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O Ghost abriu esta década como um sopro de renovação no heavy metal. Em um cenário dominado por zilhões de bandas idênticas, cada uma querendo soar mais rápida, extrema e agressiva que a outra (e, por isso mesmo, soando todas iguais e inócuas), os suecos foram buscar no passado a inspiração e as referências que trouxeram um ar refrescante para o seu disco de estreia.
Lançado em 2010, Opus Eponymous é um grande disco. Suas faixas, sempre com melodias fortes e linhas vocais inspiradas, bebem direto nos ensinamentos dos antigos ícones do rock, e o resultado é um álbum viciante. Infestissumam (2013) deu um passo além em relação à estreia e também é um grande álbum. Seguros com a ótima recepção ao debut, o sexteto mascarado experimentou sem medo, gravando um disco repleto de momentos surpreendentes como “Secular Haze”, “Ghuleh / Zombie Queen”, “Year Zero” e “Monstrance Clock”.
Tudo isso coloca uma dúvida em relação à Meliora, terceiro registro do Ghost, que acaba de chegar às lojas. A expectativa em torno da banda, turbinada pelos elogios vindos de músicos do quilate de James Hetfield e Dave Grohl (que inclusive chegou a tocar com os suecos), como sempre plana nas alturas. Por isso, a curiosidade em ouvir o disco e checar, de uma vez por todas, o que Papa Emeritus e sua turma nos entregaram dessa vez, pode prejudicar a avaliação do trabalho. Digo isso porque, na primeira audição, achei Meliora fraco, bem mais do mesmo. No entanto, desacelerei a ansiedade e escutei o álbum com mais calma, dando espaço para a música invadir meu ambiente. E então, tudo passou a fazer muito mais sentido.
Não há nenhum rompimento drástico em relação aos dois álbuns anteriores. A banda soube equilibrar elementos de Opus Eponymous sem abrir mão dos experimentalismos de Infestissumam, e isso, por si só, é uma excelente notícia. Há canções que retomam a aura de “Ritual" e “Elizabeth”, as duas principais faixas da estreia, como é o caso de “Spirit" e da ótima “From the Pinnacle to the Pit”. O grupo equilibra o peso do metal e a acessibilidade do AOR na dobradinha “Mummy Dust” e “Majesty”, essa segunda com um teclado que soa como uma homenagem ao grande Jon Lord.
Mas o mais importante é que as características que fizeram Infestissumam alcançar o status de grande álbum foram preservadas e aprimoradas pelos suecos. O experimentalismo, a ousadia e o desejo de levar a música para novos caminhos - sejam eles do agrado dos fãs ou não - seguem intactos em diversos momentos. “Cirice" é uma aula de melodia e dramatização. “He Is” derrama belíssimas melodias e linhas vocais, colocando um sorriso imediato no rosto.
A dicotomia que embala em uma mesma canção a agressividade do metal com a acessibilidade do pop segue sendo o principal ingrediente do Ghost. Estão aqui os riffs bem feitos, os andamentos cheios de ritmo, sempre acompanhados por melodias quase celestiais, na melhor escola dos Beach Boys de Brian Wilson, por mais estranha que essa afirmação possa parecer. Todas as faixas contém espaços para cada um dos instrumentos assumirem o protagonismo, fazendo com que os arranjos respirem, alternando climas e momentos distintos.
Meliora é mais um acerto do Ghost. Os suecos demonstram outra vez a capacidade que possuem, evoluindo sua música e caminhando a passos largos para um mundo apenas seu. A banda tem personalidade e ousadia, algo raro na música atual. Que sigam assim.
Ghost - Meliora (2015)
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Ricardo Seelig
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11:38
Rating:
5
Ouvi o disco já algumas vezes e, apesar de algns momentos brilhantes (como "Spirit", "He is","Deus in Absentia" e os dois interlúdios instrumentais), considero um trabalho menos inspirado que Infestissumam. De fato, a ausência de "From the Pinnacle..." e "Majesty" fariam de Meliora um excelente EP, pela duração. Essas duas faixas são, para mim, composições irregulares que alternam bons momentos com passagens comuns, repetitivas até. Enquanto o refrão de "From the Pinnacle..." é maravilhoso, a estrutura de toda a canção é monótona, sendo, para mim, um balde de água morna depois da ótima "Spirit". "Majesty", por sua vez,começa muito bem, com a pegada "Lord/ Blackmore adorando o Cramunhão", mas o refrão quebra o clima e pende para um "progressivismo" que não me parece bem inserido na canção. Especificamente, essas duas canções são, para mim, o principal ponto fraco de Meliora. No geral, porém, senti falta de uma atmosfera satânica (não vem ao caso se é pseudo ou não, mas é um elemento preponderante da banda ) que foi bem mais predominante nos dois primeiros. E aí é o caso de lembrar "Year Zero" ou "Monstrance Clock".
ResponderExcluirCertamente terei menos expectativa da próxima vez, mas secretamente fico no aguardo de um disco que seja mais ousado e tenebroso que Meliora, independentemente de ser mais orientado por guitarras ou não. Confesso que seria curioso ver a banda experimentar com sonoridades eletrônicas e/ ou orquestrais...
Oi Ricardo. Teve alguma faixa do álbum que você achou ruim ou irregular? Eu particularmente gostei do álbum inteiro ( tirando "Deus in Absentia", que não gostei muito). Abç
ResponderExcluirNão gostei de "Spirit", Stefano.
ResponderExcluirNão curto Ghost, acho um som bem superestimado, mas fiquei curioso mais uma vez em torno de um lançamento deles e dessa vez não me arrependi em nada de ter ouvido Meliora.
ResponderExcluirComo "não-fã" do som da banda, acho que realmente o que atrapalha a ouvida desse disco é a expectativa que o fã cria em torno do som - concordo com a resenha.
Por enquanto, só toca Meliora na minha playlist. Até agora, acho o lançamento do ano.
Concordei bastante com a resenha.
ResponderExcluirSou fascinado pelos álbuns anteriores do Ghost, incluindo aí o If you have ghosts, e tb fui com muita sede ao pote.
Agora, depois de ter ouvido bastante ao cd, acho um ótimo álbum, porem longe do impacto dos anteriores. O primeiro me conquistou pela proposta retrô e atmosfera, o segundo pelo experimentalismo e por não ter seguido a fórmula do anterior.
O Meliora não teve o carisma do primeiro e nem a coragem do segundo cd, ficou no meio, oq o deixou meio sem personalidade e dá essa sensação de mais do mesmo.
Não achei nenhuma faixa ruim porém, fora a "From the pinacle..." e "Deus in Abscentia" nenhuma explodiu minha cabeça. Faltaram mais hits, eu diria.
Tb concordo com um comentário anterior que faltou uma atmosfera mais "satanica" ao cd.
Enquanto para todos os outros eu daria nota 10, para este dou nota 8.
Sobre a Spirit, acho q oq tira um pouco o barato dela é q depois de uma super introdução, o Papa começa cantando de um jeito meio "desanimado" que corta todo o barato criado pela espctativa. Sei lá, se ela fosse num tom mais alto acho que seria bem mais legal.