Um Disco por Dia
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Parece improvável, e realmente é. Explico: você coloca Hutspot, disco de estreia dos holandeses do Lefties Soul Connection para rolar, e o que sai dos alto-falantes é um delicioso e contagiante funk/soul setentista, influenciado por nomes do porte de The Meters e Booker T. & The MGs.
Improvável por duas razões: primeiro por a banda ser, como eu já disse, natural da Holanda, e executar com competência ímpar um gênero musical nascido das dores, frustrações e sonhos da população negra norte-americana. E segundo porque, ao contrário do que tudo indica, o primeiro disco dos caras não foi lançado na primeira metade da década de 1970 e ficou escondido anos a fio em sebos e no submundo dos colecionadores - pelo contrário, o CD é de 2006!
Vamos lá então: o Lefties Soul Connection foi formado em Amsterdam, capital holandesa, em agosto de 2001 pelo guitarrista Onno Smit e pelo organista Alviz (assim mesmo, sem sobrenome algum). No final daquele ano o batera Cody Vogel juntou-se à dupla, e o line-up foi completado em meados de 2002, quando o baixista Bram Brosman completou o quarteto (esse último deixou o combo em 2008, sendo substituído por Pieter Bakker).
A banda ganhou destaque na mídia dos Países Baixos através da ótima repercussão alcançada pela versão que fizeram de "Organ Donor", do DJ Shadow. O single chamou a atenção da Excelsior, que assinou com os caras, colocando o primeiro play do grupo na praça.
O som, como eu já disse, é um funkão de remexer o esqueleto, repleto de groove e com elementos de soul music, principalmente devido à onipresente e muito bem-vinda influência de Booker T. O disco é totalmente instrumental, com exceção de uma faixa, "It´s Your Thing / Hey Pocky A-Way", que conta com vocais - não por acaso, a "menos boa" do CD. As outras composições levam o ouvinte em um embalo constante, sempre com o órgão Hammond de Alviz à frente.
Momentos empolgantes são garantidos através de pérolas como "Doin´ the Thing", que abre o play com um quebradeira danada; "V2", que nos transporta sem cerimônia para meados dos anos 1960; a já citada versão de "Organ Donor", onde o grupo desconstrói a composição do DJ Shadow, com destaque para a guitarra de Onno Smit; o groove cheio de malícia de "Generator Oil"; e a energia bruta da faixa-título. A bem da verdade, todas as composições apresentam um nível bastante elevado, e essas citadas são apenas as minhas favoritas.
Depois de Hutspot o Lefties Soul Connection lançou mais dois discos - Skimming the Skum em 2007 e One Punch Pete em 2011 -, e desde então está na estrada, fazendo frequentes turnês pela Europa.
Se você gosta de The Meters, Booker T & The MGs, Kashmere Stage Band e toda aquela cena funk/soul norte-americana do final dos anos 1960 e início dos 1970, vai pirar com esse primeiro disco do Lefties Soul Connection. Uma grata surpresa, que irá descer redondo pelos ouvidos, cabeças e pés de todo e qualquer amante da boa música.
Enfim, extremamente recomendável!
Todos os dias, um review de um título da minha coleção. Pra tirar os móveis da sala e ouvir remexendo o esqueleto.
Um disco por dia: Lefties Soul Connection - Hutspot (2006)
Reviewed by
Ricardo Seelig
on
21:15
Rating:
5
Ricardo, muito obrigado pela dica. O Lefties Soul Connection e o Baby Huey foram as duas dicas mais preciosas que você nos deu. Valeu!
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