep Purple quando escolheu Ian Gillan para o posto de Rod Evans e com o Iron Maiden quando colocou Bruce Dickinson no lugar de Paul Di’Anno. Pode arruinar e jogar no lixo uma trajetória construída durante anos, comprometendo o futuro do grupo, como aconteceu com o mesmo Iron Maiden ao substituir Dickinson por Blaze Bayley ou com o Nightwish ao trocar Tarja Turunen por Anette Olzon. Ou pode alterar totalmente a identidade sonora do artista e fazê-lo ressurgir através da exploração de outros caminhos, como ocorreu com o Black Sabbath com a adição de Ronnie James Dio no lugar de Ozzy Osbourne e, mais recentemente, com o próprio Nightwish com a adição de Floor Jansen.
O caso do Kamelot, no entanto, é um pouco diferente das situações citadas no parágrafo anterior. A banda norte-americana galgou diversos degraus na hierarquia do heavy metal e conquistou o coração de uma quantidade significativa de fãs a partir da troca de seu vocalista original, Mark Vanderbilt, substituído pelo excepcional cantor norueguês Roy Khan. Com ele, gravou discos excepcionais como The Black Halo (2005) e Ghost Opera (2007), consolidando-se como uma das novas forças do power metal. No entanto, Khan decidiu deixar a banda em 2011, após a turnê do álbum Poetry for the Poisoned. E então, o futuro do grupo liderado pelo guitarrista Thomas Youngblood entrou em xeque.
No entanto, Thomas e sua turma souberam lidar com a situação como poucos. Em um processo relativamente ágil, rapidamente anunciaram um substituto para Roy Khan: o sueco Tommy Kaverik. E aqui entra um fator interessante: tanto visualmente quanto em relação ao seu timbre, Kaverik é bastante parecido com Khan. Uma espécie de clone escolhido a dedo, de maneira aparentemente consciente, e que é um dos responsáveis por fazer o Kamelot não perder o foco e manter a sua trajetória ascendente.
A estreia da nova formação aconteceu em 2012 com o lançamento de Silverthorn, disco que mostrou que a banda tinha total capacidade de seguir em frente com o mesmo nível de qualidade anterior. E essa certeza se consolida com Haven, décimo-primeiro álbum de estúdio do grupo, lançado no início de maio. Novamente produzido por Sasha Peth, colaborador de longa data dos norte-americanos e responsável pela produção de vários discos do grupo, incluindo o já clássico The Black Halo, Haven mostra o Kamelot seguindo com a sua evolução. Ao longo dos anos, o quinteto foi diminuindo o foco na velocidade e nas melodias, dois dos elementos essenciais do power metal, ao mesmo tempo em que adicionou características góticas somadas a arranjos criativos e mudanças de andamento em suas composições, construindo uma identidade própria e original. Essa postura se mantém em Haven, e segue sendo um dos diferenciais do metal moderno e atual do Kamelot.
O disco traz treze faixas e as participações especiais de Charlotte Wessels (vocalista do Delain), Troy Donockley (flautista e multi-instrumentista a serviço do Nightwish) e Alissa White-Gluz (vocalista do Arch Enemy). Uma tradição em se tratando do Kamelot, a adição de músicos convidados agrega qualidade ao trabalho, possibilitando a exploração de aspectos únicos. É o caso de “Under Grey Skies”, balada com acento étnico e que traz Wessels e Donockley dividindo os holofotes com a banda. Mas é a presença de Alissa que traz um impacto maior, com a moça colocando o seu timbre gutural e agressivo em “Liar Liar (Wasteland Monarchy)” e em “Revolution”, em contraste com a voz bela e cristalina de Kaverik.
O Kamelot, mais uma vez, tira o foco da velocidade pura e simples e foca seus esforços na construção de canções repletas de nuances e momentos distintos, o que dá uma dinâmica bastante variada para o álbum. Mantendo suas características principais e sabendo evoluir sem chocar os fãs, os norte-americanos mostram mais uma vez o porque de serem um ponto fora da curva no cenário do heavy metal.
Superior a Silverthorn, Haven reafirma a força deste novo capítulo na história do Kamelot, que se mantém criativo e soa renovado e cheio de energia em seu novo disco. Que siga assim pelos próximos anos!
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